O Coração Roubado
O Coração Roubado
Por: Mistyc
Capítulo 1

O chão frio do corredor do hospital parece sugar a última gota de energia dos meus pés. São quase sete da manhã, e o eco dos meus passos se mistura com o zumbido constante das máquinas. Catarina, minha amiga de plantão e parceira de caos, tenta desesperadamente me arrastar para fora desse labirinto branco.

-Estela, por favor! A gente merece. Uma noite na 'La casa del diavolo' vai apagar essa semana de horrores.- Os olhos dela brilham com uma intensidade que eu invejo; eu, por outro lado, só consigo pensar em como meus olhos ardem por trás das lentes de contato.

-Catarina, você sabe que eu te amo, mas a ideia de encarar uma multidão suada e música alta depois de transplantar um fígado soa como... tortura."

Ela revira os olhos, um gesto teatral que conheço bem.

-Qual é, Estela? A 'La casa del diavolo' é a ' La casa del diavolo'

Catarina insiste, alegando que uma noite de diversão é crucial para nossa sanidade. A "La casa del diavolo" soa como o meu próprio inferno particular, mas a persistência dela é quase tão implacável quanto a minha exaustão.

Respiro fundo, cedendo à pressão.

-Tudo bem, Catarina. Mas se eu virar abóbora à meia-noite, a culpa é toda sua.

Ela grita em comemoração e me abraça forte, quase me derrubando. Enquanto ela tagarela sobre o que vamos vestir e como vamos arrasar na pista de dança, me pergunto se essa noite realmente vai valer a pena. Talvez, no meio da fumaça e das luzes estroboscópicas, eu encontre algo mais do que apenas uma ressaca monstruosa. Talvez eu encontre... problemas.

**************

Os saltos de Estela ecoavam pelo chão como uma batida desacelerada de coração. Aquela não era sua zona de conforto. Muito brilho, muito perfume, muita fumaça,risos altos demais. sons altos demais quase ensurdecedor. Não era um hospital. Era uma balada.

Ela havia sido praticamente arrastada até ali por sua melhor amiga, que jurava que ela precisava de "uma noite de libertação". Depois de meses de plantões seguidos, exames clínicos, cirurgias de emergência e noites solitárias com séries médicas na TV, talvez estivesse certa.

O vestido vermelho colado ao corpo a deixava insegura. Decotado demais, justo demais, sexy demais para alguém que passava os dias escondida atrás de um jaleco branco.

— Isso é uma péssima ideia, Catarina. — Estela segurava o vestido vermelho como se ele fosse um jaleco prestes a rasgar.

— E ainda assim, aqui está você, maravilhosa e emburrada, exatamente como eu imaginei. — Catarina piscou, oferecendo uma bebida — Bebe. Ou você vai explodir de tensão antes da meia-noite.

O salão estava lotado. Luzes douradas flutuavam pelas paredes, um DJ comandava a pista com batidas sensuais, e os corpos se moviam com liberdade intoxicante. A balada estava lotada, e todo mundo ali parecia estar em outro mundo, dançando, rindo, fumaças por toda a parte. um mundo desconhecido para mim.

Depois de 36 horas em plantão, a última coisa que queria era se equilibrar em saltos e ser espremida entre os corpos suados e dançantes.

— Eu não devia estar aqui. — Estela suspirou, aceitando o copo. — Eu devia estar dormindo ou assistindo Grey’s Anatomy pela centésima vez.

— Você devia estar vivendo. Só hoje. Esquece bisturis, esquece hospital. Ninguém aqui quer ser salvo. — Catarina riu e deu um gole generoso na própria bebida. — Mas se quiser se redimir amanhã, pode me receitar um analgésico. Esse salto tá me matando.

Estela não conseguiu conter a risada.

— Você é um caso perdido.

— Eu sou a melhor má influência que você poderia ter. Agora, vamos dançar. Vai ser indolor, eu juro.

Antes que pudesse protestar, Catarina já a puxava para o meio da pista. A música carregado de batidas graves e vocais roucos. Era o tipo de som que fazia a pele formigar — ou talvez fosse o Drink.

