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Sonho consciente

Dias se passaram e Hannah ainda tentava entender aquele sentimento estranho que estava crescendo dentro dela. Era uma mistura de ansiedade, curiosidade e... desejo? O fato é que ela vinha evitando a casa de Ana — e principalmente Guilherme — como se isso a livrasse do que sentia. Mas o silêncio estava ficando alto demais.

Hannah: (mensagem) Oi Ana, vem pra cá hoje? Vamos pro lago.

Ana: (mensagem) Oi, hoje não dá. Tenho que ir à cidade resolver umas coisas da faculdade. Amanhã pode ser?

Hannah: (mensagem) Sem problemas. Tem como fazer um favor pra mim?

Ana: (mensagem) Manda.

Hannah hesitou. Em vez de digitar, resolveu ligar.

— Oi, é só pra saber quando vão abrir as inscrições pro próximo semestre… tô pensando em fazer a prova — disse meio rápido, como quem tenta disfarçar o nervosismo.

Do outro lado, Ana quase gritou:

— Isso é ótimo! Perfeito! (risos) Ai, não vou mais me sentir sozinha lá!

Hannah soltou uma risada tímida com a empolgação da amiga. Sentiu-se bem, pela primeira vez em dias.

— Agora deixa eu ir, senão fico tarde demais. Não quero voltar amanhã. Beijinhos! Assim que tiver a resposta, te aviso.

— Cuidado na estrada. Até amanhã.

Desligou e ficou olhando o celular por alguns segundos. O dia estava lindo demais pra ser desperdiçado. “Vou ao lago sozinha mesmo”, decidiu.

O caminho até lá parecia mais curto do que o normal. O ar fresco, o som da água e o farfalhar das árvores a envolveram. Ela se sentou à beira do lago e deixou que os pensamentos viessem, sem filtro. Mas logo, uma voz conhecida a arrancou do transe.

— O que faz aqui sozinha? Perdeu o medo dos sapos?

Ela virou o rosto e lá estava ele. Guilherme. Com um sorriso debochado e uma camisa colada ao corpo suado, cabelo caindo nos olhos e o mesmo olhar curioso de sempre.

— Engraçadinho. Você jogava os bichos na gente! Não era medo, era nojo — respondeu tentando manter o tom leve. — Mas… depois de tudo o que passamos, acho que até sapos têm seu valor.

Ela deu um suspiro longo e olhou o lago.

— Por exemplo, podem ser ótimos aliados na lavoura. Comem insetos e evitam pragas.

— Uau… — ele disse, impressionado. — Você realmente prestava atenção nas aulas.

Ela sorriu. Um daqueles sorrisos que escapam sem pedir permissão.

— Mas mudando de assunto… — ele continuou — minha irmã tá toda feliz porque você falou que vai tentar entrar na faculdade. É verdade?

Hannah ficou sem jeito. Mexeu nos cabelos, desviou os olhos.

— É… tô pensando nisso. Ainda não sei o que fazer, mas acho que tenho tempo até lá pra decidir. Por enquanto, quero saber se passo. Depois vejo o resto.

Guilherme assentiu, observando cada detalhe do rosto dela. Hannah sentiu o olhar, e seu corpo reagiu antes da mente: um leve arrepio, um calor no peito.

— Mas e você? Continua assustando meninas inocentes?

Ele fingiu indignação.

— Eu nunca fiz isso!

Ela riu e se levantou, limpando a roupa com as mãos.

— Tá ficando tarde. Melhor eu ir pra casa antes que escureça. Não tenho ninguém pra me proteger dos sapos — disse entre risos.

Guilherme ficou sem reação. Apenas a observou com aquele olhar intenso, como se tentasse decifrar um enigma.

— Tô brincando! — ela completou. — Mas é sério, preciso ir. Ah, soube que virou pintor. O que você gosta de pintar ou esculpir?

Ele sorriu, mas antes que pudesse responder, ela continuou:

— Sabe de uma? Em vez de você dizer "qualquer dia desses", eu mesma apareço pra ver. Mas não conta pra ninguém.

— Por quê? — perguntou ele, os olhos brilhando com uma intensidade diferente.

Ela parou por um segundo. O vento soprou leve entre eles.

— Um dia você vai saber.

Virou-se e começou a andar. Mas dentro dela, o coração batia mais forte do que gostaria de admitir.

"Meu Deus… como pude ser tão atirada assim? Será que fui? Será que ele percebeu? Ou será que eu forcei alguma aproximação? Argh… esquece. Ele nem acreditou que eu vou tentar a faculdade mesmo."

Os pensamentos a seguiram até em casa. Durante o jantar, ela ainda sentia o corpo vibrando com aquele momento. Quando finalmente se jogou na cama, o celular apitou.

Ana: Oi, cheguei em casa agora.

Hannah: Nossa, tão tarde!

Ana: O mala do meu irmão não quis me levar. Disse que tinha um quadro urgente pra terminar.

Hannah: Entendi.

"Quadro urgente? Então por que ele estava no lago? Será que foi buscar inspiração? Ai, Hannah, para de pensar besteira!"

Hannah: E sobre as matrículas?

Ana: O coordenador pediu que você mande um e-mail, e eles te explicam direitinho.

Ana: Amanhã vem pra cá que eu te mostro como foi quando eu fiz. Agora vou dormir. Tô morta. Zzzzz

Hannah: Boa noite. Passo aí pela tarde. Tenho umas coisas pra organizar antes ;p

Ana: Aproveita e dorme aqui…

Hannah: Vou falar com minha mãe.

Ana: Ok. Até amanhã!

Hannah encarou o teto do quarto. Estava mesmo pronta pra dormir lá? Compartilhar o mesmo teto com ele? Ela não sabia.

Fechou os olhos e tentou desligar. Mas Guilherme estava lá, na sua mente, ocupando espaços que ela não sabia que existiam. E então, o sono veio.

Nota da autora:

Escrever esse capítulo foi como observar dois rios se encontrando: calmos, incertos, mas inevitáveis. Hannah e Guilherme têm algo entre eles que nem eles entendem — mas que a gente adora observar, né?

Entre olhares, silêncios e um sonho que (ufa!) acordou no tempo certo, seguimos nessa dança entre realidade e desejo.

Obrigada por estar comigo nessa história. Me conta se você também ficou com um sorriso bobo no final (ou se foi só a Hannah mesmo).

Com carinho,

Yumi

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