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E agora Jose? Ops, Hannah!

Hannah acordou com o coração ainda acelerado. O sonho — ou melhor, aquele sonho — tinha mexido com ela de um jeito difícil de explicar. Quando fechava os olhos, sentia as mãos de Guilherme sobre seu corpo, lembrava do calor, do toque, do arrepio que atravessava sua espinha.

Virou de lado, depois de barriga pra cima, depois enfiou o rosto no travesseiro. Tentou de tudo. Mas dormir de novo... impossível.

O cheiro de café passado invadiu o quarto devagar, como um convite para tentar começar o dia. Ela levantou, arrastando os pés até a cozinha. Dona Nalva estava de costas, mexendo algo na frigideira.

— Bom dia, minha filha — disse a senhora com um sorriso cansado. — Dormiu bem?

— Dormir? — Hannah forçou um sorriso e bocejou. — Foi pouca noite pra muito sono.

Dona Nalva virou-se, observando o rosto da menina. As olheiras saltavam como pequenas sombras embaixo dos olhos.

— Você tá com cara de quem sonhou com um cavalo correndo desgovernado. Que foi isso?

Antes que pudesse responder, Josy chegou na cozinha com um susto.

— Minha filha, que cara é essa?

Hannah riu, se servindo de uma xícara generosa de café.

— Nada, mãe. Só insônia mesmo.

Sentou-se à mesa, soprou a bebida quente e tomou um gole.

— Ana me chamou pra dormir lá hoje, mas acho que vou só passar a tarde. Quero retomar meus estudos. Tô pensando em fazer o exame de seleção pro próximo semestre da faculdade.

Josy se sentou devagar, como quem ponderava palavras antes de falar.

— Filha, tenho algo sério pra conversar com você — disse, cruzando os dedos sobre a mesa. — Percebi que, desde que voltamos, você continua... com muito cuidado com tudo. Ir pra casa da Ana, conversar até tarde, sair... Parece que tá sempre com medo.

Hannah abaixou os olhos. Doía, porque era verdade.

— Nós estamos realmente livres dele agora — continuou Josy, com voz firme. — Eu sei que demora, eu também não me acostumei. Às vezes ainda penso que, se a gente sorrir demais, se mostrar demais... ele pode aparecer de novo, destruir tudo de novo. Mas já passou.

— Eu sei, mãe — respondeu Hannah com um suspiro longo. — Só não sei como fazer isso. Como viver sem esperar o pior.

Dona Nalva parou de mexer o café com o que ouviu, olhou para Hannah com um carinho de avó. Não disse nada, mas se aproximou e colocou uma mão firme sobre seu ombro.

— Você vai conseguir, menina. Uma hora a gente reaprende a andar com o coração leve.

Hannah assentiu em silêncio.

— Desculpa, filha — disse Josy, com os olhos marejados. — Só fiz te privar de uma vida tranquila ao conhecer aquele homem...

— Não, mãe. A culpa não é sua. Ninguém sabia o que ele era. A gente só queria ser feliz.

Silêncio. Um silêncio leve, respeitoso, de compreensão.

Josy limpou os olhos com o guardanapo e sorriu.

— Vamos mudar de assunto, que hoje é dia de notícia boa. Já pensou no curso?

— Sempre gostei de estar no campo com vocês. Estava pensando em Ciências Biológicas, Agronomia... talvez Engenharia Florestal. Vou pesquisar melhor alguma coisa.

— Bom, seja o que for, você vai ter meu apoio. Sempre.

Ela se inclinou e beijou a testa da filha.

Foi quando o Sr. Alberto entrou pela porta da cozinha, tirando o chapéu com aquele sorriso caloroso.

— Bom dia, minha abelhinha. Quando vai com a gente visitar o campo?

— Em breve! — respondeu Hannah com um sorriso surpreso. — E olha, logo estarei até ajudando a tomar conta de tudo com o senhor... Vou me preparar pra faculdade.

— Ohhh! — exclamou ele, abrindo os braços em animação. — Isso é muito bom! Logo a família inteira junta na terra!

