Lua notou que ficara por última na entrevista, embora houvesse chegado cedo.
“Nossa, deve ter havido alguma desordem lá dentro... As moças que chegaram depois de mim já foram chamadas todas” — pensou, mordendo o lábio inferior. Tentando tranquilizar-se, murmurou: — Não vou me importar de ficar por último. Se isso me der mais chances de conseguir o trabalho... Enquanto esperava, recordou as palavras da tia Graça: "Os empecilhos não são sempre ruins. Às vezes servem para tornar a vitória maior". Além disso, a conversa com Sabrina lhe dera um fio de confiança. Mesmo sem experiência prática, sentia seu potencial pulsando. Após a última candidata sair, porém, ninguém a chamou. O silêncio prolongou-se por meia hora até que, decidida, Lua bateu na porta da sala de entrevistas. Sabia ser indelicado — afinal, não fora convocada —, mas precisava entender o ocorrido. Do interior, ouviu vozes masculinas em debate: — Quem pode ser? Uma resposta grave ecoou, impaciente: — Entre! Lua empurrou a porta lentamente, o coração acelerando em ritmo de tambor. Dois pares de olhos fixaram-se nela como faróis. Diante dela, dois homens pareciam ter saído do catálogo de uma revista de luxo: altos, postura regal e traços esculpidos. O primeiro, de cabelos e olhos castanhos, sorriu enquanto o olhar lhe percorria o corpo com curiosidade descarada. O segundo — cabelos negros como ébano e olhos azul-gelo — era a personificação da beleza austera. Seu rosto, porém, ostentava uma expressão entre o tédio e o fastio, o que fez Lua engolir seco. O de cabelo castanho-claros aproximou-se, a voz melíflua e deliberadamente sedutora: — Olá, querida. O que deseja? Lua engoliu seco, as palmas das mãos úmidas contra as costuras do vestido: — Be… bem, eu sou uma das candidatas… Acredito que houve um equívoco, pois até agora não fui chamada! O homem de olhos azuis-gelo remexeu os papéis com impaciência cortante: — Como se chama? — Lua Fernandes, senhor! — Belo nome. Tão bonito quanto a dona! — O moreno inclinou-se sobre a mesa, o sorriso deliberadamente provocante. Ela corou, interrompida pela voz glacial do outro: — Está de brincadeira? Seu nome não consta aqui. — Bateu o dedo no documento. — Havia nove candidatas. Entrevistei todas. Se chegou agora, lamento, mas o horário estava claramente especificado no anúncio. Lua piscou, desconcertada: — Mas cheguei antes das quatro últimas senhoritas que entraram! Inclusive, no horário exato! Rodrigo Alcântara (pois era ele era o CEO da empresa) cruzou os braços, erguendo um sobrolho que poderia congelar vulcões: — E como explica isso, senhorita Fernandes? — Apontou para a pilha de currículos como se exibisse prova cabal de sua culpa. Ela endireitou as costas, a voz firme apesar do nó na garganta: — Entreguei meu currículo à recepcionista. Ele veio com os demais. Além disso, enviei-o há uma semana e fui pré-selecionada. Por isso estou aqui. — Pré-selecionada?! — A pergunta ecoou como um estampido. Ela confirmou com um aceno seco. — Nome completo. Agora. — Suas mãos voaram sobre o teclado enquanto digitava furiosamente no computador. — Lua Fernandes Garcia. Três cliques secos. O silêncio que se seguiu foi rompido por um rugido: — Veja só, Júlio! Que pérola de incompetência é sua assistente! Um trabalho simples, eu nem sequer pedi isso a ela, pois não era a sua função, no entanto ela mesmo se dispôs a fazer, no lugar de Silvia que está de licença, e ela me causa esse vexame! Júlio aproximou-se da tela, os olhos arregalados: — Hanna nunca cometeu erros assim… Rodrigo esfregou as têmporas, cada palavra uma lâmina: — Cronograma arruinado. Reunião com os franceses em 20 minutos. E agora essa… — O olhar azul-ardente perfurou Lua, misturando fúria e algo que ela não ousou decifrar. Júlio conhecia o seu amigo e sabia