Benjamin entrou no meu quarto com um sorriso bobo no rosto, mas um cheiro inconfundível de álcool no ar. Ele balançava levemente de um lado para o outro, como se estivesse mais perdido do que normalmente era, o que, para mim, era algo novo. Normalmente ele matinha o controle, mas agora, sua postura estava diferente. Mais relaxada, quase vulnerável.
– Benjamin Cantrell, você quebrou sua promessa de não beber! – eu o encarei, tentando não mostrar o quanto estava desapontada. Não era o tipo de coisa que ele fazia frequentemente, e ver ele tão desleixado não me agradava nem um pouco.
Ele apenas riu, dando de ombros como se o assunto fosse irrelevante. A risada dele era baixa, abafada, e seus olhos estavam ainda mais perdidos do que nunca. Ele tirou o casaco e jogou na cadeira, aparentemente sem se importar com nada, e com um suspiro, se deixou cair na poltrona.
– O que você está fazendo aqui, meio bêbado? – perguntei, tentando soar indiferente, mas minha voz denunciava minha preocupação.
Ele sorriu, mas dessa vez, o sorriso era mais um disfarce para o desconforto.
– Shhh, vai acordar o tio Jong – ele disse, baixinho, colocando um dedo sobre os lábios, tentando acalmar a situação.
Eu o olhei de maneira severa. Ele ainda estava sorrindo, mas não conseguia esconder o cansaço nos olhos. Aquilo tudo parecia errado.
– Benjamin, você prometeu que não ia mais beber além da conta, você disse que não ia mais... – eu tentei protestar, mas ele me interrompeu.
– Não dá pra viver sempre se segurando Mi-Suk – ele falou, quase de maneira filosófica. – Às vezes a vida pede para a gente se perder um pouco.
Fiquei em silêncio, não conseguindo mais articular uma resposta. Então, ele mudou de assunto, como se quisesse me desviar do que estava acontecendo.
– Ouvi dizer que você vai sair com um tal de Steve amanhã – ele se recostou na poltrona, com um olhar de quem sabia que estava me provocando. Eu podia sentir o tom possessivo em sua voz, mesmo que ele tentasse disfarçar.
– O quê? Não acredito que papai espalhou isso! – disse, sentindo o calor subir em minhas bochechas.
Eu nunca falei sobre Steve com Benjamin, mas ao ouvir ele tocar no assunto, algo na minha barriga se revirou. Eu não sabia bem o que sentia sobre o encontro, mas a última coisa que queria era que Benjamin soubesse de tudo. Ele sempre teve uma opinião forte sobre as minhas escolhas, especialmente quando se tratava de meninos.
Ele se levantou de repente, agora sério, e com o olhar focado em mim.
– Quero saber quem é esse babaca – ele disse, seu tom implacável, como se fosse dar um ultimato.
– Steve não é nenhum babaca! – eu defendi, irritada com o julgamento prévio dele – Ele foi o único cara que me convidou pra sair em três anos de colégio. Ele é muito... legal.
Benjamin deu um pequeno riso, sacudindo a cabeça.
– Ele é feio, Mi-Suk. – ele disse, sem nenhuma consideração, como se fosse um fato inquestionável.
– Você não o conhece! – eu retruquei, mais irritada.
A verdade é que eu não sabia o que ele queria com isso. Steve era só um cara comum, mas pelo menos ele não me julgava o tempo todo.
– Ele é sem graça. – Benjamin completou, com um sorriso sarcástico – E aposto que ele não merece você.
Eu parei por um momento, encarando-o. Havia algo ali que me fazia questionar suas palavras, como se ele tivesse mais sentimentos por mim do que estava disposto a admitir. Mas eu não sabia como lidar com isso, então ignorei essa sensação desconfortável que estava crescendo dentro de mim.
– E quem merece, Ben? – minha voz saiu quase num suspiro, cheia de frustração. – Eu tenho 18 anos, nunca beijei ninguém, nunca saí com ninguém. Enquanto minhas amigas já estão avançando em seus relacionamentos, eu sinto que estou estagnada. Sou apenas a garota asiática e magricela do colégio. Me acham bonita e simpática? Sim. Mas não o suficiente para se igualar as belas americanas. E agora, Benjamin, você se acha no direito de invadir meu quarto para ditar as regras do que eu posso ou não fazer. Você nunca irá entender o que eu sinto.
Ele me observou por alguns segundos, sua expressão se suavizando um pouco.
– Você não pode sair com qualquer um, Mi-Suk – ele disse, mais suave agora, mas ainda firme. – Não seja apressada. Não faça algo de que você possa se arrepender depois.
Eu não aguentei mais. Algo dentro de mim quebrou, e a frustração transbordou.
– Eu só quero sair e me divertir, Benjamin! – eu estava quase chorando, minha voz embargada – Eu só quero saber como é beijar alguém, como é sentir o frio na barriga de um encontro. Eu... só quero saber como é.
Ele ficou em silêncio por um momento, sua expressão tensa, como se estivesse processando minhas palavras. Então, de repente, ele deu um passo em minha direção. Eu o observei, sentindo o medo e a excitação tomar conta de mim ao mesmo tempo. Ele estava tão perto, tão intenso, e o espaço entre nós parecia pequeno demais para a tensão que se acumulava.
– Você quer saber como é, é isso? – ele perguntou, seus olhos verdes fixos nos meus. Ele parecia quase provocador, como se estivesse desafiando algo em mim.
Eu me senti completamente exposta e não sabia o que fazer. Não era apenas o medo do desconhecido; era a presença dele, tão próxima, tão... tudo. Algo em seu olhar fez com que eu ficasse sem palavras.
– Mi-Suk... eu posso te ensinar – ele disse, a voz baixa e quase um sussurro. – Eu posso ser o seu “treinador”, se você quiser. Se você não quiser passar vergonha com esse tal de Steve, é claro.
Eu engoli em seco. Meu coração estava batendo forte, e eu não sabia como reagir. Era Benjamin, o meu Ben. O meu irmão mais velho, sempre protetor, que esteve sempre ao meu lado. Mas agora, ele estava me oferecendo algo que eu jamais imaginaria ouvir dele.
– O quê? – minha voz saiu fraca, confusa – Você está falando sério?
– É só um treino. – ele disse, dando de ombros, a boca curvando-se em um sorriso travesso – Só assim você não vai fazer feio na frente do Steve.