Capítulo 8
Mariana
A sala estava abafada naquela manhã, como se o ar tivesse parado no tempo. As janelas entreabertas não ajudavam a amenizar o calor, e o burburinho dos alunos se misturava ao farfalhar inquieto das folhas dos cadernos. Henrique chegou no horário exato, como sempre. Trazia a mesma pasta escura e o semblante sóbrio. Mas havia algo diferente. Um certo peso nos ombros, um olhar mais afiado.
Eu estava sentada na terceira fileira, fingindo que revia anotações, mas a verdade era que não conseguia evitar de observá-lo. Desde a nossa conversa no pátio, algo havia mudado. Ele não era mais um mistério indecifrável, mas alguém de carne, memória e cicatriz. E ainda assim, continuava me desafiando com seus silêncios.
— Hoje vamos debater um trecho de Foucault — anunciou, colocando o texto projetado no quadro. — Sobre poder, vigilância e o corpo como campo de controle.
A tensão cresceu. Foucault sempre dividia opiniões, e bastaram alguns minutos para as discussões começarem a esque