Parte 4...
Gabriel
A casa estava em silêncio. Lara dormia há quase meia hora, depois de me convencer a ler um dos livros da estante da mãe, com fadas, reinos encantados e “finais felizes que dão vontade de chorar”, segundo ela.
Foi um daqueles momentos em que ela me olha com tanto amor que eu quase esqueço o caos da vida. Quase.
Agora, era só eu, a luz fraca do abajur e o cheiro suave de lavanda que vinha do travesseiro dela, ainda grudado no meu ombro. Voltei para meu quarto com passos lentos, o peito mais leve e o corpo inquieto.
Luna. A vizinha de baixo. A mulher que escrevia romances e usava shorts curtos demais para alguém que dizia viver de ficção.
Ultimamente, era difícil não notar o jeito como ela mordia a ponta da caneta quando escrevia na varanda. Ou como o sutiã aparecia ligeiramente quando ela se esticava para alcançar algo na prateleira.
Abri a janela devagar, como se fosse cometer um crime. Lá embaixo, as luzes da varanda dela estavam acesas. A cortina do quarto, entre