Reconciliação

A brisa salgada do mar acariciava o rosto de Savannah Reed enquanto ela caminhava pela praia de Valéria, as ondas quebrando suavemente contra a areia dourada. O sol estava se pondo, pintando o céu com tons de laranja e roxo, e a cidade parecia distante, como se o mundo tivesse se reduzido àquele trecho isolado de costa. Após a briga com Endrik na praça de Eldoria, sob a chuva que parecia ecoar a tempestade em seu coração, Savannah passara dias em um estado de torpor. O trabalho no projeto de revitalização continuava — fotos a editar, reuniões a atender —, mas cada momento era assombrado pela ausência dele. A discussão, desencadeada pela revelação de Jenna sobre Mark, havia exposto suas feridas mais profundas, e a mágoa nos olhos de Endrik a perseguia como uma sombra.

Ela não o via desde aquele dia. Ele respeitara o pedido de espaço, enviando apenas mensagens curtas e profissionais sobre o projeto. Mas naquela manhã, uma mensagem diferente chegou: “Encontre-me na praia da Ponta Azul, 18h. Precisamos conversar. Por favor.” O tom era diferente — não o charme confiante de antes, mas algo mais cru, mais vulnerável. Savannah hesitara, o medo de se abrir novamente lutando contra o vazio que sentia sem ele. No final, a saudade venceu, e agora ela estava ali, os pés descalços afundando na areia, o coração batendo forte.

Endrik já estava na praia quando ela chegou, de pé perto de uma falésia baixa, onde as ondas lambiam as rochas. Ele usava uma camiseta cinza simples e jeans, o cabelo escuro bagunçado pelo vento. Seus olhos encontraram os dela, e por um momento, nenhum dos dois se moveu, como se o peso do que havia acontecido os mantivesse ancorados. Então, ele deu um passo à frente, a expressão uma mistura de alívio e cautela.

“Você veio”, disse ele, a voz grave carregada de emoção. “Não tinha certeza se viria.”

Savannah cruzou os braços, tentando se proteger do turbilhão de sentimentos que a visão dele despertava. “Quase não vim. Mas... acho que te devo uma conversa.”

Ele assentiu, apontando para um trecho de areia onde uma manta havia sido esticada, com uma pequena cesta de piquenique ao lado. “Pensei que podíamos falar aqui. Longe de tudo. Só nós.”

Ela hesitou, mas seguiu-o, sentando-se na manta. O mar estava calmo, o som das ondas um contraste com a tempestade que ainda rugia dentro dela. Endrik abriu a cesta, tirando uma garrafa de vinho branco e duas taças, mas não serviu imediatamente. Em vez disso, ele se virou para ela, os olhos escuros brilhando com uma intensidade que a fez prender a respiração.

“Savannah, eu fui um idiota”, começou ele, a voz firme, mas cheia de arrependimento. “Na praça, quando te pressionei sobre seu passado, eu não estava pensando em como isso te afetava. Só pensei em como me senti... traído, de certa forma, por você não ter me contado tudo. Mas não era sobre mim. Era sobre você, e eu deveria ter respeitado isso.”

As palavras a atingiram como uma onda, e ela sentiu os olhos arderem. “Você não foi o único idiota, Endrik. Eu deveria ter sido mais aberta. Mas falar sobre Mark... é como reviver cada momento em que ele me fez sentir pequena. Eu não queria que você me visse assim, como alguém quebrada.”

Ele se aproximou, reduzindo o espaço entre eles, mas sem tocá-la ainda. “Você não é quebrada, Savannah. Você é forte, mais forte do que qualquer pessoa que já conheci. E eu quero ver tudo de você — as partes boas, as partes feridas, tudo. Porque é isso que te faz ser você.”

Ela olhou para ele, o coração apertado. “E se eu não souber como te dar tudo isso? E se eu te machucar no processo?”

Ele sorriu, um sorriso triste, mas cheio de calor. “Então vamos nos machucar juntos. Porque eu prefiro isso a não ter você na minha vida.”

