CRISTINA SANTIAGO
Entrar no carro blindado com uma barriga de oito meses era uma operação que exigia dignidade e um pouco de ginástica. O motorista era um homem de meia-idade, calvo e com cara de avô, mas que eu sabia ser ex-policial militar. e me ajudou com uma gentileza extrema.
— Confortável, Sra. Petterson? — ele perguntou, ajustando o retrovisor.
— Tão confortável quanto uma baleia encalhada pode estar num banco de couro, Carlos — brinquei, ajeitando o cinto de segurança por baixo da barriga. — Vamos lá.
O carro saiu suavemente. O isolamento acústico era perfeito. O barulho da cidade parecia um filme mudo passando do lado de fora.
Peguei meu tablet para revisar os pontos finais da auditoria. Estava tudo perfeito. Lauro ficaria satisfeito, e eu sentiria aquela satisfação profissional de dever cumprido antes de entrar na licença maternidade definitiva.
Mas eu não conseguia me concentrar.
Uma sensação estranha coçava na minha nuca. Aquele sexto sentido primitivo que nos avisa quando