que a ordem era crucial para ele, por isso entendia a raiva dele, visto que havia cronometrado o tempo de entrevista com as candidatas e agora já havia dado por encerrado. Júlio, examinando o currículo na tela, virou-se para Rodrigo com um assobio admirativo: — Nossa! Apesar da pouca experiência na área, ela tem potencial. E olhe só — fala francês fluentemente! Tocou o ombro do amigo, ciente da irritação contida, e assumiu a dianteira com diplomacia: — Senhorita Fernandes, o erro foi nosso. Peço desculpas pelo transtorno. Podemos remarcar sua entrevista para amanhã? Temos uma reunião crucial agora e... Um bater de portas interrompeu-o. Sabrina invadiu a sala com seu habitual ímpeto: — Que bom que estão... — parou ao avistar Lua. — Oi, olá! Lua sorriu, aliviada com a presença da nova amiga: — Olá, senhorita Sabrina! A designer franziu o cenho, conferindo o relógio de pulso: — Desculpe, Rodrigo! Não sabia que ainda estavam entrevistando. Júlio interveio rápido: — Não estamos. Houve um... pequeno equívoco. O currículo da senhorita desapareceu. Rodrigo ergueu os documentos com um gesto cortante: — Se prefere chamar incompetência de "equívoco", problema seu. — A voz baixa com ar de ferrugem queimava o ar. — Mas “mais tarde” quero uma explicação da sua protegida. Lua baixou os olhos, agradecendo silenciosamente por não ser o alvo daquela fúria azul. Rodrigo encarou Sabrina, a voz cortante: — Agora diga: o que veio falar? Sabrina, conhecedora do humor volátil do amigo, foi pragmática: — Infelizmente, mais problemas. Os sócios estão a caminho, mas o intérprete sofreu um acidente e não virá. — **Que droga!** — O punho dele bateu na mesa, fazendo os papéis voarem. — Já contactou outros? — Sinto, Rodrigo. Se fosse inglês, seria fácil... — Droga, Sabrina! Inglês **eu** também sei falar! — rugiu, esgotado. Júlio interveio, apontando para Lua: — Espere! Acabamos de ver que a senhorita Fernandes fala francês fluentemente. Por que não...? Rodrigo girou lentamente a cadeira, os olhos azuis-gelo perfurando Lua: — Sabe realmente falar francês, senhorita Fernandes? — A voz arrastou-se como um fio de navalha. — Ou pôs isso no currículo só para impressionar? Sob aquele olhar predatório, Lua sentiu suas mãos suar. As pálpebras tremeram antes que respondesse, com a voz trêmula: — Si… sim, senhor Alcântara. Eu sei. Os três trocaram olhares carregados de desconfiança. Lua engoliu a frustração de ser vista como impostora, enquanto Rodrigo inclinava-se sobre a mesa, cada sílaba uma ameaça: — Espero que sim. Esta reunião é vital para a empresa. Nada — absolutamente nada — pode falhar. Fui claro? Sacudindo a cabeça, ela respondeu: — Sim, senhor Alcântara. — Ótimo. Se realmente se sair bem — os lábios dele se curvaram num meio-sorriso cínico —, considere-se empregada. Lua engoliu seco. As palavras ecoaram como uma sentença, não uma promessa. Sabrina, percebendo o desespero mudo da jovem, interveio com um sorriso maternal: — Perfeito, Lua! Você veio mesmo como uma bênção hoje. — Um anjo, aliás — Júlio apoiou os cotovelos na mesa, o olhar a devorar-lhe as curvas —, que é exatamente o que você parece. Sabrina lançou um olhar de advertência ao irmão antes de completar: — E tenho certeza de que se sairá super bem. Julgamentos só depois do trabalho, certo? Rodrigo assentiu com relutância, os olhos ainda colados em Lua como uma sombra. Sabrina tocou-lhe o braço gentilmente: — Pode me acompanhar à sala de reuniões, querida? Ela seguiu em passos trêmulos, sentindo o peso do olhar de Rodrigo nas costas. “Por Deus... As mulheres estavam certas. O senhor Alcântara é deslumbrante, mas esse olhar... Parece uma faca dissecando cada falha minha.” Mal saíram, Júlio virou-se para o amigo com um sorriso malicioso: — Eu sei. Também achei ela... deslumbrante. — Do