CAPÍTULO 06

JULIAN

Depois do que a Amanda disse sobre a cunhada, reacendi a esperança de que ela desistisse de tudo aquilo. Sempre fui apaixonado por ela, mas o que estava prestes a fazer era uma verdadeira loucura. Fiz muitos planos para nós dois — e nenhum deles incluía vê-la carregando um filho que não fosse nosso.

Passaríamos por tudo o que um casal enfrenta nessa fase — e isso seria colocar a carroça na frente dos bois. Além disso, haveria os preconceitos. Como reagir quando viessem me parabenizar pelo filho que não era meu? Ter que explicar essa situação seria, no mínimo, constrangedor.

Decidi, então, ligar para os meus pais. Sempre que me sentia perdido, era a eles que recorria. Nos momentos de incerteza, eles eram meu porto seguro. Não demorou muito para que minha mãe atendesse.

— Oi, meu amor, como estão as coisas?

— Indo, mãe! E vocês, como estão?

— Bem, meu querido! O que houve?

— Nada, mãe! Só liguei por ligar.

— Agora você me deixou ainda mais certa de que algo está acontecendo. Você nunca liga só para falar, filho. Me conte o que está acontecendo, talvez possamos te ajudar.

— É a Amanda, mamãe. O irmão dela está com leucemia, e o médico não deu muitas esperanças. Ela está arrasada.

— Imagino o quanto isso deve estar sendo difícil para ela, filho. Mas, nesse momento, a única coisa que você pode fazer é apoiá-la. Como namorado, é isso que ela espera de você.

— Eu sei, mas ela está determinada a realizar o sonho dele. O sonho que ele nunca chegou a realizar.

— Isso é compreensível, meu amor. Então, por que você está tão chateado com isso?

— Porque o sonho dele é ser pai, mamãe. A esposa dele não pode ter filhos, e a Amanda se ofereceu para gerar o bebê deles.

Silêncio absoluto do outro lado da linha. Eu sabia que minha mãe estava relembrando tudo o que passamos alguns anos atrás. Minha prima também fez o mesmo que a Amanda, ajudando o irmão, mas a gravidez dela foi muito complicada.

No final, perdemos três vidas: minha prima, o bebê e meu primo, que não resistiu à doença. Como médico, sei que nenhuma gravidez é igual à outra, mas era natural o medo de que tudo pudesse se repetir.

— Agora eu entendo por que você está tão chateado. Eu compreendo você, Julian. O que pretende fazer a respeito?

— Ainda não sei, mãe… não sei o que fazer.

— Você sabe dos riscos que vai enfrentar. Sem contar que existe muita gente preconceituosa por aí. Você viu tudo o que sua prima passou. Está disposto a enfrentar esses preconceitos por causa dela?

— Eu a amo, mamãe. Já fiz vários planos para nós dois, mesmo sabendo que eles poderiam mudar a qualquer momento, mas nunca imaginei algo dessa magnitude. Tentei conversar com ela, mas ela está irredutível, e não sei se estou preparado para enfrentar tudo isso.

— Pode até parecer egoísmo da sua parte, meu filho, mas acredito que a melhor decisão, pensando em você, seria aceitar aquela vaga que seu padrinho te ofereceu em Toronto. Assim, você ficará distante e não precisará se envolver com tudo isso — argumentou meu pai.

— Eu disse para ela que havia aceitado a vaga, papai.

— O que ela falou, Julian? — perguntou minha mãe.

— Que eu deveria aceitar. Que essa era a oportunidade que todo médico sonha para a carreira e que, se um dia tivéssemos que terminar juntos, nos encontraríamos novamente.

— Filho, acho que essa moça não te ama como você merece. Acho que chegou a hora de você pensar em você e na sua carreira. Seu pai disse que vai entrar em contato com seu padrinho e cuidar de tudo. Será melhor assim.

— Tudo bem, mamãe.

— Você pode até sofrer um pouco no começo, mas estará tomando a melhor decisão. Não desperdice a carreira que tem pela frente por alguém que nem ao menos considerou seus sentimentos. Nosso sonho, Julian, é ver você bem-sucedido e brilhando na sua área, e você, meu filho, tem todo o potencial para isso — argumentou meu pai.

— Eu sei disso, papai.

Encerrei a ligação e fui até a cozinha pegar um copo d'água. Ao passar pelo quarto da Amanda, ouvi seu choro abafado. Confesso que tive vontade de entrar, mas ela escolheu o próprio caminho — agora chegou a minha vez de fazer minhas escolhas. Como meu pai disse, a dor pode estar presente agora, mas logo vai passar.

Eu sabia que ela também estava sofrendo nesse processo, então ir embora era a melhor decisão. Se ficasse, não conseguiria manter distância entre nós, e isso só nos magoaria ainda mais. Além disso, eu não conseguiria concentrar a cabeça no trabalho.

Minha atenção estaria toda voltada para a Amanda, para o que ela estaria passando e como enfrentaria cada momento. Eu acabaria deixando meus sonhos profissionais em segundo plano. Depois do que meus pais me disseram, eu sabia que não poderia decepcioná-los — depois de tudo que fizeram para me ajudar a chegar até aqui.

Passei pelo quarto dela e fui até a cozinha. Peguei um copo d’água e voltei para o meu quarto. Sentei na cama por um momento e, como um filme, toda a minha história com a Amanda passou diante de mim. Mas a única pergunta que não saía da minha cabeça era: como ela podia estar disposta a jogar tudo aquilo fora por algo que, na verdade, nem tinha chance de dar certo?

Eu não conseguia parar de pensar nas possíveis consequências dessa decisão. E se a gravidez não vingasse? E se o irmão dela morresse antes mesmo da criança nascer? Ou pior, e se a cunhada se arrependesse de todo o procedimento no meio do caminho?

Tudo isso me aterrorizava, porque, no fundo, parecia que ela estava disposta a jogar nosso futuro fora por uma tentativa que, para mim, parecia banal e cheia de riscos.

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