Filha sumida

NARRAÇÃO DE SARA...

Jesus... essa foi por pouco. Por muito pouco.

Brady Dawson é cruel. E pelo visto, meus dias serão uma verdadeira batalha para conseguir manter minha família. Por um triz não implorei para ficar, depois que ele afirmou que eu estava demitida. Quase supliquei... mas o brilho de satisfação no olhar dele, esperando me ver rastejar, me fez recuar. Então o confrontei. Disse o óbvio: ninguém conseguiria limpar a bagunça daquele escritório em apenas vinte minutos. E por fim, ele voltou atrás na decisão. Respirei em puro alívio. Praticamente fugi do escritório assim que ele me liberou.

Uma coisa é certa: tenho muito trabalho pela frente naquela mansão.

Procurei pela enorme cozinha e encontrei Dona Marie, apressada, esfregando a bancada como se o tempo fosse seu maior inimigo.

— Me deixe fazer isso, Marie — pedi, sabendo que ela precisava correr para preparar o almoço. Ela sorriu, grata. Era o mínimo que eu podia fazer. Afinal, foi graças a ela que consegui esse trabalho.

O primeiro dia foi exaustivo ao extremo. Era coisa demais para uma pessoa só. No mínimo, aquele patrão deveria ter contratado uns sete empregados... Ao menos ele permaneceu trancado no escritório, como se estivesse apenas esperando um motivo para nos mandar embora.

Quando o sol caiu, a exaustão bateu. Minhas costas ardiam. Eu, Marie e Evelyn entramos no carro onde o motorista nos aguardava. Pelo menos, não precisaríamos enfrentar o ônibus após um dia tão pesado.

Eu queria desabafar, reclamar com elas sobre o quão frio e insensível é o Sr. Dawson, mas o motorista nos encarava pelo retrovisor a cada cinco minutos, atento demais. Quando ele nos deixou em frente às nossas casas — sim, somos vizinhas, moramos lado a lado —, nenhuma de nós teve ânimo sequer para conversar. Marie e Evelyn apenas se despediram com um aceno cansado.

Respirei fundo, ajeitei a bolsa no ombro e entrei em casa. Ao abrir a porta, encontrei Julie, minha filha, sentada no chão, brincando com seu coelhinho de pelúcia. Reparei em seus pés: faltava uma das meias rosas.

— Julie! O que eu disse? Não pode ficar descalça... Você pode ficar doente, está frio! — reclamei, largando a bolsa no sofá.

Ela nem se importou com a bronca. Levantou num pulo, com um sorriso, e correu em minha direção.

— Mamãe!

Sorri. Meu coração aqueceu. Me abaixei e a abracei forte, sentindo aquele cheirinho bom de criança. Por um instante, tudo ficou em paz.

— Vovô fez sopa! — anunciou.

Sorri, a peguei no colo e caminhei até a cozinha, onde o cheiro da sopa era acolhedor e reconfortante. Minha mãe se virou, secando as mãos com um pano.

— Conseguiu, filha? — perguntou, tensa.

Fiz suspense, encenei um ar de derrota. Ela arregalou os olhos, o rosto desanimou, mas tentou sorrir. Acariciou meus ombros, tentando me animar.

— Não se preocupe... você vai encontrar algo melhor logo.

Mas eu não aguentei segurar o riso.

— Eu consegui! EU CONSEGUI! — gritei, saltando com Julie no colo, fazendo-a gargalhar.

Minha mãe levantou as mãos para o céu, agradecendo.

— Vou colocar uma meia nela e já volto pra jantarmos! — avisei sorridente, com o coração quente.

Levei Julie para o quarto, a coloquei sobre a cama e procurei o par da meia perdida. Não encontrei. Então peguei outro par, mesmo diferente.

— Mamãe, agora você tem dinheiro? Um monte?

— Ainda não, meu amor. Mas quando eu receber, vou comprar um novo urso de pelúcia. Esse coelhinho já está bem encardido... parece o coelho da Mônica! — brinquei.

Mas ela o abraçou com carinho.

— Mas eu gosto dele — reclamou.

Sorri, toquei a pontinha do seu nariz e a levei de volta para a cozinha.

Deixei Julie com minha mãe e tomei um banho rápido. Estava acabada, e no dia seguinte ainda teria que acordar cedo. Jantamos juntas, aproveitei pra reclamar com minha mãe, sobre como o meu patrão Brady é um ogro. Ela apenas ria, depois coloquei minha filha para dormir. Eu estava tão cansada que acabei adormecendo ao lado dela, abraçada ao seu pequeno corpo.

Acordei com batidas na porta. Me levantei e abri. Minha mãe estava ofegante.

— Filha... — sussurrou, e eu entendi de imediato: ela estava passando mal.

Corri com ela nos braços. Pedi que Marie, minha vizinha, olhasse Julie até que eu voltasse. Começava a amanhecer quando saí de casa — e para piorar, a chuva começou a cair com força.

Evelyn, a filha de Marie, nos socorreu com seu carro. Chegamos ao hospital sob o aguaceiro. O médico nos informou que minha mãe precisaria ficar internada. A diabetes estava fora de controle.

Saí do hospital em prantos. Medo. Medo dela piorar. Medo de tudo. Eu não tinha cabeça nem para voltar ao trabalho. Mas Evelyn me incentivou, lembrando que eu não podia perder esse emprego. E era verdade.

Sem creche por causa das férias e sem alternativas, levei Julie comigo.

Ela entrou na mansão segurando minha mão, os olhos arregalados, maravilhada com tudo.

— É muito grande, mamãe — sussurrou, com a mais pura inocência.

Me abaixei ao seu lado e sorri, escondendo a dor e a preocupação.

— É sim. Mas eu preciso que prometa uma coisa: fique no quarto onde vou te deixar. Não saia por nada. Lá tem uma TV. Assista seus desenhos. Na hora do almoço, levo sua comida. Tudo bem?

Ela assentiu e abraçou seu coelhinho de pelúcia. A conduzi até um dos quartos que eu havia limpado no dia anterior. Ela se deitou e ficou assistindo TV, mexendo nos pezinhos. Suspirei. Preciso pensar positivo...

Saí confiando que tudo ficaria bem.

Comecei a faxina pela área de lazer. Fiquei chocada com o estado do lugar. Até mesmo a mesa de sinuca estava desbotada, cheia de poeira e teias de aranha. Trabalhei sem parar até a hora do almoço. Então, fui até o quarto buscar Julie.

Abri a porta.

Meu coração disparou.

Meu rosto adormeceu, a boca secou, um nó imenso se formou na garganta.

Ela não estava lá.

A TV seguia ligada, sozinha.

Corri pelo corredor, sentindo falta de ar. Os olhos marejaram. Um pânico me consumiu por inteiro.

Minha filha… minha filha sumiu.

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