Hellen Narrando
A manhã amanheceu pesada, abafada, como se o ar da Inglaterra inteira carregasse em si o peso de tudo o que ainda não fora dito. O céu, cinzento e baixo, parecia refletir o turbilhão que me dominava. Eu estava sentada na varanda, olhando o jardim que se estendia à frente como uma prisão dourada. Cada flor, cada folha, me lembrava o quanto minha liberdade tinha um preço — e esse preço se chamava Sérgio.
Ele estava a poucos metros, sentado com uma pasta aberta sobre o colo, fingindo ler relatórios. Mas eu sabia. Cada movimento dele era calculado. Cada página virada era apenas um disfarce para o verdadeiro propósito: me observar. Sérgio me vigiava como um homem vigia um tesouro que teme perder.
O silêncio entre nós era cortante. Depois da confusão da noite anterior, as palavras pareciam armas prestes a disparar. Eu precisava dizer algo, precisava fazer algo — ou enlouqueceria ali dentro.
— Sérgio... — comecei, hesitante, tentando manter a voz firme. — Eu preciso falar co