que está falando? — Rodrigo fechou a pasta com um estalo seco. — Do seu olhar para a senhorita Fernandes. Quase derreteu o gelo dos seus olhos azuis. — Mulher nenhuma me impressiona — ele ergueu-se, ajustando o blazer com um puxão brusco. — E você sabe exatamente o porquê. Júlio encostou-se na parede, os braços cruzados: — Concordo. Mas há algo nela... Não sei se é o ar de inocência ou essa aura de — procurou a palavra — luz. Diferente de todas que passaram por aqui. Rodrigo soltou uma risada áspera, o sarcasmo tingindo cada sílaba: — Inocência? — O olhar gelou. — Isso morreu na Idade Média, amigo. E a senhorita Fernandes — a voz arrastou o título como um insulto — não é exceção. Agora chega de devaneios. Vamos ver se essa "bênção" não vira maldição na reunião.Ao entrar na sala de reuniões, Lua sentia-se nervosa, mas determinada a dar o seu melhor. Aquele momento era crucial não só para a empresa, mas para seu futuro. Enquanto organizava os materiais, observou Rodrigo e Júlio revisando documentos com expressões severas. — Precisamos que essa reunião transcorra sem contratempos, senhorita Fernandes. Entendeu? — Rodrigo fixou-a com intensidade glacial. — Estou aqui para ajudar, senhor. Se possível, informem-me se há pontos específicos que preferem priorizar na tradução. — Sua voz manteve-se firme, embora o coração martelasse contra as costelas. O olhar do CEO persistiu sobre ela como um peso físico. Antes que pudesse responder, a porta abriu-se. Hanna entrou conduzindo os sócios franceses. O choque nos olhos da secretária ao ver Lua no centro da ação foi capturado apenas por Sabrina — já a par do "sumiço" do currículo, graças a Júlio. Ao ser dispensada por Rodrigo, Hanna lançou um olhar assassino à rival antes de sair. Sabrina conteve
Lua entrou na sala de Rodrigo, a ansiedade apertando-lhe o estômago. Ele a encarava com uma expressão incomum — uma ruga profunda na testa, como se reprovasse algo que ela sequer compreendia. Desviou o olhar para os papéis nas mãos, pigarreou e iniciou: — Senhorita Fernandes… — A voz grave ecoou calculista. — Você foi incrível. Trabalhou excepcionalmente bem hoje. — Obrigada, senhor Alcântara — sussurrou ela, os olhos fixos nas mãos largas dele, que organizavam documentos com precisão militar. — Sua mediação foi fundamental. Graças a você, os franceses darão resposta amanhã. — Que bom, senhor — respondeu, ela de forma contida, notando como seus próprios dedos tremiam disfarçadamente no colo. Ele alinhou os papéis na mesa com um gesto brusco. Quando ergueu o rosto, os olhos azuis-gelo perfuraram-na como adagas: — Prometi que o emprego seria seu, se saísse bem. — Uma pausa carregada. — E você… excedeu as expectativas. Lua sorriu, a euforia misturando-se ao medo do desconhe
Lua bateu na porta de Rodrigo e entrou após ele a mandar entrar, ela deu bom dia: — Bom dia doutor Alcântara! Já sentado na sua mesa, olhando para ela com uma expressão severa, Rodrigo falou: — Bom dia, senhorita Fernandes! Por favor sente-se. Após ela sentar-se, ele continuou: — Entendo que você esteja ansiosa, senhorita, mas não pense que vai ser fácil, você terá que provar seu valor aqui. — Entendo senhor Alcântara, mas acredite estou pronta para o desafio! —Respondeu Lua, confiante, Rodrigo deu um sorriso frio, então respondeu: — Isso é o que vamos ver! E naquele dia, ele atribuiu à Lua uma tarefa complexa, com prazo curto. Ela, porém, trabalhou incansavelmente, e lhe entregou antes da hora marcada, mas Rodrigo continuou a questionar sua capacidade. — Isso não é bom o suficiente. — disse ele, analisando seu trabalho. — Você precisa melhorar. Porém, ao lembrar-se das palavras de Sabrina sobre Rodrigo só empregar os melhores, Lua sentiu sua determinação crescer, por is
