ELE NUNCA FICA. E NUNCA PEDE DESCULPA POR ISSO.
O som da notificação ecoa no quarto. Uma mensagem não lida. Uma tentativa desesperada. Uma pergunta que não terá resposta. - “Oi, sumido… tá tudo bem?” Dante Navarro não responde. Nem abre. Nem visualiza. Nem pensa. Tá ocupado demais. Ocupado… vivendo o próprio padrão. O corpo quente da mulher ao lado ainda tá ali, largado nos lençóis bagunçados. Cabelos loiros espalhados no travesseiro, maquiagem borrada, sorriso sonolento de quem acha — iludidamente — que hoje vai tomar café da manhã a dois. Ele se levanta. Corpo definido. Peitoral riscado. Costas largas. Rosto impecável, barba bem desenhada, cabelos escuros ligeiramente bagunçados. Tudo nele grita problema. E ele sabe disso. E ama isso. * Dante não some. * Ele simplesmente… não fica. Veste a calça social preta. A camisa branca, aberta nos primeiros botões. Relógio Cartier no pulso. Sapato italiano. Perfume amadeirado, com notas de couro e pecado. Passa a mão no cabelo, ajeita, olha pra ela uma última vez. - “Foi bom.” — é tudo o que ele diz, com aquele sorriso de canto que parece carinhoso… mas é pura crueldade disfarçada. Ela abre um sorriso bobo, segura no lençol, tenta ser fofa: — “A gente se vê depois, né?” Ele prende o olhar nela. Respira fundo. Sorri mais largo, dessa vez quase com pena… e dispara, direto, limpo, cirúrgico: — “Não.” Vira as costas. Porta fecha. Fim. Pra ele? Só mais uma quarta-feira qualquer. ⸻ No elevador da cobertura até a garagem, ele ajeita o relógio, confere o celular. Duas, três, cinco mensagens não lidas. Todas de nomes que ele mal lembra. -‘’Sumido.” — “Ficou brava?” - “O que aconteceu?” Ele dá risada. - “Aconteceu que… você achou que era diferente. E não era.” ⸻ Na garagem, Lorenzo já tá encostado na Maserati preta, de óculos escuros e sorriso debochado. — “Deixa eu adivinhar… correu antes do café?” Dante abre a porta, entra, dá partida no carro e responde, sem nem olhar: — “Você fala como se isso fosse novidade.” — “E é, cara. Você nunca muda. Nunca fica. Nunca repete. É tipo… padrão Navarro de descarte.” — Lorenzo ri. No banco de trás, Gael, o mais quieto, o mais perigoso, solta: — “Vocês são doentes.” Enzo, ajeitando o blazer, complementa: — “A pergunta não é nem por que você some, Dante. É até quando você acha que vai conseguir continuar assim.” Dante ri. Olhar fixo na rua. Boca meio torta, meio deboche, meio desafio. — “Até quando eu quiser. Até alguém me fazer querer ficar. O que, spoiler… nunca aconteceu. E não vai acontecer.” Lorenzo se inclina, olha pra ele, provocando: — “Sabe o que é engraçado? Você fala tanto, mas eu DUVIDO que você consiga… sei lá… ficar com uma mulher. Uma só. Por, tipo… dois meses.” O carro freia no sinal. Silêncio. Dante vira lentamente a cabeça, encara Lorenzo. Sorriso de canto. Olhar cortante. — “Dois meses?” — “Dois.” — Lorenzo confirma. — “Sem sumir. Sem ghosting. Sem ser o canalha que você é. Quero ver você fazer isso. Se é que você consegue.”