Nayole AkelloO filme estava ótimo, mas minha atenção se dispersava. Cada cena era um claro fundo para as luzes que piscavam nos olhos de Simba, meu namorado, e eu não conseguia evitar de me perder neles. Ele sempre teve essa maneira de me hipnotizar, e mesmo agora, em um cinema quase vazio, minha mente vagueava em direções opostas. Um dia antes, havia conversado com Manu sobre Apollo Mthunzi — será que era realmente ele quem eu deveria estar pensando? Quem era ele de verdade? Eram tantas perguntas que eu me sentia quase fora de mim. Era o que me faltava?minha vida gira em torno de uma pessoa que não conheço. — Amor? — A voz suave de Simba me trouxe de volta à realidade, quebrando minha mente confusa.— O que houve? — Perguntei, um pouco alheia enquanto tentava registrar a cena que tinha acabado de passar.— O filme já acabou, vamos? — Ele me olhou com expectativa, seu sorriso irradiando uma alegria genuína. Olhei para a tela e percebi que a luz havia se apagado mesmo antes de eu me
Nayole Akello Era meu último dia de férias. O sol da manhã deslizava suavemente pelas cortinas do quarto de Simba, banhando tudo com uma luminosidade dourada. A brisa fresca do interior de Malmö trazia consigo o perfume das flores silvestres, um contraste com o aroma marcado de fumaça e concreto que eu amava, mas que também cansava. Arrumar minhas coisas sentia-se como um ritual sagrado: cada peça de roupa cuidadosamente dobrada era uma despedida do que poderia ser um descanso mais longo.Estava prestes a colocar a última blusa na mala quando ouvi a voz dele, Simba, ecoando pelo corredor.- Você vai mesmo trabalhar nesse lugar onde ninguém chega?Virei-me, vendo sua silhueta contra a luz da janela, uma expressão de preocupação cravada em seu rosto. - Sim, Simba. É o meu trabalho, e já falamos sobre isso. - Não. Não falamos nada. Você quer fazer isso porque quer ficar perto de outros homens.A raiva inflamou em meu interior como uma chama voraz. Ele sempre tinha uma maneira de trans
NAYOLE AKELLO Era uma dessas noites que pareciam intermináveis. O silêncio estava tão denso na mansão que se podia ouvir o próprio coração pulsando. As cortinas estavam fechadas, e os únicos sons que quebravam o silêncio eram o ocasional estalar da madeira ou o sutil murmúrio do vento fora. Eu me encontrava de pijama, sentindo os tecidos leves e confortáveis contra a pele, quando a sede me levou a uma decisão impulsiva. Levantei-me da cama, o coração acelerando com a vontade de me aventurar pela casa vazia.— Um copo de água, só isso. — Murmurei para mim mesma, tentando abraçar uma sensação de normalidade. Desci as escadas em silêncio, cada passo ressoando um pouco demais no ambiente quieto. As escadas de madeira rangiam suavemente sob meus pés descalços; a casa, com suas paredes frias e tontas, parecia me vigiar. Quando cheguei à cozinha, acendi a luz e a iluminância revelou os contornos familiares do espaço. Instintivamente, fui até a geladeira, peguei minha garrafa de água e a en
00 NAYOLE AKELLOFalta menos de uma hora para a minha entrevista de emprego, que na verdade é um teste para um comercial. Estou muito ansiosa e nervosa, muitas emoções para um dia só. Simba, meu noivo saiu muito cedo antes mesmo eu despertar. Olho para o relógio na paredes amarela a direita e quase infarto. — Ai! Droga. Vou me atrasar. – Praguejo em mil idiomas, que não sei falar enquanto pego minha bolsa e saio a correr do apartamento do de Simba. Se não fosse pela insistência dele, provavelmente não estaria nesta situação. Simba não gostou muito da ideia quando apresentei para ele e tenho quase a certeza de que fez de propósito. Mas fazer o que? É assim que homens apaixonado agem na tem muito o que falar. Já na portaria, cumprimento o senhor Romeu, ele sorri para mim e faço o mesmo. O carro de Emanuela, esta estacionando um pouco distande da portaria do prédio. Ela bosina fazendo correr ate ela, entro no corro e olhos para ela que esta com o rosto tranco e uma so
