Primeiro dia de trabalho

NARRAÇÃO DE  SARA... (Empregada)

O emprego agora vem! Estou decidida a dar o meu melhor. E a razão é uma só: sou mãe solteira. Tenho uma menina de quatro anos para cuidar — sozinha. Sem apoio de ninguém, além da minha mãe, que, infelizmente, está doente.

Desde o meu último emprego, nada estava indo bem. Foram sete longos meses de sufoco, renegociando dívidas, racionando alimentos. Contando nos dedos os dias que faltavam para cair a aposentadoria da minha mãe — na verdade, nós duas contávamos. Todo mês.

Um ciclo vicioso… mas que chegou ao fim.

Uma vizinha bateu à minha porta, dizendo que começaria a trabalhar numa mansão e que estavam precisando de mais alguém. Me prontifiquei na hora. Minha mãe nunca esteve tão feliz. Pegou minha filha no colo e comemoramos.

Tudo parecia estar se ajeitando. Fui à entrevista com minha vizinha e a filha dela.

Lá, descobri que não seria um emprego comum. Trabalharíamos na casa de um mafioso, conhecido por sua fama de monstro — como numa versão sombria de A Bela e a Fera. Ninguém o via. Os boatos corriam soltos…

Diziam que, há quase um ano, ele matou a esposa e o melhor amigo na cama. Desde então, nunca mais saiu da mansão.

Pensei em recuar. Medo. Insegurança. A simples ideia de trabalhar numa casa ligada à Máfia causava calafrios. Medo de ser morta por um erro trivial — como passar um pano no lugar errado.

E esse medo era real. Porque eu precisava estar viva para criar minha filha.

Ela acabara de completar quatro anos. Está numa fase linda.

Eu iria recusar, procurar algo mais seguro…

Mas, quando ouvi o valor do salário, me rendi.

Minha mãe nunca mais precisaria se preocupar. Nem gastar a aposentadoria para colocar comida na mesa.

Eu precisava agarrar essa oportunidade.

Já bastava o fardo que impus a ela no passado.

Mas, antes de continuar... preciso dizer: eu fui a vítima — e, ao mesmo tempo, a culpada de toda essa história.

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Tinha vinte anos quando me apaixonei por um colega de trabalho. Ele era divertido, me fazia rir… e, com facilidade, entreguei meu coração.

Namoramos por seis meses. Nesse período, engravidei.

Os sinais estavam lá. Mas eu ignorei.

Ele desaparecia em determinados horários. Dava desculpas para eu não ir à casa dele…

E, por fim, descobri: ele era casado.

Soube da pior forma — a esposa apareceu no trabalho, aos gritos.

Resumo da tragédia?

Perdi o emprego.

Ele sumiu com a mulher. Até hoje, não sei o paradeiro daquele desgraçado.

Sobrou minha mãe. Foi ela quem me deu o apoio que eu precisava.

Quatro anos de luta. A saúde dela. A falta de trabalho.

Ainda assim, tudo valia a pena.

Bastava ver minha menina correndo pelo quintal — aquilo me dava forças.

E me fazia acreditar que um dia eu daria o melhor para essas duas, que são meu alicerce.

Então, por elas, aceitei o trabalho. Me preparei para entrar na mansão.

E, enfim, para encarar o escritório do temido Dom Brady Dawson.

Confesso: ao parar diante de sua mesa, um frio percorreu minha espinha.

Ele carregava um olhar sombrio. Olhos escuros. A barba por fazer.

A raiva era visível — estampada no rosto de quem teve coragem de matar a esposa e o melhor amigo de infância.

Seu pai, o contratante, apenas me olhou e ordenou que eu começasse a limpeza.

Obedeci.

Mas congelei ao ver a fúria crescer no rosto de Brady. Ele se levantou da cadeira com brutalidade, sua presença se impôs no ambiente, e ordenou que eu me afastasse da mesa.

Só conseguia pensar:

Preciso desse salário. Minha mãe aguarda boas notícias. Eu preciso.

Respirei aliviada quando o pai dele mandou que eu continuasse, ignorando a raiva do próprio filho.

Comecei a limpar a mesa com as mãos suadas.

Brady se sentou de novo na poltrona — e me encarava com uma irritação que parecia rasgar o silêncio ao redor.

Para piorar, o pai dele saiu, levando minha vizinha e a filha para conhecer outros cômodos.

O silêncio virou punição.

Além da quietude opressora, havia os olhos dele — penetrantes, quase cruéis.

Como se esperasse que eu adivinhasse o que se passava em sua mente.

A poeira estava insuportável. Tentei parecer tranquila.

— Posso abrir a janela? Aqui precisa ser arejado — perguntei com delicadeza.

— Não. — Ele grunhiu, como uma fera enjaulada sendo obrigada a ver alguém tocar nas próprias relíquias.

Inspirei fundo. Olhei para o chão. Só pensava:

Eu preciso deste emprego.

Segurei o espanador com mais firmeza — ele escorregava entre meus dedos suados.

— Eu prometo que limparei tudo. Depois fecharei a janela e a cortina, como desejar. — Minha voz saiu quase como uma súplica.

Ele se levantou num movimento hostil.

Empurrou o notebook e tudo que havia sobre a mesa.

Depois se aproximou com passos lentos.

Minha nuca se arrepiou.

Senti o cheiro de seu terno — não era dos melhores. Cheiro de roupa guardada por tempo demais no armário.

Ele sorriu de lado.

Depois se inclinou, ficando perto demais dos meus olhos.

— Quer arrumar? Então arrume essa porcaria… — sussurrou.

Depois olhou para o chão, onde tudo estava espalhado.

— Vou te dar vinte minutos. Depois, suma do meu campo de visão.

Assenti. Segurei o espanador com ainda mais força.

Meu corpo tremia.

Ele é assustador.

Seus cabelos pareciam ter crescido junto com o tempo em que ficou isolado naquela mansão.

Saiu devagar. Mas bateu a porta com tanta força que meu corpo pulou de susto.

Olhei meu reflexo no vidro da janela: eu estava pálida, os lábios ressecados… como se tivesse acabado de escapar de um pesadelo.

Me apressei.

Limpei o ambiente com as mãos trêmulas. O medo dele voltar antes do tempo era real.

O medo de ser demitida após vinte minutos de trabalho... ainda mais.

Quando estava quase terminando, ouvi a maçaneta girar.

Prendi o ar.

Meu rosto adormeceu.

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