O Chamado do Destino

A lua cheia banhava a clareira com uma luz prateada, e o silêncio que se seguiu ao uivo era tão profundo que Lívia podia ouvir o próprio coração batendo forte no peito. Ela continuou a olhar para o lobo de pelagem escura, e a sensação de reconhecimento era avassaladora. Seus olhos âmbar eram como chamas, quentes e intensos, e pareciam penetrar em sua alma, como se estivessem lendo a história de sua vida.

A criatura, por sua vez, não se moveu, apenas a observava com uma quietude que não era selvagem, mas sim pensativa. Lívia se perguntou se estava sonhando. Seria possível que o cansaço do dia, somado ao estresse do jantar com Daniel, estivesse lhe pregando uma peça? Mas o cheiro da floresta, a brisa fria em seu rosto e a palpável presença do lobo eram inegavelmente reais. Ela estendeu a mão lentamente, como se estivesse tentando tocar o impossível.

No mesmo instante, o lobo se levantou, mas não para fugir. Ele se aproximou, e Lívia notou a grandiosidade de sua forma, a força contida em cada músculo. Sua cabeça ficou na altura do peito dela, e ele esfregou o focinho em sua mão estendida, um gesto de carinho e reconhecimento que a fez soltar um suspiro surpreso. Era como se estivessem se cumprimentando depois de uma longa jornada.

"Você não me tem medo?" disse uma voz na escuridão, e Lívia sobressaltou-se. Ela não tinha notado a presença de mais ninguém na clareira.

De dentro das sombras, emergiu um homem alto e forte, com cabelos negros e olhos da mesma cor dos do lobo: âmbar. Ele vestia roupas simples, mas a autoridade que emanava dele era inegável. Era Kael, o alfa do bando. O lobo, aos seus pés, parecia mais calmo com sua presença.

"Quem é você?" Lívia perguntou, com a voz embargada de surpresa e, finalmente, de um pingo de medo.

"Eu sou Kael," ele respondeu, e sua voz era tão profunda quanto o uivo que a trouxera até ali. "E este é meu lobo interior." Ele olhou para o lobo, que o fitava com devoção, e depois voltou os olhos para ela. "Mas a minha pergunta é a sua. O que uma humana está a fazer na nossa clareira à esta hora da noite?"

"Eu... Eu ouvi um uivo," ela explicou, sua mente ainda tentando processar a situação. "Eu moro em Havenwood. E... eu não sabia que havia um... um bando aqui."

Kael deu um passo à frente, e a tensão entre eles se tornou quase insuportável. "Você é a companheira," ele disse, e a afirmação não soou como uma pergunta. Era uma certeza.

"O quê? Eu não sei do que está a falar," Lívia respondeu, sentindo-se cada vez mais confusa.

"A lenda," Kael continuou, e seus olhos fixaram os dela com uma intensidade que a fez tremer. "A lenda da companheira destinada. A outra metade da alma de um alfa, a que é escolhida pela lua para ser a força do bando." Ele se aproximou ainda mais, e ela pôde sentir o calor de seu corpo, o cheiro de pinho e terra molhada que vinha dele.

"Eu não... eu não posso ser. Eu sou humana," Lívia gaguejou, o coração martelando no peito. "E eu tenho namorado."

A menção de outro homem pareceu irritá-lo. O lobo interior de Kael rosnou, um som baixo e ameaçador. "O destino não se importa com a sua vida humana," ele disse. "Você é a minha companheira. Meu lobo a reconheceu. Eu sinto isso, em cada célula do meu ser. O cheiro da sua alma, o brilho dos seus olhos... Você é a minha outra metade."

Antes que Lívia pudesse responder, um outro som vindo da floresta quebrou a tensão. Era um galho quebrando, e em seguida, uma figura solitária emergiu da escuridão. Era outro lobisomem, com olhos de um tom de cinza tempestade e uma expressão amarga. Era Silas, o lobo solitário.

Silas olhou para Kael, depois para Lívia, e seu rosto se contorceu em uma mistura de raiva e incredulidade. "Não... não é possível," ele murmurou, e sua voz era um murmúrio rouco, como se ele não a usasse há muito tempo. "É ela. A minha companheira."

Kael se colocou na frente de Lívia, protegendo-a com seu corpo. "Ela é a minha companheira, Silas. Eu a encontrei. O destino a escolheu para mim."

Silas riu, um som sem alegria. "O destino me escolheu primeiro, Kael. Mas você me roubou a felicidade, e agora ousa me roubar a única coisa que me restou? Você a enganou, não foi? Disse a ela que é a sua companheira?"

A raiva de Kael era palpável. "Eu não enganei ninguém. Ela veio até o nosso chamado. E a minha alma a reconheceu. Saia daqui, Silas. Você não tem mais lugar aqui."

"Eu não vou a lugar nenhum," Silas respondeu, e o lobo interior nele parecia lutar para emergir. "Eu a reconheci primeiro. A lua me escolheu para ela. Mas a arrogância de vocês e do destino me fizeram perdê-la. E agora eu a encontrei novamente. Ela é minha, Kael. Ela é a minha companheira."

Lívia estava no meio dos dois, o coração acelerado de medo e de algo mais, algo que ela não podia descrever. O cheiro de Kael, de pinho e terra, era forte e reconfortante. Mas o cheiro de Silas, de fumaça e de algo amargo, também a chamava, de uma forma diferente.

A lua cheia, que antes parecia um farol de luz e esperança, agora parecia um holofote sobre um drama que estava a ser encenado para ela. Lívia, a jovem humana de Havenwood, estava presa entre dois lobos, e o destino que a aguardava era muito mais complexo do que o conto de fadas que ela costumava ler. Ela não sabia o que fazer ou o que dizer. E a única coisa de que tinha certeza era de que nada na sua vida seria igual.

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