Arthur sempre foi um homem de princípios. Um fazendeiro respeitado, duro na lida e ainda mais rígido consigo mesmo. Nunca quebrou uma promessa, nunca atravessou uma linha que não devia. Até agora. Quando seu filho retorna à fazenda para apresentar a noiva, Arthur não esperava sentir o chão fugir sob seus pés. Luz era doce, forte, a mulher perfeita para o filho dele… e a pior tentação de sua vida. Cada olhar trocado, cada toque acidental, cada silêncio carregado fazia algo dentro dele ruir. Ele sabia que precisava se afastar, que aquilo era errado. Mas como resistir quando o desejo queimava forte demais? Em meio a um amor proibido e um desejo que ameaça consumi-los, Arthur e Luz terão que enfrentar a única verdade impossível de negar: algumas paixões simplesmente não aceitam barreiras.
Leer másLUZ NARRANDO
Sempre ouvi dizer que algumas pessoas entram na nossa vida como um furacão, transformando tudo sem aviso. Mas Anderson… Anderson entrou como uma brisa suave, um sopro leve que, quando percebi, já tinha se tornado um vento forte demais para ser ignorado. Eu me lembro exatamente do dia em que nos conhecemos. Era a minha primeira semana na faculdade, e eu ainda estava me acostumando com a rotina, os prédios enormes, o vai e vem de gente que parecia sempre saber exatamente para onde estava indo. Eu gostava daquela sensação de novidade, da ideia de que um mundo inteiro de possibilidades se abria à minha frente. Até que, no meio do corredor lotado, senti um impacto forte e, de repente, meus livros estavam espalhados no chão. — Ah! — soltei um pequeno grito de surpresa, tentando equilibrar o que ainda restava em minhas mãos. Quando olhei para cima, encontrei um par de olhos castanhos intensos me encarando com culpa. O rapaz, claramente tão perdido quanto eu, já se abaixava apressado para me ajudar. — Puta merda, desculpa! — ele murmurou, pegando meus livros. Foi só então que reparei nele de verdade. Ele era alto, tinha cabelos castanhos levemente bagunçados e um jeito de quem não pertencia completamente àquele lugar. Vestia jeans surrados e uma camisa simples, bem diferente dos outros estudantes que pareciam sempre tão estilosos e descolados. Ele me entregou os livros e me analisou com um olhar curioso. — Você deve ser nova por aqui, né? — perguntei, sorrindo de leve. — Como sabe? — ele arqueou uma sobrancelha, parecendo genuinamente surpreso. Dei de ombros, divertida. — Porque todo mundo que esbarra nos outros no corredor está perdido. Ele soltou uma risada baixa, e naquele instante, algo dentro de mim me disse que aquele encontro não tinha sido um acaso qualquer. Nos dias que se seguiram, comecei a notar Anderson por todos os lados. No café, na biblioteca, em algumas das minhas aulas. Ele sempre dava um jeito de puxar assunto, de se sentar perto, de me fazer rir. No começo, eu achava que era só amizade. Mas então vieram os olhares mais demorados. As conversas que iam além das aulas e dos trabalhos. A maneira como meu coração batia diferente sempre que ele se aproximava. E, sem que eu percebesse, Anderson foi deixando de ser só um colega de faculdade. Ele se tornou meu amigo, meu porto seguro, e antes que eu pudesse evitar… meu primeiro amor. Naquele tempo, eu achava que a nossa história era simples. Duas pessoas que se encontraram no momento certo, no lugar certo. Mas o destino sempre gosta de brincar com nossas certezas. E o que eu não sabia… era que, um dia, eu estaria prestes a me tornar parte de uma história que nunca deveria ter sido minha Nos meses seguintes, Anderson se tornou uma presença constante na minha vida. Ele tinha um jeito diferente dos outros garotos da faculdade—não tentava impressionar com palavras ensaiadas ou gestos exagerados. Em vez disso, ele me conquistava nas pequenas coisas. Nos dias frios, ele aparecia com um café quente para mim, mesmo sem eu pedir. Quando eu passava horas estudando, exausta, ele surgia com um chocolate e um sorriso torto, dizendo que era “combustível para a mente”. E quando a vida pesava, quando eu sentia que talvez tivesse escolhido um caminho difícil demais, ele me ouvia sem pressa, sem julgamento. Eu gostava de Anderson. Muito. No começo, lutei contra esse sentimento. Sempre fui do tipo que planeja tudo, que pensa antes de agir. Mas ele era o oposto disso—intenso, espontâneo, imprevisível. E talvez tenha sido exatamente isso que me atraiu. Naquela noite, na