O tempo é um curandeiro silencioso.
E mesmo que certas feridas ainda doessem ao toque, eu estava finalmente voltando a respirar sem que doesse o peito.
As semanas passaram. Me joguei nos livros, nos plantões, nos pacientes. Voltei a correr no fim das tardes, troquei a playlist melancólica por algo que me fizesse sentir viva outra vez. Às vezes ainda me pegava parada, encarando o nada, revivendo o gosto daquela última discussão. Mas cada vez menos.
Catarina dizia que eu estava mais forte. Eu não sabia se era força ou apenas uma casca nova, firme o bastante para não desmoronar com o vento.
Contei tudo à minha mãe, num domingo de chá e silêncio confortável.
Ela ouviu sem me interromper. No fim, disse com uma sabedoria mansa:
— “Às vezes, o amor da nossa vida vem no momento errado... ou ele ainda não entendeu que amar também é proteger, não só dominar.”
Guardei isso como um mantra.
Até que uma manhã no hospital mudou tudo.
Estava revendo prontuários no posto de enfermagem quando