Quase trinta minutos depois Charlotte finalmente havia chegado na casa de Dona Zuleika. A fazenda era enorme sem falar que talvez tenha se perdido umas três vezes caminhando em círculos por uma árvore de pé de jaca que ela desejou parar para dormir, porém o medo de acordar com algum bicho a picando foi maior.
Seus pés tinham calos maiores que seus dedos, suas pernas estavam coçando e vermelhas com bolhas por todos os lados. Talvez passou por alguma Urtiga e Coroa-de-cristo, enfim o nome já diz tudo né? Charlotte olhou para as mãos e chorou, não reconhecia os próprios dedos de tão avermelhados e cheio de caroços. Ela chutou a porta da família Valença – os modos de dama foram para o inferno. Chutou outra vez. E chutou novamente mais forte. Zuleika comia goiabada com queijo de Minas quando escutou alguém querendo invadir sua casa, ela correu para pegar a espingarda, olhou se tava carregada e infelizmente só tinha uma bala. Ela deveria ser certeira no maldito que queria derrubar sua porta. Charlotte ficou tranquila quando a porta foi aberta, só não esperava sentir o cano frio de uma espingarda antiga, bem na sua testa enorme, ela arregalou os olhos engolindo em seco. Zuleika avaliou a pessoa que estava do outro lado e viu que aquilo não matava nem mosquito, então abaixou a arma. — Desculpa. Moça tá perdida? Não temos quartos vagos para visitantes hoje não. — Sou eu Zuleika. — Disse fungando alto, o catarro descendo pelos lábios, Charlotte lambeu e engoliu sem querer querendo quando abriu a boca para falar. — Eu quem? — A Charlotte. Dona Zuleika olhou para aqueles olhos de peixe morto e cara de cão arrependido. Seu rosto estava vermelho e sujo de terra e esterco. — Oh querida, você tá horrível.— Charlotte ouvindo isso, lançou um olhar afiado, como se ela já não soubesse.— Irei preparar algumas ervas para tirar esse fedor podre e limpar seu cabelo. E irei trazer um sabonete caseiro para a coceira. Charlotte assentiu coçando todo o corpo como um cão sarnento. — Obrigada. — Entrou na casa indo em direção ao quarto e começou a tirar a roupa. — Aquele imbecil filho de uma boa mãe... Zuleika bateu na porta. — Entra. — Tem algumas ervas para aliviar seus pés que devem estar doendo. Veio andando? Não imagina. — Sim, nem carroça vi nesse fim do mundo. Seu filho é um ogro horrível. — Bento? — Por acaso tem outro Bento?— A mulher riu, Charlotte bufou alto. — Desculpa. Ele não leva muito jeito com mulheres bonitas. E aqui não se tem muito. Charlotte iria falar mas seus pés doíam demais. Zuleika passou algum óleo em seus pés para aliviar a vermelhidão e inchaço e a deixou sozinha. Charlotte lavou o cabelo com shampoo sentindo que tirou quilos de terra do couro cabeludo. Depois de horas para finalmente finalizar o banho ela colocou uma camisola confortável e deitou na cama com o cabelo úmido. Se sentindo limpa e fresca. — Preciso de internet.— bufou e ligou para sua amiga. — Amiga finalmente deu sinal de vida.— Savanna gritou através do chiado da ligação. — Oi . — Que voz de desgosto é essa? Não está se divertindo Hollywood? Ou Las Vegas não está tão legal como antigamente? — Hollywood ou Las Vegas um escambau. Meus pais me mandaram para a fazenda. Aqui é o inferno melhor dizendo. — O que?— A ruiva gargalhou.— não acredito que tio Richard fez isso! — E pior, um dos filhos é um idiota. — Agora tô interessada no assunto, é bonito? Tem solteiro aí? — Não importa Savanna. Ele é ogro com aquele corpo enorme. Metido a gostoso. Nem sequer fala direito. — Ensine ele a língua do sexo querida. Sempre funciona.— Charlotte pensou por alguns segundos naquela possibilidade e balançou a cabeça se benzendo três vezes. — Deus me Livre. — Sabe que tenho fetiche por homens brutos. Espero que ele tenha um amigo. Charlotte chorando suas dores e a maldita ruiva pensando em homens. — Nojenta. — Que ? Tô cansada desses playboy da cidade. Quero passar as férias em algum lugar ao menos uns dias né. Qual fazenda você está? — Não sei onde fica essa merd*. Lugar que não pega nem gps. Duvido que tenha uma pousada aqui. — Não importa. Vou falar com tio Richard. Quero ver se consigo ficar uns dias aí. Tem que ter uma pousada nesse fim de mundo. — Se tivesse eu estaria lá. — Não querida. Não estaria. Exatamente que seus pais a colocaram aí. Pra saber que você não iria retornar e ir chorar atrás de Bradley, como uma cadela chifruda e no cio. — Não fale esse nome amaldiçoado. — Foi mal. Mas fez bem ele te trair e você larga -lo. Aquela irmã dele é uma idiota metida. — Vamos mudar de assunto. —Bocejou.— Estou cansada. Meus pés doem. — Vou deixar você dormir. Apesar de ser cedo ainda. Mas as pessoas da fazenda dormem com as galinhas. —Riu. Charlotte revirou os olhos. — Mal vejo a hora de voltar para casa. Água quente, eletricidade e internet. — Nossa! Não tem água quente ? Vou repensar seriamente se realmente vou. — Sua traíra. —Qual é amiga? Nada como tomar uma ducha quente. Mas se for pensar bem, tendo esses homens brutos e barbudos sem camisa todo o santo dia tem que ser água fria mesmo. Você sabe que sou intensa e gosto de homens assim... — Me poupe sua louca. — Aproveita besta, eu se fosse você já acordava de pernas abertas.— esse comentário fez Charlotte rir.— Ele tem irmão? — Sim. São dois filhos. — Melhor ainda. Cada uma pega um, daí vamos os quatro de carroça pela cidade.— riu alto rolando no chão. Charlotte não sabia se a amiga estava zombando dela ou fantasiando realmente aquele encontro. — Tchau Sav! Charlotte só desejava que o pesadelo terminasse logo!