Capítulo 37 — A verdade vem em doses... cortando.
Caius Varella
A casa tava igual. O mesmo cheiro de café, de bolo, de infância. O mesmo tapete torto da sala. O mesmo porta-retrato na estante — aquele com a minha foto aos dez anos, sorrindo sem saber que, um dia, tudo isso ia doer.
Mas, hoje, até o silêncio parecia diferente.
Mais pesado.
Mais denso.
Mais afiado.
Ela foi até a cozinha.
Me deixou sentado na mesa da sala.
Voltou com uma garrafa de café, duas xícaras, aquele pote de biscoito amanteigado que ela sempre fazia quando queria acalmar alguma coisa — e hoje, parecia, ela queria acalmar o mundo inteiro.
Sentou na minha frente.
Segurou a própria mão, apertando os dedos, como quem procura coragem no próprio corpo.
— Sua irmã e seu pai... — a voz dela veio baixa, falha. — Foram pra casa da minha mãe. Eu... eu pedi. Eu precisava que... que só a gente estivesse aqui.
Assenti. Não falei nada.
O nó na garganta não deixava.
Ela respirou fundo.
O olhar perdido na própria xícara.
— Caius... — começou, a voz tremendo — ...eu queria te diz