Capítulo 05

O Príncipe Adormecido

— Para com isso, Isadora, os outros turistas estão te olhando. Querida, menos. Você precisa parar de ser deslumbrada, ah Isa disfarça, menina.

— Dinda, mas isso aqui é um sonho!

Simone sorriu, mas seus olhos estavam ansiosos. Sabia que a hora da verdade estava se aproximando.

Com o fim dos passeios emocionantes pela Dubai dos ricos e poderosos, voltaram para o apartamento que Simone ocupava com outra enfermeira. O local era bem confortável, e sua sobrinha achava um luxo.

— Vai, Isa, tome um banho bem demorado e se arrume bem linda, enquanto eu peço o jantar. Realmente precisamos aproveitar ao máximo esse cartão. — mostrou e balançou o pequeno pedaço de plástico preto tão valioso.

Nas nuvens após o banho, Isadora voltou do quarto e ficou paralisada ao ver a surpresa. 

Sobre a varanda iluminada com luzes suaves, uma mesa estava delicadamente posta: pratos de porcelana branca com detalhes dourados, hashis personalizados, pequenas bandejas com sushis, sashimis, hot rolls e guiozas, tudo impecável. Ao centro, um bolo lindo em tons de lilás com dourado, cercado por balões flutuantes nas mesmas cores. Docinhos delicados completavam o cenário.

— Dinda... — murmurou Isadora, com os olhos marejados.

— Feliz aniversário, meu amor! — disse Simone, sorrindo.

Sentaram-se juntas, brindaram com suco de lichia e riram entre um temaki e outro. Simone tirou várias fotos com o celular.

— Agora é hora de ligar pra sua mãe. Sinara vai adorar. — disse ela, iniciando a chamada de vídeo.

Na tela surgiram Sinara, os avós: Pedro e Clara, todos sorrindo.

— Parabéns, Isa! — gritaram todos juntos.

— Olha o bolo que a Dinda comprou para mim! De pasta americana, naquela loja famosa do Cake Boss, americano! — disse Isadora, mostrando o bolo com orgulho.

O bolo todo lilás, com uma linda coroa comestível em cima, dourada. Simone já tinha encomendado bem antes.

— Que coisa linda! — elogiou Clara.

— Simone, você se superou! — completou sua irmã Sinara, emocionada.

— Mas Isa merece, ela é uma princesa. Agora vamos cantar parabéns? — sugeriu Simone.

Todos começaram, animados:

“Parabéns pra você...”

Isadora sorria com as mãos no rosto, emocionada. Ao final, Simone disse:

— Isa, agora sopre as velinhas... mas antes, faça um pedido. E não conte. Esse desejo deve ser só seu.

— Ok, Dinda.

Isadora fechou os olhos por alguns segundos, em silêncio. Então se inclinou e soprou as velas.

— Ebaaa! — todos comemoraram na tela.

— Obrigada, Dinda. Foi o melhor aniversário da minha vida, e eu nem acredito que estou aqui em Dubai!

Simone a abraçou com carinho.

— Você merece tudo, minha querida.

Com certeza, Isadora, mesmo longe da mãe e dos avós, nunca ficou tão feliz. E ao se despedir, fechando a chamada de vídeo, chorou emocionada. Como se previsse o que viria a seguir.

— Que foi? Ei, Isa, amor, não chora. Você não queria estar aqui? E conseguiu!

— Sim, madrinha, mas é que tudo até agora foi demais, e parece que não é real.

— Entendo, querida. Mas pode ser ainda melhor, basta você me ouvir e não se alarmar com o que eu preciso te contar. Vamos, amor  entrar e sentar no sofá da sala.

A conversa que Isadora não esperava finalmente começou. Assim elas sentaram juntas no sofá de couro bege.

— Isa, agora eu preciso te contar a verdade de como conseguir tudo isso que você viveu até aqui. Você merece saber. — Simone suspirou. — E espero que me perdoe.

— Hum... Mas sobre o que a senhora, madrinha, está falando? — limpou as últimas lágrimas com as costas das mãos.

— Só me ouça. Amor, por favor.

— Tá. Eu tô ouvindo. Estou pronta.

— Então, Isa. A princesa. O palácio. Eles sabem coisas sobre mim. Eles têm poder, Isadora. Eu, sem querer, fiz uma loucura, mas você vai entender. E vai ver que isso tudo pode ser algo incrível para você.

— Algo incrível? — ela se levantou do sofá andando, mas parou. — Tia, a senhora está me assustando, pelo amor de Deus! O que a senhora fez?

Simone andou até ela, a puxou para o sofá e, após ambas se sentarem de novo, ela se virou, segurando o rosto da afilhada.

— Eu só fiz tudo para realizar seus sonhos, Isa. Eu sei que quando você souber tudo, pode não parecer. Mas no futuro, você verá que essa foi sua grande chance. E vai ver que, como sua madrinha, eu fiz tudo para o seu bem.

— Chega, tia Simone! Fala logo, porque estou enlouquecendo já, com tantos pensamentos na minha cabeça querendo adivinhar seus jogos de palavras!

— Tudo bem, então escute, eu vou explicar: eles precisam de você... para um plano maior. Um plano que pode mudar tudo. Ajudar a  aumentar a linhagem real. Você vai gerar um herdeiro para a princesa!

Isadora recuou, trêmula.

— O quê? Minha nossa... Isso é uma loucura! Eu vim aqui pra passear, tia. E depois buscar um trabalho honesto. Esse era meu sonho, sim, mas eu nunca concordaria em vir sabendo disso...

Sem forças para discutir, Isadora caiu em um choro angustiado. Sentia o mundo girar. 

Cada edifício imenso que passou, cada ponto turístico lindo e luxuoso, o passeio de helicóptero, e os mares artificiais... parecia zombar de sua ingenuidade agora. Com a verdade cruel na sua frente. Ela foi vendida para ser barriga de aluguel de um bebê real.

Seus olhos estavam muito vermelhos pelo que tinha acabado de saber. A verdade do seu conto de fadas em Dubai, a mudou completamente. E, por mais que quisesse negar, no fundo, algo naquela mulher que antes ela amava fez ela sentir uma raiva quase assassina. Agora ela entendeu tudo que aconteceu naquele palácio... e, principalmente, na forma como a princesa a encarou, como se ela fosse uma mercadoria.

Simone pensou no que poderia fazer para tirar Isadora daquele momento infeliz e justificar o injustificável, e então teve a ideia de fazer o que era proibido. Porque ninguém poderia saber que o bebê seria do Rafique. Mas, desesperada para fazer Isa aceitar logo o papel dela naquela loucura que ela armara, sem prever que colocaria a própria vida em risco, ela tentou.

— Isa, querida, me perdoe. Não chora. Olha, amor, nada acontece sem permissão divina, e talvez o destino já estivesse escrito que seria assim. Eu nunca contei, mas trabalho cuidando de um paciente muito diferente dos outros. Ele é um jovem príncipe que, numa estupidez de uma corrida de motos velozes, uma espécie de racha, no Brasil, sofreu um grave acidente. E ele vive em estado de coma.

Em seguida, puxou uma foto impressa do bolso da bolsa e colocou na frente da afilhada.

Isadora olhou, mesmo sem querer. Era um homem lindíssimo, de terno branco, com olhar penetrante e sorriso perigoso.

 Autora: Graciliane Guimarães