Alucinação

NARRAÇÃO DE BRADY DAWSON...

NARRAÇÃO DE BRADY DAWSON...

Meu pai só pode estar de brincadeira...

Logo hoje, quando estou com um humor péssimo. Odeio pessoas que fingem não sentir medo de mim — e aquela empregada é exatamente assim. Aquele nariz empinado me irrita profundamente!

A vontade que senti foi de quebrar todo o escritório, apenas para ter um motivo para demiti-la. Mas me contive... por enquanto. Apenas derrubei as coisas da minha mesa. Se ela quer tanto esse emprego, então farei dele um inferno.

Eu não a chamei, não a quero aqui. Assim como a cozinheira, ou a outra empregada. A mansão limpa, arejada e cheia de funcionários me leva às piores lembranças.

Antes, a mansão era leve. O piso brilhava, o cheiro de erva-doce tomava os corredores, os funcionários eram simpáticos... e, entre eles, estavam minha falecida esposa e meu falecido melhor amigo, Josh. Ele sempre estava aqui. Acreditava que era por minha causa — mas não era. Ele desejava o corpo da minha esposa.

Não gosto dessas memórias. Não gosto de nada que me faça regressar ao passado sombrio. Por mais que o presente também o seja — talvez até mais.

Saí do escritório buscando ar, sem precisar olhar nos olhos de pessoas que não conheço, nem quero por perto.

Ao chegar na varanda, acendi um cigarro, ignorando a empregada magricela que passou por mim de cabeça baixa. Meu pai estava sentado no sofá, observando o jardim tomado por mato alto e ervas daninhas. Uma perfeita imagem de abandono.

— Vou pedir apenas uma coisa, Dawson — disse ele, ainda fitando o jardim. — Respeite os empregados. Eles estão aqui para te ajudar a sair dessa sujeira.

Ri, dando uma longa tragada.

— Já vai sair? — perguntei.

— Sim. Seu irmão precisa de mim.

— Ah, claro... — ironizei. Meu irmão mais novo só faz merda. Eu posso ser ruim, mas pelo menos vivo trancado na mansão. Já ele? Vive como se o mundo fosse acabar. Não me lembro da última vez em que o vi — e tampouco quero vê-lo.

Meu pai se levantou, ajeitou o terno e consultou seu relógio de bolso.

— Mais tarde, mando o motorista levar as empregadas — comentou.

Arqueei as sobrancelhas, fingindo me importar.

— E vê se come alguma coisa. Tome um banho.

Ri. Às vezes, sinto pena do meu pai. Ele se preocupa demais. O que ele não entende é que não sou mais uma criança — sou um homem de 34 anos.

Ele passou por mim, mas parou, como se tivesse se lembrado de algo.

— Ah, a empregada que está arrumando seu escritório se chama Sara. A cozinheira se chama Marie, e aquela que acabou de entrar é Evelyn.

Arqueei as sobrancelhas novamente. Fingindo me importar, claro. E, finalmente, ele foi embora.

Fiquei alguns minutos ali, fumando. Olhei meu relógio. Sorri. Já haviam se passado vinte minutos.

Voltei ao escritório, decidido a dar a sentença final — demissão.

No entanto, perdi a fala.

Ela havia feito muito em pouco tempo. Estava ajoelhada no chão, com um balde ao lado, esfregando uma mancha que conheço bem: sangue seco. De um inimigo que me trouxeram.

Ele ficou exatamente ali. Ajoelhado. Eu mesmo arranquei dente por dente... O desgraçado havia traído a máfia. Passou informações sigilosas.

E lá estava a empregada. Ela parou de esfregar o chão, olhou-me ofegante, enxugou o suor da testa. Alguns fios lisos escapavam da touca.

— Ainda não terminou? — perguntei, desdenhoso, segurando a maçaneta.

Ela se levantou nervosa. O vestido estava sujo na altura dos joelhos.

— Falta pouco, senhor.

— Está demitida — fui direto.

Caminhei até minha mesa, em silêncio. Ela permaneceu parada à minha frente, esfregando os dedos, ansiosa.

— Por favor, me dê mais uma chance. Eu realmente... eu... — gaguejou.

Sorri, cruzei as pernas, saboreando a súplica.

Mas ela me surpreendeu. Em vez de implorar, franziu os lábios, contrariada.

— Eu dei o meu melhor! Não parei um segundo. Ninguém faria tão rápido quanto eu. Eu realmente preciso...

Inclinei-me, observando seus olhos — firmes, decididos. Uma mulher que não largaria o osso facilmente.

— Quer continuar? Então não olhe nos meus olhos — ordenei.

Ela abaixou a cabeça. Prendeu a respiração por um instante.

— Pode se retirar.

— Obrigada — murmurou, quase num sussurro.

Saiu.

Revirei os olhos, voltando ao trabalho.

As horas se arrastaram no escritório. Ao anoitecer, bateram na porta. Ignorei. A cozinheira avisou que deixaria o jantar na entrada. Finalmente, estavam indo embora.

Casa vazia... enfim.

Jantei no quarto, tomei banho e fui dormir. Preparar-me para mais um dia.

Na manhã seguinte, o tempo estava fechado. Chuvoso.

Odeio chuva. Profundamente.

A água que cai me arrasta para o passado: gemidos, corpos se chocando, mãos dele na cintura dela... me cegam. Dias chuvosos me tornam furioso. Irritado com tudo.

Fiquei no escritório. Deixei a porta apenas encostada, como sempre. Estou acostumado a não ser interrompido.

Mas fui.

E perdi a fala... por quem?

Uma menina.

Ela entrou usando um vestidinho florido. Segurava um coelho de pelúcia. Devia ter uns três, talvez quatro anos.

Fechei o notebook, boquiaberto. Não me lembrava da última vez que vi uma criança. Principalmente daquele tamanho.

Ela sorriu e mostrou seu urso.

Ri. Desacreditado.

Eu estou... alucinando?

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