1 NAYOLE AKELLO Olho para a janela pensativa, não sei de que forma irei convencer Simba da ideia de aceitar gravar o comercial, isso seria muito bom para nós dois principalmente na questão financeira. Simba e eu somos de Namíbia, dois miúdos imaturos que queriam mudar de vida, foi isso que os pais deles disseram quando ele contou sobre a viagem. Embora dona Luciana e senhor João fossem uns bons pais para ele, nunca aceitaram a ideia do filho mudar de país ainda mais Europeu. Quando Simba e eu nos conhecemos éramos adolescentes ele estava nos seus dezassete anos e eu quinze. Fomos grandes amigos antes de tudo isso se transformar em um romance, estudavamos na mesma escola, ele é vem de uma boa família com uma condição financeira estável e eu bem... Eu era só uma rapariga que fazia de tudo para sobreviver. Hoje com vinte e quatro anos e vinte e seis nos tornamos noivos e realizamos o sonho de vir para cá. Os anos não tem sido fácil, ele trabalha em dois empregos para no
2 NAYOLE Não falei com Simba desde o ocorrido, estava completamente embriagada de medo e de tristeza, ele tentou falar comigo durante a noite, porém eu não deixei. Fiquei decepcionada e magoada, nunca pensei que ele fosse levantar sua mão para mim um dia. As lágrimas escorriam do meu rosto ao lembrar da cena. Eu sei que devia ter chegado cedo ontem, porém isso não justificava a agressão física. Estou consciente de que ele talvez não tenha feito por mal, entretanto não posso tolerar isso. No quarto de banho, olho a minha imagem, a marca do tapa ainda estava lá teria que fazer muito esforço para esconder isso. Suspirei fundo, só queria que isso tudo fosse um sonho, um sonho ruim que a qualquer momento poderia acordar. Sai do meus decênios com uma batida fraca na porta, e em seguida a voz de Simba chamando por mim.— Amor. Sou eu! Por favor vamos conversar. — Não respondi, nada, não queria vê-lo, estou com medo e não sei se ele vai voltar a ser agressivo comigo. — P
3Atenção Atenção:capítulo contém informação sobre agressão física. O vapor ainda saía debaixo da porta do quarto de banho, criando uma névoa que parecia carregar o peso das nossas discussões passadas. Eu me aproximei, a mão trêmula estendida em direção à maçaneta. Havia uma hesitação em meus movimentos, um medo que me fazia questionar se eu realmente tinha o direito de exigir mais, de querer mais.- Simba. - comecei, minha voz vacilante, mas mais firme a cada palavra. - nós precisamos conversar.Ele emergiu, envolto em uma toalha, com gotículas de água ainda percorrendo seu torso definido. Seu olhar era de confusão, mas logo se transformou em irritação quando percebeu o tom da minha voz.- O que agora? - ele perguntou, a impaciência evidente em cada sílaba. Eu engoli em seco, sentindo o clima ficar pesada. - Não podemos continuar assim. Eu me sinto sufocada, controlada. Eu preciso de espaço, de liberdade. Preciso respirar sem sentir que estou te desapontando- Simba riu, um som que
4 NAYOLLE AKELLO O cheiro de pão fresco era convidativo, mas eu não sentia vontade nenhuma de comer. A mesa estava posta com um café fumegante, pães quentinhos e frutas coloridas, mas tudo aquilo parecia uma cena pintada, um cenário de filme que eu não fazia parte. Manuela, com sua energia contagiante e jeito protetor, tentou mais uma vez me convencer a comer.— Ei! — chamou ela, com um olhar determinado, como se eu pudesse ouvir suas palavras. — Você precisa comer, aquele trapo de homem não merece seu sofrimento, amiga.Apenas balancei a cabeça, reprimi a sensação de que a resposta não era uma resistência, mas sim a conclusão da minha alma, silenciada por muito tempo. O peso do meu passado ainda pairava sobre mim, feito uma nuvem escura pronta para despencar.Manuela continuava ali, alinhando os pratos na mesa, seus movimentos eram rápidos e decididos, como se estivesse em um combate contra a minha dor. O jeito que ela ajeitava os talheres, com pequenas batidinhas nas bordas, pareci