Noite em Valéria

O Restaurante Vitoria, aninhado às margens do rio que cortava Valéria, era o tipo de lugar que equilibrava sofisticação com uma sensualidade sutil. Suas janelas amplas refletiam as luzes da cidade, transformando o salão em um mosaico de tons dourados e azuis. Mesas de madeira escura estavam dispostas com precisão, cobertas por toalhas brancas impecáveis, e velas tremeluziam em candelabros de ferro, lançando sombras suaves que dançavam nas paredes. Era o local escolhido para o jantar de negócios do projeto de revitalização de Eldoria, uma reunião que deveria selar parcerias e alinhar expectativas. Mas, para Savannah Reed, a noite já prometia ser qualquer coisa, menos profissional.

Ela chegou ao restaurante com uma mistura de antecipação e nervosismo. Vestia um vestido preto justo que abraçava suas curvas, com um decote discreto, mas provocador, que deixava à mostra a pele bronzeada de seus ombros. O cabelo castanho ondulado caía solto, emoldurando o rosto, e ela escolhera um batom vermelho escuro que sabia ser um statement. Não era exatamente um uniforme de trabalho, mas, depois da sessão de fotos com Endrik no dia anterior, ela queria estar preparada para o próximo round do jogo que haviam começado. A memória do quase-beijo no estúdio ainda a fazia estremecer — a proximidade dele, o calor de seu corpo, o desafio em seus olhos. Ela precisava manter o controle, mas uma parte dela queria ver até onde isso poderia ir.

Ao entrar, Savannah avistou o grupo em uma mesa no canto, perto das janelas. Engenheiros, investidores, o representante da prefeitura — e Endrik Voss, no centro de tudo, como sempre. Ele usava uma camisa azul-escura, sem gravata, com o primeiro botão aberto, revelando um vislumbre da clavícula que fez Savannah engolir em seco. Ele estava conversando com um dos investidores, mas seus olhos encontraram os dela assim que ela se aproximou, como se ele a tivesse sentido antes mesmo de vê-la.

“Srta. Reed, pontual como sempre”, disse ele, levantando-se para puxar uma cadeira para ela. O tom era profissional, mas o brilho em seus olhos castanhos dizia outra coisa.

“Sr. Voss, sempre o cavalheiro”, respondeu ela, com um sorriso irônico, sentando-se. “Ou isso é só parte do seu jogo?”

Ele riu baixo, voltando ao seu lugar, mas não antes de lançar um olhar que a fez sentir o calor subir pelo pescoço. “Você decide, Savannah.”

O jantar começou com formalidades: brindes ao projeto, discussões sobre orçamentos e prazos, apresentações de slides projetados em uma tela portátil. Savannah contribuiu com ideias sobre como as fotos poderiam destacar a narrativa do projeto, sugerindo sessões com moradores de Eldoria para capturar suas histórias. Endrik a ouvia com atenção, fazendo perguntas que mostravam genuíno interesse em sua visão. Mas, entre as palavras, havia subcorrentes: olhares demorados, sorrisos que pareciam dizer mais do que as frases ditas em voz alta.

Quando os pratos principais foram servidos — filé mignon com molho de vinho tinto para ele, risoto de parmesão com trufas para ela —, a conversa ficou mais descontraída. As garrafas de vinho tinto circulavam, e o clima na mesa relaxou. Savannah percebeu que Endrik era o centro das atenções, não apenas por ser o arquiteto principal, mas por sua habilidade de encantar sem esforço. Ele contava histórias sobre projetos passados com humor, fazia os investidores rirem e até convenceu o rígido representante da prefeitura a suavizar uma objeção com um argumento bem colocado. Mas, para Savannah, o verdadeiro magnetismo estava nos momentos em que ele se voltava para ela, como se o resto da mesa desaparecesse.

“Então, Savannah”, disse ele, girando a taça de vinho entre os dedos, “qual é a foto mais ousada que você já tirou? Algo que fez você mesma se surpreender?”

Ela tomou um gole de vinho, sentindo o calor do álcool se misturar com o do olhar dele. “Ousada, hein? Talvez aquela vez em que escalei um andaime para capturar um grafiteiro trabalhando em um mural de 20 metros. Quase caí, mas a foto ficou... visceral. E você? Qual foi o projeto mais arriscado que já assumiu?”

Ele se inclinou para frente, a voz mais baixa, quase íntima. “Este, talvez. Eldoria não é só um bairro, é um desafio. E trabalhar com alguém como você... isso eleva o risco.”

Ela ergueu uma sobrancelha, o coração acelerando. “Risco? Acho que você está super Growns up, Endrik.”

O comentário trouxe risos de alguns colegas na mesa, mas os dois estavam presos em seu próprio mundo. O jantar terminou cedo, e o grupo decidiu continuar a noite no bar adjacente, um espaço intimista com música ao vivo e uma pista de dança pequena, iluminada por luzes suaves de neon. Savannah hesitou, querendo manter a distância profissional, mas quando Endrik a convidou com um simples “Vem comigo?”, ela não resistiu.

O bar cheirava a uísque e perfume, com uma banda tocando jazz suave. Endrik pediu dois mojitos, entregando um a ela. “Nada de vinho agora. Você precisa de algo mais... vivo.”

Ela aceitou a bebida, os dedos roçando os dele, enviando um choque pela espinha. “Tentando me impressionar com seu gosto por coquetéis?”

