O Mafioso arrogante e a mãe solteira
O Mafioso arrogante e a mãe solteira
Por: Kari
O começo de tudo

NARRAÇÃO DE BRADY DAWSON...

Apenas o som da chuva. Nada mais.

O quarto mergulhava em escuridão, mas a luz que filtrava pela janela refletia o que queimava meus olhos. Minha esposa, nua. Meu melhor amigo, nu. Ambos mortos. Sem direito ao oxigênio que ainda me restava. Deitados sobre a mesma cama onde um dia compartilhei prazer e confiança. O lençol de seda salmão, agora amassado, cobria os corpos em desalinho. O sangue se espalhava lentamente, formando uma poça bela e cruel — o vermelho vibrante dos dois traidores.

Permaneci parado, o revólver ainda firme em minha mão. Encarei aquela cena patética até o sangue escorrer pela beirada do colchão e pingar no chão.

Acendi um cigarro. Traguei lentamente, fitando as costas nuas da minha falecida esposa. Uma única marca de bala, certeira, no centro da coluna. Já Josh, meu melhor amigo desde a infância, recebeu um tiro frio e limpo na testa.

Eu não sei o que é chorar. Sinto dor, angústia, enjoo... mas não sei chorar.

Acredito que isso seja reflexo da minha criação. Quando moleque, aprendi a engolir o choro.

"Homens não choram, homens não são fracos."

Caminhei até a cama, encarei o rosto de Josh. Morto por mim. Inclinei-me sobre ele, e sorri. Um sorriso vazio, corroído pela dor da traição. De todos os que poderiam me apunhalar, ele era o último em quem pensei. Ele... não.

— Espero que queime no inferno, Josh. — Traguei mais uma vez e soprei a fumaça direto em seu rosto imóvel. Aqueles olhos sem vida jamais entenderiam o quanto me feriram. Virei o olhar para a mulher que me prometeu fidelidade. Apenas entortei o nariz. Não havia mais nada a ser dito.

Saí do quarto. No instante em que fechei a porta, a energia voltou, ironicamente. No corredor, meu consigliere surgiu. Havia retornado de uma reunião comigo mais cedo. Estava pálido, atordoado, após ouvir os dois disparos.

— Mandem tirar os traidores da minha cama. — Ordenei com a voz firme.

Ele apenas assentiu, sem uma palavra.

Entrei no escritório. Apaguei o cigarro esmagando-o contra a madeira da mesa. Trinquei os dentes. Naquele momento, jurei nunca mais confiar. Nunca mais amar.

---

ALGUNS MESES DEPOIS...

A vida tornou-se um ciclo sem sabor.

Rotina. Trabalho. Ordens. Execuções. Lucros. Repetição.

Tenho ignorado as ligações do meu pai. Ele insiste em falar sobre um novo casamento. Diz que os negócios precisam continuar, que o sangue da família deve seguir fluindo. Herdeiros. Legado.

Mas isso... é a última coisa com que quero me preocupar.

Naquela manhã, enquanto ignorava chamadas sucessivas, meu consigliere bateu à porta. Respondi sem tirar os olhos do notebook.

— Senhor Brady, é seu pai...

— Diga que não estou. — Respondi, distraído entre planilhas e cálculos.

Mas não esperava que a porta fosse escancarada. Lá estava ele. Furioso. Um homem que já deveria ter se aposentado há muito tempo. Suspirei fundo.

Ele percorreu o escritório com o olhar, trincando os dentes ao ver as cortinas cerradas. Avançou em passos pesados e abriu cada uma delas, obrigando-me a encarar o maldito sol.

— Fecha essa porcaria.

— CHEGA, BRADY! — Ele gritou. Passou as mãos na testa vincada de rugas. — Eu não aguento mais! Essa casa vive no escuro. Você dispensou os empregados, só permite a presença do consigliere! Aqueles desgraçados já foram mortos, mas parece que você morreu junto com eles! Você não vive! Apenas vegeta nesse mundo frio, escuro, sombrio! — Ele olhou para o ar-condicionado e esfregou os braços. — Parece que vive num necrotério!

Sorri ao soltar a caneta.

— Estou fazendo exatamente o que sempre quis. O trabalho na máfia flui como nunca. Tenho respeito, lucro, obediência...

— Mas não tem vida. — ele rebateu.

Ignorei-o. Voltei ao notebook. Os dedos deslizando pelas teclas, me escondendo na eficiência do trabalho.

— Já se passaram mais de oito meses, Brady! Se você não reage, então eu reajo por você! Mandarei novos empregados. Essa casa não terá mais cortinas fechadas! Você vai caminhar no quintal, respirar ar puro! Está pálido, doente! Aposto que nem se lembra da última vez que o sol tocou sua pele!

— Quando sair, feche a porta. — pedi, seco.

Ele saiu, furioso. O consigliere, silencioso, me lançou um olhar hesitante. Mas conhecia meus gestos melhor do que ninguém. Sem que eu dissesse nada, ele foi até as janelas e fechou as cortinas novamente. É por isso que ele permanece. Obedece até o não dito.

Horas depois, enquanto eu ainda trabalhava, a porta se abriu novamente. Revirei os olhos.

Meu pai havia voltado, mais nervoso do que antes. Ao seu lado, três mulheres. Empregadas novas. Ele as mandou se alinhar diante da minha mesa.

A primeira, uma senhora de cerca de cinquenta anos, um pouco acima do peso, com o olhar no chão. A segunda, alta e magra, tremia ligeiramente — nervosa. Também mantinha os olhos baixos. Mas a terceira... Ah, a terceira.

Mediana. Branca. Queixo erguido. A única a me encarar. O medo ainda morava em seus olhos, mas ela o enfrentava com dignidade.

— Contratei uma cozinheira e duas empregadas. — meu pai disse, sem pedir minha opinião. Depois, apontou para a mulher de queixo erguido. — Você. Comece por este escritório. Está imundo.

Ela assentiu e se aproximou com o espanador. Mas me levantei abruptamente, os dentes cerrados.

— Saia de perto da minha mesa.

Ela me encarou.

— Está tudo muito sujo. Isso pode causar problemas respiratórios. Notei as janelas empoeiradas, as cortinas encardidas. Em poucos dias, o senhor pode adoecer.

— Deixe ela fazer o trabalho! — meu pai insistiu.

Rangendo os dentes, vi quando ela começou a passar o espanador sobre a mesa, levantando a poeira. Foi a primeira empregada a me desafiar. A ignorar minhas ordens.

Será que essa mulher... não tem medo da morte?

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