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O Dragão e o Mago: A Última Chama
O Dragão e o Mago: A Última Chama
Por: Carlos Lafaete
Capítulo 1 - A Menina e o Fogo Antigo

A cidade de Valemar sempre foi cercada por névoas. Diziam que as montanhas ao norte sussurravam para quem se atrevesse a ouvir. Ninguém acreditava realmente nisso... até que o silêncio se tornou pesado demais.

Kaori caminhava sozinha pelas trilhas próximas à floresta, sentindo um incômodo no ar. Não era vento. Era um arrepio. Uma sensação estranha, como se o mundo respirasse devagar demais. Ela se agachou diante de uma pedra antiga, coberta de musgo, e fechou os olhos. O som veio.

— Eles estão voltando... A luz vai cair...

Ela recuou, ofegante. Jurava ter ouvido a voz dentro da cabeça. Mas quando abriu os olhos, tudo estava igual — exceto por um corvo de olhos cinzentos a encarando. Depois, voou em direção à cidade.

Na mesma manhã, Noah desenhava em seu caderno, sentado na janela do orfanato. Sempre sentiu que havia algo errado com ele. Às vezes, sonhava com palavras que não entendia. Palavras que pareciam... fórmulas. Feitiços. E naquela noite, uma dessas palavras havia queimado sua página como se estivesse viva: "Veymra."

Noah repetiu a palavra em voz baixa. E o vidro da janela estilhaçou.

Lá fora, os sinos da igreja tocaram por conta própria. A cidade parou. Um bebê chorou. Um cachorro latiu para o nada. E lá do alto da montanha, o sussurro ecoou novamente, mais alto.

"Vocês esqueceram quem eu sou. Mas eu voltei. E a esperança... morrerá primeiro."

A noite chegou mais cedo em Valemar. As luzes da cidade oscilavam como se hesitassem em permanecer acesas. Kaori andava apressada pelas ruas de paralelepípedos, com a mente ainda perturbada pelo sussurro da montanha. Seus pais notaram seu silêncio no jantar, mas sabiam que perguntas só a afastariam mais.

Ela sempre foi... diferente.

Naquela madrugada, o calor a despertou. Não era febre. Era um fogo. Sua pele queimava, mas não por fora — algo em seu peito pulsava, como uma chama contida. Ela correu para o quintal e caiu de joelhos no gramado. Sentiu as costas se arquearem, os olhos ardendo, a respiração ficando densa.

Então, sonhou — ou acreditou sonhar — com uma mulher de olhos dourados e cabelos como brasas flutuantes.

— Você foi marcada ao nascer, disse a figura. Carrega em si o Fogo Antigo. É hora de se lembrar...

E Kaori se lembrou.

A memória não era sua. Era de uma fera. Um ser de escamas rubras, garras afiadas e asas que cortavam o céu. Um dragão, aprisionado por séculos no coração de uma linhagem esquecida. Ela acordou gritando, mas sem som. Ao seu redor, a grama estava queimada. Suas mãos, vermelhas. Seus olhos, agora... âmbar.

No centro do quintal, uma marca em forma de espiral brilhava no solo, queimando devagar até apagar-se como carvão.

Na mesma hora, do outro lado da cidade, Noah sentiu um baque no peito. Sua janela, reparada às pressas, se partiu novamente — sem vento, sem nada. Apenas uma ligação invisível. Algo estava chamando por ele.

E, sem saberem, o dragão e o feiticeiro tinham acabado de despertar... juntos.

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