biblioteca quase vazia, percebi que não dava mais para fugir. — Você tá diferente hoje — ele comentou, sentado ao meu lado, os livros esquecidos sobre a mesa. — Como assim? Ele apoiou o queixo na mão e me olhou de um jeito que fez meu estômago revirar. — Sei lá… parece distante. Tá acontecendo alguma coisa? Soltei um suspiro, brincando com a tampa da minha caneta. Eu podia mentir, dizer que estava cansada ou preocupada com as provas. Mas, pela primeira vez, decidi ser honesta. — Eu tô com medo. Ele franziu a testa. — Medo de quê? Mordi o lábio antes de responder. — De você. De nós. A expressão dele mudou na mesma hora. Ele ficou em silêncio por um instante, como se processasse minhas palavras, e depois sorriu de lado. — Então quer dizer que existe um “nós”? Senti meu rosto esquentar. — Eu não disse isso… — Mas também não negou. Eu revirei os olhos, tentando conter o sorriso. — Você é irritante. — E você é teimosa — ele rebateu. — Mas eu gosto disso. Ficamos nos encarando por um tempo que pareceu mais longo do que realmente foi. E então, sem aviso, Anderson estendeu a mão sobre a mesa, cobrindo a minha com a dele. Foi um gesto simples. Pequeno. Mas naquele instante, algo dentro de mim se encaixou. E eu soube que estava perdida. Naquela noite, Anderson me beijou pela primeira vez. E foi ali, naquele instante, que nossa história realmente começou. Depois daquele beijo, tudo mudou entre nós. Nos dias seguintes, Anderson parecia ainda mais presente, como se tivesse esperado aquele momento por tempo demais e agora quisesse recuperar o tempo perdido. E eu… eu não tentei mais lutar contra o que sentia. A gente começou a se ver com mais frequência, ficando até tarde na biblioteca, inventando desculpas para se encontrar nos intervalos das aulas. Não demorou muito para que todo mundo na faculdade soubesse que éramos um casal. — Então finalmente aconteceu, hein? — disse minha amiga Helena, cruzando os braços enquanto me olhava com um sorrisinho malicioso. Eu suspirei, me jogando no banco da praça da universidade. — Você fala como se isso fosse uma surpresa. — E não é? Você passou meses negando, fingindo que não sentia nada por ele. Revirei os olhos, mas não neguei. No fundo, eu sabia que Helena tinha razão. No começo, Anderson e eu éramos diferentes demais. Eu sempre fui metódica, racional, enquanto ele parecia viver no impulso, sem medo de arriscar. Mas, de alguma forma, nossas diferenças se encaixavam. Ele me fazia rir quando eu queria chorar. Me fazia esquecer do mundo quando eu estava sobrecarregada. E acima de tudo, ele me fazia sentir segura. Eu realmente acreditei que seria para sempre. Mas a vida sempre tem um jeito cruel de nos mostrar que o “para sempre” pode durar bem menos do que imaginamos.ARTHUR NARRANDO Eu sempre gostei do silêncio daquela sala. O tique-taque do relógio antigo na parede, o cheiro amadeirado dos móveis envelhecidos, o som distante dos bichos do campo. Era um lugar onde eu pensava melhor , e onde eu quase sempre evitava falar do que sentia.Anderson estava sentado à minha frente, os olhos fundos de quem voltou com mais peso do que quando foi. Não era só saudade, era algo que ele não falava, mas que dançava nos gestos, na postura, na forma como evitava me encarar por muito tempo.A porta da sala se abriu devagar, com aquele rangido que parecia anunciar mais do que só a entrada de alguém.Maria veio primeiro, com o vestido florido batendo nas coxas, e atrás dela, veio Luz. Ela vinha com passos curtos, firmes, mas um pouco hesitantes, como quem sabe que está entrando num território que não domina. Havia uma calma curiosa nelaMaria sorriu, largando as palavras no ar:Maria — A janta já tá quase pronta. Vou só acender o fogo do fogão de lenha. A Luz já con
LUZ NARRANDO O sol estava alto, castigando a terra rachada e os troncos retorcidos que se espalhavam pelo pasto seco. Mesmo assim, havia uma beleza crua naquele cenário, uma força bruta que me fazia entender um pouco mais sobre de onde o Anderson vinha. Caminhava devagar, com os olhos atentos a cada detalhe, ao lado da Maria — que parecia ser parte viva daquela terra, como se tivesse raízes fincadas no chão duro da fazenda do Arthur. — Aquela cerca ali a gente refez mês passado — ela disse, apontando com o queixo para um canto do pasto, onde alguns bois magros se arrastavam sob a sombra de uma árvore torta. — O seu Arthur não gostou muito da madeira, disse que era fraca, mas serviu. Pelo menos por enquanto. Maria falava com aquele sotaque puxado, sem pressa, com uma voz firme, mas doce. Eu gostava dela. Havia algo de acolhedor nos olhos da Maria, um tipo de bondade resistente, igual às poucas flores que eu via brotando entre as pedras. — É muita coisa, né? — eu comentei, passando