— Não precisa agradecer — respondeu Sabrina. — Somos colegas e amigos e estamos sempre aqui pra ajudar.E assim que Sabrina terminou de falar Rodrigo entrou na sala, e estranhou ao ver os seus amigos lá, porém nada falou apenas direcionou o seu olhar para Lua e falou:— Senhorita Fernandes, precisamos falar!— Sim, senhor — respondeu Lua.Ele olhou para Júlio e Sabrina. — Vocês podem nos deixar a sós? Eles saíram, mas não antes do seu amigo Júlio lhe lançar um olhar duro, porém ele nem se abalou, e esperou eles fecharem a porta, então encarando Lua falou:— Senhorita Fernandes, você está fazendo progresso!— Obrigada, senhor — respondeu Lua.— No entanto, ainda há muito a melhorar — acrescentou ele.Lua sentiu-se frustrada, porém respondeu de forma profissional:— Sim, senhor! Ela sabia que o que ele falaria a seguir seria muito importante, por isso se preparou e o encarou de forma a
No carro, Júlio e Lua conversavam animadamente sobre o projeto. Ao chegar ao apartamento dela, Júlio desceu para abrir a porta para ela.— Obrigada pela carona, e por sua boa companhia Júlio — disse Lua, sorrindo.Júlio pegou na mão dela encarando-a.— Você não precisa agradecer linda, faço tudo porque gosto muito de você, de uma forma que jamais pensei que iria gostar de alguém — disse ele, beijando-lhe a mão e olhando fundo nos olhos dela.Lua não entendeu o tom romântico por isso falou:— Eu também gosto muito de você e da Sabrina! — encarando-o disse-lhe — Vocês são grandes amigos.Júlio sorriu, porém em seu pensamento disse: “Não estava falando de amizade, minha princesa”.Depois que Lua entrou, Júlio voltou ao carro, sorrindo, e estava decidido que ele não desistiria de conquistá-la.Enquanto isso, Rodrigo estava aborrecido no estacionamento. Quando viu Lua sorrindo ao entrar no carro de Júlio, sem entender a s
Lua Fernandes era uma jovem de beleza delicada: cabelos castanhos, olhos verdes, estatura mediana e silhueta esbelta. Contudo, a aparência pouco importava para ela; o que realmente a movia eram os sonhos que desejava realizar com ardor, pois sempre nutrira ambições próprias. Naquele dia, uma agitação contagiante a invadia. Enquanto agradecia a Deus, sussurrou para si mesma: — Ai, meu Deus, finalmente vou realizar meu sonho! Não consigo acreditar... Obrigada! Era o dia de sua mudança para a capital, onde buscava uma oportunidade como assistente de negócios. A alegria a envolvia, especialmente por ver seus esforços sendo recompensados. Desde jovem, Lua sempre fora incansável e estudiosa. Embora tivesse o apoio incondicional de sua tia Graça e do falecido tio Jorge — que partira três anos antes —, sentia que o amor deles era um presente, e jamais quisera abusar dessa dádiva. Ao completar a maioridade, após a perda do tio, assumira a pequena floricultura herdada dos pais, aliviando um
Ao pisar na cidade, Lua sentiu uma mistura de expectativa e nervosismo pulsando em seu peito. Como havia prometido à sua tia Graça, dirigiu-se à casa de Dona Sônia, uma mulher de sorriso acolhedor. Dona Sônia a levou até a mulher que alugava os apartamentos, e ao entrar no espaço que seria seu novo lar, Lua ficou encantada quando observou atentamente o apartamento e viu que, embora pequeno, exalava conforto e charme, com móveis que pareciam acolhedores. Respirou fundo, absorvendo a energia vibrante do lugar, ciente de que, por seis meses, o aluguel não seria uma preocupação — pagara adiantado, afinal sempre economizara para esse momento. Seu foco agora estava na busca por emprego, e o primeiro alvo era a Belle Famme, a renomada empresa de cosméticos dos Alcântaras, conhecida por sua excelência.Depois de um dia de compras e arrumações, Lua se deitou cansada, mas satisfeita. Enquanto a noite envolvia a cidade, revisou mentalmente cada passo que daria no dia seguinte. A conversa recon