Capítulo 7

Eu devia ter desconfiado muito tempo antes. As mensagens começaram a ficar secas. Os sumiços ficaram mais frequentes. Aquela desculpa esfarrapada de “vou estudar com os caras hoje” passou a ser usada todos os dias. Mas eu quis acreditar. Quis achar que da primeira vez ele tinha aprendido a lição. Que me ver naquele estado o tinha abalado o suficiente. Que eu ainda significava algo.

Burra... Burra, burra, burra!

O destino, ou sei lá o quê, me levou até aquele estacionamento, atrás do prédio de artes após o ensaio da peça. Um lugar que ele achava que ninguém se importava em olhar. Mas eu estava ali. E eu vi.

O carro dele de novo. Aquele maldito carro que eu ajudei a lavar em muitos fins de semana. Com a janela abaixada, como se estivesse pedindo para ser descoberto. Como se debochasse de mim.

E dentro... lá estava Benjamin em toda a sua glória.

A mão dele no rosto dela. A boca colada na dela.

Carla.

 A minha “amiga”... aquela miserável de sorriso doce e conselhos falsos, que estudava comigo desde o primeiro semestre, montada no colo dele como se fosse a dona do mundo, como se o mundo não tivesse regras, nem consequências, nem eu.

Fiquei parada por alguns segundos ouvindo o som de suas risadas.

Eles riam. Eles. Riam.

Como se aquilo fosse normal. Como se a dor que eu senti da primeira vez, não tivesse significado nada. Como se eu fosse descartável.

Eu me aproximei devagar, cada passo era um raio prestes a cair. Eu decidi não fugir dessa vez. Queria que eles me vissem. Que soubessem que eu estava ali.

E então ele me viu. O riso se apagou do rosto dele como uma lâmpada queimada. Seu olhar se encontrou com o meu, e naquele segundo... eu vi algo. Não culpa. Não arrependimento. Mas surpresa. Pura e genuína. Como se ele realmente achasse que nunca seria pego de novo.

Ela se afastou dele num pulo, tentando cobrir o peito com as mãos, como se isso fizesse alguma diferença. Como se tivesse alguma dignidade para salvar.

–  De novo? – meu sussurro doía mais que um grito – Você teve a coragem. A audácia... a estupidez.

Benjamin abriu a boca, mas não havia o que dizer. Nada que apagasse a cena, nada que costurasse o rasgo.

–  Da primeira vez eu me culpei. Pensei que eu era a errada, que eu não era o suficiente – dei um passo mais perto, e vi o medo em seus olhos. E foi delicioso presenciar isso – Agora? Eu vou fazer você se arrepender.

Virei as costas antes que qualquer um deles pudesse balbuciar uma sílaba. Ali, naquela noite, algo dentro de mim morreu. E, pela primeira vez, passei a enxergar Benjamin com outros olhos.

Desta vez, decidi não aceitar as desculpas de um traidor. Ele quis brincar comigo, e eu decidi mostrar que comigo ninguém brinca e sai impune.

No mesmo dia, escolhi um dos melhores amigos dele para usar. Alguém que ele realmente confiava, alguém próximo o suficiente para ferir fundo, quem o chamasse de “irmão”, e me certifiquei de que todos nos vissem juntos. Me agarrei a ele em pleno campus, sem um pingo de vergonha.

–  Oi, gatinho – eu sorri, passando meus braços por seu pescoço.

Senti seu corpo travar, e seu olhar percorreu ao nosso redor, como se procurando uma câmera escondida, para ele poder dizer que passou no teste de amizade de Benjamin.

–  O que você está fazendo, Mi-Suk? – ele sussurrou, ao mesmo tempo em que sorria, completamente estarrecido com meu gesto.

–  Eu quero um beijo seu. – fui direto ao ponto e ele arregalou os olhos – Se você não me der, eu vou beijar qualquer um que passar na minha frente.

Ao ouvirem isso, os caras ao redor começaram a gritar e se empurrar, como se ainda estivessem na quinta série.

–  Eu vou arrumar problema com o Benjamin – ele sussurrou, mas já passou seus braços em minha cintura – Você sabe disse, não é?

–  Ah, qual é... – zombei e abri um sorriso travesso – Vai dizer que não quer experimentar o brinquedinho exclusivo do Benjamin? Eu sei que vocês já até apostaram quem vai me pegar primeiro quando ele me jogar fora.

–  Do que você está falando, eu não sei nada...

–  Está falando demais, acho que vou ir para o próximo da fila. – eu dei o golpe final.

– Nem pense nisso – ele me puxou para mais perto e aproximou seu rosto do meu – Quero saber o gosto da sua boca há muito tempo, coreaninha.

Nos beijamos feito loucos, sem pudor algum, ao som de aplausos e assobios de metade do time de basquete da universidade.

Ele agarrou minha bunda com força, e puxei seu cabelo, arrancando um gemido forte de sua garganta. Não me importei com a plateia, ou com os celulares apontados para nós, nem para as piadas de “vão para um motel”. Apenas me entreguei ao beijo, como só havia feito com Benjamin até aquele dia.

Eu sabia que a notícia se espalharia como fogo em mato seco. E realmente espalhou.

Ah, como espalhou!

Na hora do jantar, mais de oito caras me entregaram bilhetes com número de celular. Dois me chamaram pra sair descaradamente, e um até ousou tentar me encurralar na saída do banheiro feminino. Agora eu não era mais a menina exclusiva, a garota intocável... Eu tinha acabado de colocar um letreiro de “carne nova e à disposição” em neon na minha testa.

No dia seguinte, todo mundo sussurrava nos corredores que a protegida do Cantrell havia se amassado com o melhor amigo dele no meio do campus. Risos abafados e olhares de julgamento me seguiam pelas aulas. Era isso que eu queria. Que ele se sentisse traído, envergonhado. Que ardesse no inferno. Que soubesse que eu podia jogar o mesmo jogo, que ele mesmo me ensinou a ser cruel.

Benjamin explodiu quando soube, todo o andar pôde ouvir seus gritos de homem traído. Ele partiu para cima do amigo, os dois quase se mataram no meio do pátio. A direção ameaçou expulsar os dois, e por um instante eu achei que tinha vencido ao ver a situação deplorável em que ele se encontrava.

Achei que ele viria até mim, humilhado, reconhecendo que vacilou novamente, implorando por meu perdão mais uma vez.

Mas ele não disse uma palavra.

Nada. Nenhum olhar, nenhum gesto.

O silêncio dele foi como um tapa na cara. Um desprezo frio, calculado, que me queimava por dentro. Ele ignorou minha existência como se eu fosse invisível a partir daí. Como se eu fosse... insignificante.

E isso, mais do que qualquer outro grito, mais do que qualquer briga, foi o que me tirou do chão. Porque, no fim, ele conseguiu me ferir de novo, e ainda sem tocar em mim.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP