Cheguei à entrada da casa com passos curtos. Olhei em direção à sala, temerosa. Uma sensação desconhecida me atravessou. Eu nunca tive um pai. E ter consciência disso agora me fez esticar a coluna, andar normalmente, como uma mulher adulta.
Minha mãe me perguntaria como foi, me puxaria para o sofá e iria querer saber tudo. Subi os degraus pensando na falta que ela me fazia. Mas quanto ao meu pai... aquilo ainda era tão estranho.
Cheguei até a porta do meu quarto, minha mão buscando a maçaneta, hesitante, quando a porta ao fundo do corredor se abriu. E ali estava ele. Só de bermuda folgada azul-escuro. Meu coração saltou no peito.
Sem camisa, alguns fiapos de pelos em volta dos mamilos, o cabelo todo bagunçado, como quem acabara de sair da cama.
— Hein, finalmente acordou a margarida. — Heitor abriu um sorriso claro, gentil, estendendo os braços para me receber com carinho.
Ainda me sentia receosa. — Pai? — perguntei, como se aquela palavra me denunciasse. Ele me envolveu em seus braços