Meu pai gargalhava, sacudindo os papéis como se aquilo fosse uma piada. A esposa de Alexandre, furiosa, tentava alcançá-los, equilibrando-se nos saltos finos. A cena era quase cômica, se não fosse tão desconfortável.
Por dentro, tudo em mim gritava.
Eu queria sumir.
Alexandre estava ali, tão perto. Seu perfume preenchia o ar de forma discreta, mas marcante. Ele não parecia nem um pouco abalado. Não havia tensão em seu rosto, como se o passado entre nós tivesse sido um engano, um borrão mal interpretado.
E talvez tivesse sido.
Mas não para mim.
Eu ainda me lembrava da brisa morna atravessando o bangalô, da forma como ele me olhou, como se me enxergasse por dentro. Lembrava da ponta dos dedos dele roçando meu rosto, do silêncio confortável entre nós, da minha respiração presa nos lábios dele.
Eu ainda carregava aquilo.
E agora, ele só me olhava como se fosse... a filha do amigo.
Ou pior: uma presença inconveniente.
Fingi não me importar. Fingir era o que eu fazia de melhor desde que cheg