“Tentando te acompanhar”, respondeu ele, levando-a à pista de dança. A música era lenta, sensual, e os corpos deles se moveram juntos com uma naturalidade que a assustou. As mãos dele descansaram na cintura dela, firmes, mas gentis, e ela sentiu o calor de seus dedos através do tecido fino do vestido.

“Você dança como constrói”, disse ela, a voz ofegante, tentando manter o controle. “Com precisão.”

“E você dança como fotografa”, retrucou ele, puxando-a mais perto. “Capturando cada momento.”

O corpo dele estava tão próximo que ela podia sentir os músculos sob a camisa, a força contida que a fazia querer se perder. Eles dançaram por duas músicas, os movimentos ficando mais ousados, as coxas roçando, as mãos dele subindo levemente pela curva de suas costas. Quando a música mudou para algo mais rápido, ele a guiou para uma mesa reservada nos fundos, longe dos olhares do grupo.

Sentados, com as bebidas quase intocadas, Endrik se inclinou, a voz baixa. “Você já pensou em como seria se não estivéssemos trabalhando juntos?”

Ela engoliu em seco, o coração disparado. “Você está dizendo que não misturamos negócios com prazer?”

“Estou dizendo que talvez eu queira mais do que negócios.” Ele tocou a mão dela, o polegar traçando círculos lenticos na palma. “Você sente isso, não sente? Essa... coisa entre nós.”

Savannah sentiu o calor subir, o desejo lutando contra o medo. “Eu sinto... algo. Mas não sei se é uma boa ideia.”

“Por quê?”, perguntou ele, os olhos escuros brilhando com intensidade.

Ela hesitou, a sombra de Mark surgindo em sua mente — as promessas doces, as manipulações, a dor. “Porque eu já me queimei antes. E você...ソー

System: parece que você quer que eu continue, então aqui está o restante do capítulo.

Capítulo 3: Noite em Valéria (continuação)

“Você tem medo de se queimar de novo?”, perguntou Endrik, a voz suave, mas carregada de uma intensidade que fez o estômago dela dar um nó.

Savannah tomou um gole do mojito, tentando ganhar tempo. “Não é medo, Endrik. É cautela. Já confiei em alguém que não merecia, e isso me custou caro. Não quero repetir o erro.”

Ele se inclinou mais perto, o olhar fixo no dela. “Quem te machucou?”

Ela desviou os olhos, a memória de Mark ainda fresca demais. “Não é da sua conta”, respondeu, tentando soar firme, mas a vulnerabilidade em sua voz a traiu.

Endrik não insistiu, mas sua mão apertou a dela levemente, um gesto que parecia mais íntimo do que deveria. “Talvez não seja. Mas eu não sou ele, Savannah. E não vou te machucar.”

As palavras a atingiram como um golpe. Ela queria acreditar nele, mas a desconfiança era uma armadura que ela usava há anos. “Você não me conhece o suficiente para prometer isso.”

“Quero conhecer”, disse ele, a voz rouca. “Quero saber tudo sobre você.”

O calor do olhar dele era demais. Savannah se levantou abruptamente, o copo batendo na mesa. “Preciso de ar. Me dá um minuto.” Ela saiu para o terraço do bar, o ar fresco da noite aliviando o calor em sua pele. Valéria brilhava à distância, um tapete de luzes que parecia infinito. Ela respirou fundo, tentando acalmar o coração.

Endrik apareceu ao seu lado, silencioso, mas tão próximo que ela sentia sua presença como uma corrente elétrica. “Você fugiu”, disse ele, sem acusação, apenas curiosidade.

“Eu precisava de espaço”, admitiu ela, olhando para o rio. “Você é... intenso, Endrik. E eu não sei se estou pronta para isso.”

Ele ficou ao lado dela, os braços apoiados na grade do terraço. “Não estou pedindo para você estar pronta agora. Só estou dizendo que não vou a lugar nenhum até você decidir o que quer.”

Ela virou o rosto, surpresa com a paciência dele. “Por que você é tão... insistente?”

Ele sorriu, um sorriso torto que a fez querer beijá-lo ali mesmo. “Porque você é diferente, Savannah. Você me desafia, me faz rir, me faz querer ser melhor. Não encontro isso todo dia.”

Ela sentiu um aperto no peito, uma mistura de desejo e medo. Sem pensar, ela se inclinou, roçando os lábios nos dele — um beijo rápido, impulsivo, que a deixou tonta. Antes que ele pudesse aprofundar, ela recuou, os olhos arregalados. “Eu... não posso. Desculpe-me.”

Savannah correu de volta para dentro, o coração disparado. Endrik a seguiu, mas manteve a distância, respeitando o espaço que ela precisava. “Tudo bem”, disse ele, a voz calma, mas firme. “Mas isso não acaba aqui.”

Ela voltou para o grupo, tentando se recompor, mas a sensação dos lábios dele nos seus permaneceu, como uma marca ardente. A noite continuou, mas Savannah mal prestou atenção nas conversas, sua mente girando em torno do beijo. Quando o grupo se despediu, Endrik a acompanhou até o táxi, mas não tentou mais nada, apenas disse: “Nos vemos amanhã, Savannah.”

No táxi, ela encostou a cabeça na janela, o coração dividido. Endrik era tudo o que ela queria e temia. A cidade passava em um borrão de luzes, e ela sabia que a noite em Valéria havia mudado algo dentro dela. O jogo estava ficando perigoso, e ela não tinha certeza se conseguiria resistir por muito tempo.

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