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Capitúlo 4: O Sabor da Mentira.

A noite parecia afundar a ilha de Valdora num mar de escuridão líquida.

Nem os postes da estrada principal ousavam brilhar. Era como se a eletricidade estivesse com medo.

Ou obedecendo a algo maior.

Eu estava no escritório, lendo novamente a carta anônima que acompanhava a foto de Elyan. As palavras eram cortadas como aço:

“Ele não pertence a você.

E você nunca controlou nada.

Observe.

Está tudo começando.”

Assinatura? Nenhuma.

Símbolos? Só um selo de cera com a marca de uma serpente mordendo o próprio rabo.

Já tinha visto aquilo antes.

Era o selo de Aphelion.

Um grupo secreto, supostamente extinto, formado por ex-militares, mercenários e políticos invisíveis. Um grupo que eu conhecia… porque eu mesma fui um deles.

Eu já fui uma Aphelion.

---

Fazia sete anos. Eu era apenas “Círculo Três”, treinada para infiltrar, seduzir e aniquilar.

Missões silenciosas. Nada deixava rastros.

Até a noite do massacre no porto de Ceirov.

Mandaram-me matar um homem. Eu matei todos, menos ele.

Elyan Vargas.

Agora fazia sentido.

Ele sobreviveu.

Eu sobrevivi.

E agora estávamos na mesma casa.

Com contas não resolvidas e desejos que nos arrastavam como uma corda no pescoço.

---

Bati com força a gaveta e levantei-me.

Caminhei pelos corredores escuros da mansão até o jardim. Precisava de ar.

A chuva já tinha parado. Mas o chão ainda cheirava a terra molhada e confissão.

Foi ali que o vi.

Elyan.

No topo do muro, como uma sombra viva. Observando o horizonte.

— Espera por quem? — perguntei, com frieza.

Ele não se virou.

— Quem disse que estou esperando?

— A posição do corpo. Os ombros contraídos. Os olhos fixos. Isso não é contemplação. É vigilância.

Ele sorriu, ainda sem olhar para mim.

— Aprendeu isso onde? Na universidade de belas artes?

Aproximei-me devagar.

— Não. No Aphelion.

Silêncio. Finalmente, ele me olhou.

E pela primeira vez, vi medo.

— Então é verdade... — murmurou. — Você era uma deles.

— Eu fui. Você também, não foi?

Ele saltou do muro com agilidade felina. Agora estávamos frente a frente, no jardim escuro, cercados por estátuas e sombras.

— Eu fui alvo deles. — disse ele. — Você era a arma.

— E agora somos apenas sobras de uma guerra silenciosa.

— Você veio para me terminar?

— Não. Eu vim para sobreviver ao que está por vir.

Ele respirou fundo, olhos nos meus.

— Estão nos caçando?

— Não. Ainda não.

Mas estão nos observando.

---

Horas depois, algo estalou no fundo da casa.

Um som seco. Metal contra metal.

Corri até o hall.

O sistema de segurança estava piscando em vermelho.

Invasão.

Gritei o nome de Elyan, mas ele já estava lá.

Com uma arma em punho.

E um silêncio assassino no olhar.

— Duas entradas laterais — disse ele. — Pegaram os sensores, mas deixaram rastros no vidro.

— Profissionais?

— Amadores com pressa. E armas demais.

Corremos para o quarto do pânico. De lá, eu podia ver as câmeras internas.

Três homens. Máscaras. Movimentos coordenados. Alvo? Não era a casa. Era ele.

— Vieram por ti — falei.

— Ou por você.

— Ou pelos dois.

O momento seguinte foi puro instinto.

Elyan saiu primeiro. Rápido como um raio. Atacou pelas costas o primeiro intruso, derrubando-o com um golpe seco no pescoço.

O segundo tentou atirar, mas ele desviou, rolou e disparou. O tiro não matou, mas imobilizou.

Eu segui pelo outro lado, arma em punho.

Quando o terceiro homem me viu, congelou.

— Círculo Três...?

— Errou de casa, agente.

Bang.

O som do tiro foi pequeno. Mas o impacto, enorme.

Na minha cabeça, algo quebrou.

Eu matei de novo.

Mas não como antes.

Agora, havia emoção.

E isso era perigoso.

---

Após limparmos a cena, Elyan e eu voltamos ao jardim.

O céu ainda estava fechado.

Mas ali, entre os dois, a tempestade era interna.

— Você hesitou — disse ele, limpando as mãos.

— Não hesitei. Eu senti.

— E sentiu o quê?

— Que não quero mais viver como antes.

Ele se aproximou.

Devagar.

Como quem respeita uma dor que conhece.

— Isabella... eu não vim te destruir.

Eu vim te despertar.

— Para quê?

— Para quem você era.

E para quem ainda pode ser.

---

Ficamos ali. Um ao lado do outro. Sem palavras. Sem armas.

A guerra não tinha começado ali.

Mas agora... ela tinha nome.

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