Às vezes, voltar é mais difícil do que partir. Após anos longe de sua terra natal, Hannah retorna à pequena Serra Clara, uma cidade cercada por montanhas e campos floridos, para reencontrar suas raízes e cuidar do avô doente. Fugir foi a única saída que sua mãe encontrou anos atrás, quando o padrasto abusivo ameaçou destruir o que restava da família. Agora, com ele fora de cena, Hannah reencontra sua melhor amiga de infância - e o irmão dela, que costumava implicar com elas quando eram crianças e foi criado como se fosse seu primo. Mas o tempo mudou todos eles. No meio das flores da Fazenda Marindá e dos mistérios que voltam à tona, Hannah se vê envolvida em sentimentos contraditórios: uma relação intensa e mal resolvida com um pintor marcado pelo passado, e um romance público e acolhedor com o melhor amigo dele. Em meio a descobertas, reaproximações e o início da faculdade em Brisamar, ela precisa lidar com ex-namoradas que reaparecem, revelações surpreendentes e decisões que podem mudar tudo. Entre o amor, a culpa e os segredos, Hannah precisa descobrir quem realmente é - e qual caminho deseja seguir.
Ler maisGuto ficou um pouco desconfiado com o comportamento estranho de Hannah e Guilherme naquela noite.— Que bom que chegaram, já estávamos começando a ficar preocupados com a demora — disse Hannah, tentando soar casual.— Não se preocupe tanto, minha linda — Guto se aproximou, passando a mão carinhosamente pelos cabelos dela. — O lugar estava bem cheio hoje. — Ele olhou ao redor, estranhando o ambiente — Normalmente aqui é uma bagunça, mas hoje está bem arrumadinho, viu…— Foi ela quem arrumou — Guilherme respondeu, jogando-se no sofá. — Meu negócio é só bagunçar mesmo. Hahaha.— Minha mãe que o diga &mdash
O susto que Hannah levou ao ser acordada por Ana deixou-a completamente perdida. Seu sonho estava exatamente na melhor parte quando foi arrancada dali sem piedade.— Só hoje… me deixa dormir mais um pouquinho. — resmungou, com a voz manhosa, tentando se enfiar novamente debaixo das cobertas.— Nada disso! Vamos lá pra casa! Se apronte logo, traga uma muda de roupa. Nando já ligou e organizou tudo. — Ana pegou a bolsa jogada na cadeira e lançou um olhar travesso para Hannah, que voltava a cochilar.— Acorda, mulher! — sacudiu a amiga com energia.— Deixa eu só terminar meu sonho, vai…— Que sonho é esse que você tá tão empenhada em continuar? — Ana perguntou com um tom malicioso.— Eu estava fazendo a prova… e ia receber o resultado. — respondeu sem graça, desviando o olhar.— Uhn, sei… — fingiu acreditar, rindo. — Já falei com a tia. Ela e o vô vão precisar ir a Brisamar hoje, então você pode dormir lá em casa, se quiser. — e completou, sussurrando — Mas se quiser dormir com alguém… n
Quando a liberdade custa uma vida inteiraQuando Josy soube da notícia sobre seu pai, o chão sumiu. Seu coração gritou. Sua cabeça só pensava em voltar. Voltar e cuidar. Voltar e consertar tudo. Mas Cristóvão e Mara a impediram.— É isso que ele quer, Josy. É assim que ele vai encontrar você. — Mas e meu pai?! — ela chorou. — Luna está cuidando dele. E os policiais… enfim acreditaram nela. Estão atrás de Cláudio. Logo isso vai acabar.Essas palavras trouxeram alívio. Tudo parecia, enfim, começar a dar certo. Hannah numa nova escola, Josy vendendo bolos para sobreviver, se reconstruindo, mesmo que com medo. Mas mesmo com o sol batendo forte, Josy sentia um frio estranho, como um aviso sussurrando que algo se aproximava.E chegou. Hannah saía da escola quando viu. Ele. O homem dos pesadelos. Ela tentou gritar, mas não conseguiu. Um carro passou e, como um vulto, ele desapareceu. Mas ela sabia. Era ele.Chegou em casa chorando. — O que foi, menina? — Dona Mara perguntou, afl
Quando fugir se torna a única saídaJosy nunca pensou que o corpo pudesse falar tanto sem abrir a boca. Cada hematoma carregava uma história que ela nunca contou. Mas, quando veio a notícia da doença do pai, ela acreditou que, de alguma forma, tudo era sua culpa. Seu Alberto estava fraco. A saúde debilitada. O susto ao ver a filha e a neta naquele estado pareceu levar com ele toda a energia que ainda restava.— É tudo culpa minha. — Josy sussurrava para si mesma nas noites em que as dores físicas e a culpa dividiam espaço no mesmo peito.Hannah, agora com oito anos, quase não tinha mais brilho nos olhos. Luna percebeu isso antes de qualquer um. Por isso, quando Josy, com o coração quebrado, pediu que ela cuidasse da filha por uns dias, Luna aceitou sem pensar duas vezes.E ali, pela primeira vez em muito tempo, Hannah respirou. Não era felicidade. Ainda não. Mas era o começo de algo parecido com paz.Guilherme fazia piadas bobas tentando arrancar dela um sorriso. Jogava bola, of
Quando o medo ganhou vozNão foi de um dia para o outro. Não foi como um trovão, mas como uma chuva fina que, gota a gota, foi afogando Josy até ela não conseguir mais respirar.Depois daquele primeiro tapa, vieram outros. E com eles, vieram noites em que ela chorava silenciosa enquanto Hannah, com apenas sete anos, se encolhia no quarto ao lado, ouvindo a porta trancada, ouvindo as palavras sujas, ouvindo tudo o que não entendia e ainda assim já sabia que era errado. Era um medo que tomava conta da casa, que se espalhava pelas paredes, pelos lençóis, pelas mãos trêmulas que não podiam impedir mais nada.Um dia, tudo ultrapassou o limite. Hannah tinha ficado um pouco mais tarde na casa da Luna, e Josy foi buscá-la sem imaginar o inferno que a esperava ao voltar. Cláudio tinha saído mais cedo da delegacia, encontrou a casa sem o jantar pronto, encontrou ausência e encontrou uma desculpa para explodir.— Tudo que dá errado nessa casa é por causa dessa menina! — gritou, enquanto segu
Quando tudo parecia amorJosy conheceu Cláudio num dia comum, desses em que a rotina não promete surpresas. Ele entrou na floricultura com a postura abatida de quem carregava o peso do mundo nas costas. Disse que precisava de flores para o velório de um amigo policial. Camélias brancas, margaridas, crisântemos — nada muito alegre, mas também nada triste demais. Josy, como sempre, atendeu com aquele sorriso doce que usava para esconder a própria tristeza.Cláudio agradeceu, pagou, e antes de sair comentou:— Seu trabalho é bonito. Flores sempre deixam tudo mais leve, mesmo quando o momento é pesado.Nos dias seguintes, ele apareceu mais vezes. Às vezes dizia que era só para comprar uma flor pra perfumar a casa de um solteiro, outras, que precisava de um arranjo para a mesa da delegacia. Josy foi notando como aquele homem sério e aparentemente duro tinha um jeito gentil. O tipo de homem que abria a porta, que agradecia olhando nos olhos, que perguntava se ela tinha almoçado. Um homem que
Último capítulo