Fiquei sozinha por alguns minutos na Sala B. Desliguei as notificações, abri meu caderno e desenhei um trecho da praça. Curvas como ondas, bancos como costas, uma árvore central para amarrar o tempo. Foi então que senti o formigamento. Não na pele. No ar.
Alguém estava olhando.
Eu me virei. Não havia ninguém. Mas o reflexo do vidro da porta mostrava um fragmento de sombra que se afastava.
—Pablo? —chamei.
Ele não respondeu. Guardei o caderno. Saí para o corredor. Nada. Um ruído de passos na escada de serviço. Muito leve para botas. Muito curto para um executivo.
— Tudo bem? — Eva apareceu de um escritório.
—Sim —menti—. Acho que ouvi algo.
—Venha. Claudia quer que revisemos a cronologia do que aconteceu no parque.
Entrei e me forcei a deixar a inquietação na soleira da porta.
***
Era doloroso reler a cronologia, mas ela nos dava pistas. Hora exata. Rota. Posição do sol. Testemunhas que não eram testemunhas porque ninguém olha para estranhos que estão andando. Claudia ergueu os olhos n