ARTHUR NARRANDO O sol já estava baixo no horizonte, tingindo o céu de tons alaranjados quando eu me aproximei da casa. Sujo de lama, suor e poeira, passei a mão pelo rosto, tentando tirar um pouco da sujeira antes de entrar. Assim que empurrei a porta da frente, me deparei com Luz e Maria, que já iam saindo. O encontro foi imediato, travando a passagem por um segundo Maria parou e me olhou. Mas não foi um olhar qualquer. Ela me analisava, os olhos escuros demorando nos detalhes, na minha aparência, no estado em que eu estava. Aquilo me deu um desconforto estranho, um incômodo subindo pelo meu peito. Não era só pelo jeito que ela me olhava, mas porque Luz percebeu. O olhar dela foi de Maria para mim rápido demais, e eu vi a expressão dela mudar. Não precisava ser gênio pra saber que ela tinha notado algo. O problema é que eu e Maria tínhamos passado a noite juntos, e agora aquilo parecia pesar no ar, mesmo sem palavras Luz ajeitou o cabelo, como se tivesse visto algo que não devia
LUZ NARRANDO A poeira subia ao redor do carro conforme avançávamos pela estrada de terra. O sol estava alto, dourando os campos intermináveis que se estendiam ao longe. Meu coração batia acelerado. Eu já havia ouvido muito sobre Arthur, o pai do Anderson. Fazendeiro bruto, homem difícil, dono de um gênio tão forte quanto suas mãos calejadas. Mas nada poderia ter me preparado para o que vi quando descemos do carro.Ele estava ali, no meio do curral, segurando uma corda grossa entre os dedos. Um chapéu surrado sombreava parte do seu rosto, mas não o suficiente para esconder a expressão dura, os olhos intensos e a barba por fazer que deixava seu semblante ainda mais severo. A camisa aberta nos primeiros botões revelava um peito largo, marcado pelo trabalho pesado, e os músculos dos braços se moviam sob a pele dourada pelo sol conforme ele puxava a corda com força, prendendo um boi que resistia.Engoli em seco. Arthur não era apenas bruto. Ele era uma visão. Uma força da natureza esculpi
ARTHUR NARRANDO Arthur acordou com o som do vento batendo nas janelas, trazendo a frieza da madrugada para dentro da casa. Seus olhos estavam pesados, o corpo ainda dorido, mas o que mais o incomodava era o silêncio. A noite anterior parecia quase irreal, como um sonho fugaz que se dissipava ao primeiro sinal de luz.Ele estava deitado de costas, a respiração ainda entrecortada, sentindo a presença de Maria ao seu lado. Ela estava ali, mas não havia o mesmo calor de antes. O calor da paixão já se transformara em um frio estranho que agora permeava o ambiente. Arthur se virou lentamente para observá-la. Ela estava dormindo, o rosto tranquilo, como se nada tivesse acontecido, como se aquela noite fosse apenas mais uma em um ciclo interminável de trabalho e rotina. Mas ele sabia que não era. Algo tinha mudado. Algo dentro dele havia se mexido, e ele não sabia como lidar com isso.Olhou para o relógio na mesa de cabeceira. O sol já começava a despontar no horizonte, e logo o trabalho com
ARTHUR NARRANDO Arthur estava em pé, com as botas enfurnadas na terra molhada, o suor escorrendo pela testa, e os olhos fixos na vaca atolada no lamaçal. As mãos calejadas, com dedos grossos, apertavam o cabo do facão com tanta força que parecia que ele ia quebrar o metal. O ar estava pesado, e o cheiro de terra e estrume misturava-se com o do mofo, vindo da vaca atolada.Ele grunhiu, resmungando algo entre dentes. A vaca mugia, desesperada, seus olhos arregalados em um pânico que Arthur bem conhecia. Já havia visto muitos animais passarem por situações como aquela, e ele sabia o que era preciso fazer. Não havia tempo para sentimentalismo ou para pensar muito. Ele só sabia uma coisa: a vaca precisava sair dali, ou ele perderia um valioso pedaço de seu rebanho.“Você, Pedro, vem cá, me ajuda com essa porra!”, gritou para um dos soldados, que estava distante, observando com um olhar de quem não sabia o que fazer. Pedro correu até Arthur, com o rosto pálido pela tensão.Arthur lançou um
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