"Eu nunca temi inimigos. O que me apavora é a possibilidade de perdê-la.” — Fernando Torrenegro
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A noite não acabou quando ela adormeceu.
Acabou para ela, mas não para mim. Fiquei sentado na beira da cama, ainda com a mão dela presa à minha. Os dedos pequenos, quentes, descansando sobre os meus como se confiassem que eu jamais soltaria. E ali estava o problema: eu não quis soltar.
Eu, Fernando Torrenegro, que sempre vivi da arte de arrancar, destruir, tomar, não fui capaz de abrir a mão e deixá-la livre. Era como se minha pele tivesse criado raízes na dela.
Senti medo.
Não do que poderia acontecer com ela. Mas do que já estava acontecendo comigo.
Relembrar Sofia foi abrir um cofre que mantive trancado a ferro e fogo durante anos. Eu jurei nunca mais pronunciar o nome dela. Nunca mais permitir que a lembrança de sua risada enfraquecesse o monstro que precisei me tornar.
Mas bastou Luna pedir, bastou aquele sussurro — “fala dela para mim” — e o cofre se abriu. As memórias escaparam, v