4. Qual Será a Próxima Jogada?
O mesmo homem gentil que me consolou naquela noite agora me observa com olhos frios como gelo. Como se eu fosse uma estranha.
Meu estômago revira.
— Sente-se — ele ordena, com a voz seca, sem nenhum pingo da gentileza de antes.
Fico paralisada por um segundo.
Então me forço a entrar e me aproximar, tentando manter a calma por fora, enquanto por dentro tudo desmorona.
O Nathan daquela noite não está aqui. O homem diante de mim agora… é só o CEO da Evermont Industries.
Frio. Calculista. Irreconhecível.
Me sento à sua frente e, por alguns segundos, o encaro em silêncio, buscando qualquer sinal de reconhecimento.
Um sorriso. Um olhar. Qualquer coisa que diga “eu me lembro daquela noite”.
Nada.
— Bem, vamos começar, Srta…?
— Sterling. Ann Sterling — respondo, mais fraca do que gostaria.
— Ann Sterling — ele repete, como se fosse a primeira vez que ouve o nome. — Currículo.
Entrego o papel, tentando controlar as mãos trêmulas. Nathan nem me olha, apenas folheia as páginas como se tivesse todo o tempo do mundo.
— Srta. Sterling — ele começa, largando os papéis de lado com indiferença. — Por que deveríamos contratá-la?
— Sou formada em Gestão Empresarial — começo, tentando manter a postura. — Tenho cinco anos de experiência em administração e…
— Experiência… — ele me interrompe, levantando os olhos. — Isso normalmente não basta quando a reputação da candidata está… em dúvida.
— O que quer dizer exatamente?
— Que os boatos não têm sido nada gentis com você, Srta. Sterling — responde, seco. — Uma empresa séria não quer contratar alguém envolvida num escândalo. Principalmente alguém cuja maior “qualificação” é… seduzir homens comprometidos.
Engulo em seco, sentindo a humilhação me sufocar. Todas as rejeições, olhares, sussurros… até quando isso vai durar?
— Você também acredita nisso — murmuro, amarga. — Acha mesmo que eu era amante do Robert?
— As evidências falam por si — ele dá de ombros. — Relacionamento secreto por três anos, ninguém sabia da “namorada”… É exatamente o que uma amante faria.
— Eu não era amante de ninguém! — explodo, perdendo a calma. — Robert era meu namorado. Há três anos. Você viu como eu estava destruída, como não fazia ideia de nada!
— Vi uma mulher chorando num bar — responde, frio. — Mulheres sempre têm sua versão dramática dos fatos.
A raiva sobe quente, queimando minhas veias. Não é só a humilhação. Não é ele fingindo que não me conhece. É o julgamento, vindo justamente de quem me acolheu naquela noite.
— Passei três anos acreditando que tinha um namorado — murmuro, sentindo a voz falhar. — Ajudei o Robert a construir aquela empresa. Nunca fui amante. Eu era…
— Era o quê? — ele me interrompe, se inclinando para frente. — A namorada secreta que ninguém podia saber? Por favor, Srta. Sterling. Até você deve perceber o que isso parece.
Passo a mão pelos cabelos, segurando a vontade de chorar. No fundo, ele está certo.
Porque agora, dizendo em voz alta, tudo soa como a desculpa esfarrapada de uma amante descoberta.
— Está explicado por que ninguém me contrata — sussurro, amarga. — Todo mundo pensa igual a você.
— Finalmente chegou à conclusão óbvia — ele se recosta, frio. — Ninguém quer contratar a mulher que tentou destruir um casamento e ainda posa de vítima.
— Por que está fazendo isso? — pergunto, quase num fio de voz. — O que eu fiz para merecer tanta crueldade?
— Crueldade? — ele inclina a cabeça, fingindo pensar. — Só estou sendo honesto sobre sua… reputação. Contratar alguém como você pode ser… arriscado.
Levanto de repente, deixando a raiva vencer a humilhação.
— Não vou ficar aqui ouvindo esse tipo de coisa. Especialmente de…
— De quem? — ele me corta, os olhos brilhando perigosamente. — De um homem decente que resolveu te dar uma chance?
A forma como ele me trata agora é pior que qualquer insulto. Como se aquela noite não tivesse significado absolutamente nada.
— Você sabe bem do que eu estou falando — murmuro, odiando a tremedeira na minha voz.
— Não faço ideia do que está insinuando, Srta. Sterling. Que tal ser um pouco mais clara?
— Obrigada pelo seu tempo. E por mostrar o tipo de homem que você realmente é, Sr. Prescott — digo, pegando a bolsa e me levantando.
Caminho furiosa até a porta, me odiando por ter sido tão ingênua.
Como deixei esse homem me tocar? Me beijar? Me fazer acreditar que eu era especial?
— Espere — ele diz, quando já estou quase saindo.
Viro, esperando… o que, exatamente? Um pedido de desculpas? Um sinal de que ainda existe humanidade ali?
Mas tudo o que vejo é um sorriso cruel.
— Só disse que havia riscos. Mas eu adoro riscos — ele continua. — A vaga é sua. Afinal, você também quer provar que é boa em algo além da cama, né?
— O quê? — pergunto, virando lentamente para encará-lo.
— Você ouviu bem. A vaga é sua, se quiser — ele sorri, o sorriso mais cínico que já vi. — Sempre dou certos… privilégios às mulheres com quem durmo.
Franzo a testa, confusa e ainda mais irritada. Qual será a próxima jogada?
— Por que você faria isso?
— Aceita ou não, Srta. Sterling? — Ele ignora minha pergunta, tamborilando os dedos na mesa. — Não tenho o dia todo.