Arthur sempre foi um homem de princípios. Um fazendeiro respeitado, duro na lida e ainda mais rígido consigo mesmo. Nunca quebrou uma promessa, nunca atravessou uma linha que não devia. Até agora. Quando seu filho retorna à fazenda para apresentar a noiva, Arthur não esperava sentir o chão fugir sob seus pés. Luz era doce, forte, a mulher perfeita para o filho dele… e a pior tentação de sua vida. Cada olhar trocado, cada toque acidental, cada silêncio carregado fazia algo dentro dele ruir. Ele sabia que precisava se afastar, que aquilo era errado. Mas como resistir quando o desejo queimava forte demais? Em meio a um amor proibido e um desejo que ameaça consumi-los, Arthur e Luz terão que enfrentar a única verdade impossível de negar: algumas paixões simplesmente não aceitam barreiras.
Ler maisARTHUR NARRANDO Eu sempre gostei do silêncio daquela sala. O tique-taque do relógio antigo na parede, o cheiro amadeirado dos móveis envelhecidos, o som distante dos bichos do campo. Era um lugar onde eu pensava melhor , e onde eu quase sempre evitava falar do que sentia.Anderson estava sentado à minha frente, os olhos fundos de quem voltou com mais peso do que quando foi. Não era só saudade, era algo que ele não falava, mas que dançava nos gestos, na postura, na forma como evitava me encarar por muito tempo.A porta da sala se abriu devagar, com aquele rangido que parecia anunciar mais do que só a entrada de alguém.Maria veio primeiro, com o vestido florido batendo nas coxas, e atrás dela, veio Luz. Ela vinha com passos curtos, firmes, mas um pouco hesitantes, como quem sabe que está entrando num território que não domina. Havia uma calma curiosa nelaMaria sorriu, largando as palavras no ar:Maria — A janta já tá quase pronta. Vou só acender o fogo do fogão de lenha. A Luz já con
LUZ NARRANDO O sol estava alto, castigando a terra rachada e os troncos retorcidos que se espalhavam pelo pasto seco. Mesmo assim, havia uma beleza crua naquele cenário, uma força bruta que me fazia entender um pouco mais sobre de onde o Anderson vinha. Caminhava devagar, com os olhos atentos a cada detalhe, ao lado da Maria — que parecia ser parte viva daquela terra, como se tivesse raízes fincadas no chão duro da fazenda do Arthur. — Aquela cerca ali a gente refez mês passado — ela disse, apontando com o queixo para um canto do pasto, onde alguns bois magros se arrastavam sob a sombra de uma árvore torta. — O seu Arthur não gostou muito da madeira, disse que era fraca, mas serviu. Pelo menos por enquanto. Maria falava com aquele sotaque puxado, sem pressa, com uma voz firme, mas doce. Eu gostava dela. Havia algo de acolhedor nos olhos da Maria, um tipo de bondade resistente, igual às poucas flores que eu via brotando entre as pedras. — É muita coisa, né? — eu comentei, passando
ARTHUR NARRANDO O sol já estava baixo no horizonte, tingindo o céu de tons alaranjados quando eu me aproximei da casa. Sujo de lama, suor e poeira, passei a mão pelo rosto, tentando tirar um pouco da sujeira antes de entrar. Assim que empurrei a porta da frente, me deparei com Luz e Maria, que já iam saindo. O encontro foi imediato, travando a passagem por um segundo Maria parou e me olhou. Mas não foi um olhar qualquer. Ela me analisava, os olhos escuros demorando nos detalhes, na minha aparência, no estado em que eu estava. Aquilo me deu um desconforto estranho, um incômodo subindo pelo meu peito. Não era só pelo jeito que ela me olhava, mas porque Luz percebeu. O olhar dela foi de Maria para mim rápido demais, e eu vi a expressão dela mudar. Não precisava ser gênio pra saber que ela tinha notado algo. O problema é que eu e Maria tínhamos passado a noite juntos, e agora aquilo parecia pesar no ar, mesmo sem palavras Luz ajeitou o cabelo, como se tivesse visto algo que não devia
LUZ NARRANDO A poeira subia ao redor do carro conforme avançávamos pela estrada de terra. O sol estava alto, dourando os campos intermináveis que se estendiam ao longe. Meu coração batia acelerado. Eu já havia ouvido muito sobre Arthur, o pai do Anderson. Fazendeiro bruto, homem difícil, dono de um gênio tão forte quanto suas mãos calejadas. Mas nada poderia ter me preparado para o que vi quando descemos do carro.Ele estava ali, no meio do curral, segurando uma corda grossa entre os dedos. Um chapéu surrado sombreava parte do seu rosto, mas não o suficiente para esconder a expressão dura, os olhos intensos e a barba por fazer que deixava seu semblante ainda mais severo. A camisa aberta nos primeiros botões revelava um peito largo, marcado pelo trabalho pesado, e os músculos dos braços se moviam sob a pele dourada pelo sol conforme ele puxava a corda com força, prendendo um boi que resistia.Engoli em seco. Arthur não era apenas bruto. Ele era uma visão. Uma força da natureza esculpi
ARTHUR NARRANDO Arthur acordou com o som do vento batendo nas janelas, trazendo a frieza da madrugada para dentro da casa. Seus olhos estavam pesados, o corpo ainda dorido, mas o que mais o incomodava era o silêncio. A noite anterior parecia quase irreal, como um sonho fugaz que se dissipava ao primeiro sinal de luz.Ele estava deitado de costas, a respiração ainda entrecortada, sentindo a presença de Maria ao seu lado. Ela estava ali, mas não havia o mesmo calor de antes. O calor da paixão já se transformara em um frio estranho que agora permeava o ambiente. Arthur se virou lentamente para observá-la. Ela estava dormindo, o rosto tranquilo, como se nada tivesse acontecido, como se aquela noite fosse apenas mais uma em um ciclo interminável de trabalho e rotina. Mas ele sabia que não era. Algo tinha mudado. Algo dentro dele havia se mexido, e ele não sabia como lidar com isso.Olhou para o relógio na mesa de cabeceira. O sol já começava a despontar no horizonte, e logo o trabalho com
ARTHUR NARRANDO Arthur estava em pé, com as botas enfurnadas na terra molhada, o suor escorrendo pela testa, e os olhos fixos na vaca atolada no lamaçal. As mãos calejadas, com dedos grossos, apertavam o cabo do facão com tanta força que parecia que ele ia quebrar o metal. O ar estava pesado, e o cheiro de terra e estrume misturava-se com o do mofo, vindo da vaca atolada.Ele grunhiu, resmungando algo entre dentes. A vaca mugia, desesperada, seus olhos arregalados em um pânico que Arthur bem conhecia. Já havia visto muitos animais passarem por situações como aquela, e ele sabia o que era preciso fazer. Não havia tempo para sentimentalismo ou para pensar muito. Ele só sabia uma coisa: a vaca precisava sair dali, ou ele perderia um valioso pedaço de seu rebanho.“Você, Pedro, vem cá, me ajuda com essa porra!”, gritou para um dos soldados, que estava distante, observando com um olhar de quem não sabia o que fazer. Pedro correu até Arthur, com o rosto pálido pela tensão.Arthur lançou um
Último capítulo