Enquanto Catarina se perdia com um flerte, Estela girou lentamente sobre os próprios pés, tentando entrar no clima. Os olhos dela estavam semi-cerrados quando um toque firme segurou sua cintura.

— Posso? — A voz era grave, aveludada, carregada de confiança, com um sotaque sexy.

Estela olhou para cima e seus olhos encontraram os dele — escuros, intensos, perigosos. Um leve arrepio subiu por sua espinha. A pele sob o tecido fino do vestido parecia queimar sob o toque dele.

Hesitei por uma fração de segundo, afinal nao estava acustumada com esse tipo de aproximação, afinal tem muito tempo que nao sei o que é um toque masculino. Mais logo depois assenti.

— Só se prometer que não vai tentar me convencer a sorrir.

— Prometo tentar o contrário. — Ele sorriu, aquele tipo de sorriso que fazia promessas silenciosas demais.

As mãos dele se encaixaram em minha cintura como se soubessem exatamente onde pertencer. Os corpos se moveram em perfeita sintonia, como se estivessem dançando há anos. Cada passo era uma provocação, cada deslizar, um convite. O calor entre nós era palpável.

— Não parece do tipo que se deixa arrastar por festas. — ele comentou, olhos cravados nos meus lábios.

— E você parece alguém que observa demais. — Rebati, tentando manter a pose, apesar do coração acelerado. Aquela mão quente, firme e forte me deixava de pernas bambas e respiração acelerada.

— Só quando algo realmente chama minha atenção.

O silêncio entre eles disse mais do que qualquer outra palavra. As batidas da musica mudavam conforme o tempo, mas continuamos ali, dançando. A distância entre nossos rostos diminuía a cada passo. Até que a respiração dele tocou sua bochecha e eu soube que, a partir daquele instante, nada mais seria o mesmo.

Ele não me disse o nome.

E talvez fosse melhor assim. Nomes criam laços. Palavras, explicações. Mas ali, naquela pista de dança onde tudo desaparecia ao redor, tudo que eu precisava era do toque dele. Do cheiro dele. Daquela energia bruta e silenciosa que fazia minha pele vibrar.

— Mais uma taça? — ele perguntou, a mão roçando de leve na curva do meu quadril.

— Mais duas. — respondi, sentindo o álcool esquentar a coragem que faltava.

O tempo perdeu qualquer lógica. A batida da música, as luzes vermelhas e douradas dançando ao nosso redor, os dedos dele que encontravam sempre os lugares certos — como se meu corpo já fosse conhecido, mapeado, dele.

Eu não bebo tanto. Mas naquela noite, eu não era eu.

Era alguém livre. Desejada. Viva.

Minhas mãos estavam no peito dele. Em seu pescoço. Seus dedos se entrelaçavam nos fios soltos do meu cabelo, enquanto ele dizia algo em meu ouvido que eu não consegui entender, mas senti na pele.

E então, tudo aconteceu rápido.

Um carro. O silêncio no banco de trás, preenchido apenas pela tensão entre nossos olhares. Meu corpo colado ao dele. As mãos dele deslizando pela minha coxa enquanto eu segurava a respiração. O hotel era de luxo, mas eu mal vi o saguão. O elevador parecia apertado demais para conter o que queríamos.

O quarto.

Luzes baixas. Lençóis brancos. Perfume amadeirado e desejo queimando nas veias.

Ele me beijou como se o mundo fosse acabar naquela noite. Com fome, com fúria, com precisão. E eu deixei. Me entreguei. Deixei que as roupas caíssem no chão como armaduras vencidas. Deixei que suas mãos me explorassem como se eu fosse território desconhecido e precioso.

E eu era.

O calor. O toque. Os gemidos abafados. A respiração pesada. Cada movimento era tão intenso, tão certo, que por um segundo me perguntei se aquilo era real ou delírio alcoólico. O tempo se dissolveu em prazer. Em suor. Em pele contra pele. Eu já não lembrava da festa, do hospital, do meu nome. Só existia ele.

E então, o silêncio. O tipo bom. O tipo que só vem depois de algo que te tira do corpo.

Adormeci entre lençóis bagunçados e braços fortes.

Ou achei que sim.

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