O silêncio que se seguiu era pesado, mas não desconfortável. Savannah olhou para o mar, as ondas refletindo o pôr do sol como um espelho quebrado. “Eu também te machuquei”, admitiu ela, a voz baixa. “Quando vi você com Clara, quando Jenna mencionou Mark... eu deixei meu passado falar mais alto. Não confiei em você, e isso não foi justo.”

Endrik estendeu a mão, hesitando antes de tocar a dela. Quando ela não recuou, ele entrelaçou os dedos nos dela, o calor do toque enviando um arrepio por sua espinha. “Clara foi um erro que eu não cometi. E quanto a Mark... ele é o passado. Eu quero ser o seu presente, Savannah. E, se você me deixar, seu futuro.”

Ela olhou para as mãos unidas, sentindo as lágrimas que havia segurado por tanto tempo finalmente caírem. “Eu quero isso, Endrik. Mas estou assustada. E se não der certo? E se eu não for o suficiente?”

Ele levantou a mão dela, beijando os nós dos dedos com uma ternura que contrastava com a intensidade de seus olhos. “Você é mais do que suficiente. E se não der certo, pelo menos teremos tentado. Mas eu acredito em nós, Savannah. Acredito no que sinto quando estou com você.”

Ela se inclinou, incapaz de resistir à gravidade que ele exercia sobre ela. O beijo foi suave no início, uma reconciliação silenciosa, mas logo se aprofundou, carregado de tudo o que haviam segurado — saudade, medo, desejo. As mãos dele encontraram a cintura dela, puxando-a para mais perto, enquanto as dela subiram pelo peito dele, sentindo o coração batendo sob a camiseta. O beijo era uma promessa, um recomeço, e Savannah sentiu as últimas barreiras desmoronarem.

Eles se separaram, ofegantes, os rostos a centímetros de distância. “Isso significa que estamos bem?”, perguntou ele, a voz rouca, um sorriso brincando nos lábios.

“Estamos tentando”, respondeu ela, sorrindo de volta. “Mas vai levar tempo. E paciência.”

“Eu tenho todo o tempo do mundo para você”, disse ele, beijando-a novamente, desta vez mais lento, como se estivesse saboreando cada segundo.

A noite caiu, e eles ficaram na manta, dividindo o vinho e conversando sobre coisas simples — sonhos, medos, o futuro do projeto. Endrik falou mais sobre Lucas, sobre como ele sonhava em transformar lugares como Eldoria, e Savannah compartilhou histórias de suas viagens, de como a fotografia a ajudou a se reconstruir. Cada palavra era um tijolo na ponte que estavam construindo, uma conexão que ia além do desejo.

Quando a brisa ficou mais fria, Endrik tirou a jaqueta e colocou sobre os ombros dela, o gesto tão natural que a fez rir. “Você sempre faz isso, sabia? Me cobrir quando estou com frio.”

“Porque eu quero cuidar de você”, respondeu ele, puxando-a para um abraço. “E não vou parar.”

Eles caminharam de volta para o carro de Endrik, de mãos dadas, a cidade brilhando ao longe como uma constelação de possibilidades. Savannah sabia que ainda havia desafios pela frente — o passado não desaparecia tão facilmente, e a confiança era algo que precisava ser construída dia após dia. Mas, pela primeira vez, ela sentia esperança, como se o fogo que os unia pudesse queimar mais forte do que qualquer tempestade.

No carro, Endrik a levou até o estúdio, mas antes de ela sair, ele segurou a mão dela. “Isso é real, Savannah. Você e eu. Vamos fazer dar certo.”

Ela sorriu, apertando a mão dele. “Vamos tentar, Endrik. Um dia de cada vez.”

Quando ela entrou no estúdio, o silêncio era diferente agora — não mais pesado, mas cheio de promessas. Ela olhou para as fotos no laptop, encontrando uma de Endrik da sessão artística, os olhos dele cheios de vulnerabilidade e força. Pela primeira vez, ela acreditou que talvez pudesse se permitir amar de novo. E, no loft de Endrik, ele olhou para a cidade, o coração mais leve do que em anos. A reconciliação era apenas o começo, mas era um começo que valia tudo.

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