Ele riu alto, animado com a ideia. Josy pegou as chaves em cima do balcão.

— Vamos — disse ela, respondendo ao olhar do Sr. Alberto. — Lourenço tá esperando a gente pro carregamento.

— Fica com Deus, filha — disse Josy, dando um beijo no topo da cabeça de Hannah. — Dona Nalva tá por aqui se precisar de alguma coisa.

Assim que eles saíram, Hannah subiu para o quarto. Precisava de descanso. Deitou na cama e, como num clique, o corpo cedeu ao cansaço. Dormiu sem perceber e só acordou com o celular vibrando ao lado do travesseiro. Era Ana.

— Oi! Vem almoçar! — disse a amiga no viva-voz.

Hannah pulou da cama, vestiu a primeira roupa que viu e saiu apressada.

Ao chegar, Ana a olhou de cima a baixo e arqueou a sobrancelha.

— Ué... cadê a bolsa? Não vai dormir aqui?

— Hoje não — disse, se jogando no sofá. — Preciso organizar meus materiais. Quero estudar pro exame da faculdade. Falando nisso, cadê o e-mail do campus?

— Tá lá no quarto, mas primeiro vem comer. Minha mãe fez lasanha.

Depois do almoço, enquanto lavavam a louça e riam das histórias da escola, subiram para o quarto e começaram a pesquisar tudo: cursos, provas, datas. Ana contou como era morar na cidade universitária, que fica ao lado do campus, um residencial de apartamentos onde só tem estudantes e professores. Falou sobre os professores, os rolês... e fez uma proposta:

— Por que a gente não divide um apê? Eu já moro lá, são dois quartos. Se precisar, alugamos um maior ou com suíte. Ia ser massa.

— Seria um sonho, né? — respondeu Hannah, animada. — Só preciso passar. E aí sim, planos, metas, liberdade!

A porta da sala se abriu.

— Boa noite, meninas! — disse Luna, entrando cansada, com uma sacola nas mãos. — Trouxe pipoca e chocolate pra nossa noite das garotas.

— Oi, tia! Mãe! — responderam as duas ao mesmo tempo.

— Hannah, pensei que você fosse dormir aqui hoje...

— Eu ia, mas resolvi estudar. Só assim pra poder morar com sua filha depois — piscou pra Ana, que riu.

— Então janta antes de ir. Depois o Gui te leva — disse Luna, indo pra cozinha.

Hannah travou. O nome dele ainda fazia um eco estranho dentro dela. Desde o sonho, não conseguia olhar pra Guilherme do mesmo jeito. Como ia agir agora?

Durante o jantar, ela quase não falou. A comida parecia sem gosto, embora estivesse deliciosa. Gui mal falava também, como se sentisse o clima estranho. Ela evitava encará-lo, concentrada no prato.

Na mente, um turbilhão.

"E agora, Hannah?" — pensava. — "Vai agir como se nada tivesse acontecido? Como se não tivesse sonhado que... meu Deus."

Disfarçava o rubor com goles de suco e risos contidos.

Logo Guilherme levantou e foi pro seu ateliê, e ela se sentiu mais relaxada, voltando a conversar normalmente.

— Vai dar tudo certo, amiga. Você vai entrar na faculdade e a gente vai dividir o apê mais bagunceiro e divertido da cidade!

— Amém! — respondeu Hannah, tentando sorrir.

Logo Luna chamaria Gui para levar Hannah, e o trajeto curto se tornaria um longo caminho pela frente.

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Nota da autora

A transição do trauma para a retomada da vida comum é delicada. Hannah começa a ensaiar passos em direção ao futuro, ainda com medo, mas cercada de amor, apoio e esperança. A presença de Dona Nalva nesse capítulo é uma sementinha plantada para o que virá. E claro, a tensão entre Hannah e Guilherme começa a se desenhar, mesmo que ela mesma ainda não saiba o que fazer com isso. Afinal... e agora, Hannah?

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