Ao entrar na sala de reuniões, Lua sentia-se nervosa, mas determinada a dar o seu melhor. Aquele momento era crucial não só para a empresa, mas para seu futuro.
Enquanto organizava os materiais, observou Rodrigo e Júlio revisando documentos com expressões severas. — Precisamos que essa reunião transcorra sem contratempos, senhorita Fernandes. Entendeu? — Rodrigo fixou-a com intensidade glacial. — Estou aqui para ajudar, senhor. Se possível, informem-me se há pontos específicos que preferem priorizar na tradução. — Sua voz manteve-se firme, embora o coração martelasse contra as costelas. O olhar do CEO persistiu sobre ela como um peso físico. Antes que pudesse responder, a porta abriu-se. Hanna entrou conduzindo os sócios franceses. O choque nos olhos da secretária ao ver Lua no centro da ação foi capturado apenas por Sabrina — já a par do "sumiço" do currículo, graças a Júlio. Ao ser dispensada por Rodrigo, Hanna lançou um olhar assassino à rival antes de sair. Sabrina conteve uma risada. Enquanto os franceses — dois homens de ternos impecáveis e sorrisos calculistas — cumprimentavam Rodrigo, Lua notou a autoridade que emanavam. Júlio, percebendo sua tensão, tomou-lhe a mão e levou-a discretamente a um canto. O gesto não escapou a Rodrigo, cujos olhos estreitaram como facas. — Não tema, Lua — sussurrou Júlio, o polegar acariciando seu pulso. — Eles não mordem. — Seu sorriso era um convite à cumplicidade. — Mantenha essa postura. Como disse minha irmã: você nasceu para brilhar aqui. Lua seguiu o conselho de Júlio. Mantendo o sorriso, sentou-se próximo ao sócio majoritário francês, mas um frio na barriga a invadiu ao cruzar o olhar com Pierre, que a observava como um falcão avaliando sua presa. — Espero que essa intérprete — sendo tão jovem — possa nos ajudar a entender claramente o que é proposto aqui — comentou o francês, o sotaque carregando um desafio velado. Lua respirou fundo, as palavras de Júlio ecoando como um mantra. Então em um francês impecável, respondeu: — Je ferai de mon mieux pour que tout soit clair. (Farei o meu melhor, para deixar tudo claro) A voz melódica e a pronúncia precisa arrancaram murmúrios de aprovação. Até Rodrigo ergueu levemente as sobrancelhas, surpreso. A reunião começou, e Lua mergulhou na tradução. Porém, ao abordarem um novo método de peeling químico, travou numa expressão intraduzível. O silêncio pesou como chumbo. — Senhorita Fernandes! — a voz de Rodrigo cortou o ar como um chicote. — O que ele quis dizer? Ela fitou-o, o desafio acendendo uma centelha em seus olhos: — Talvez possamos reformular: é sobre identificar mercados que se adaptem à inovação do produto, já que estão apostando em tratamentos revolucionários. A explicação fluente em francês fez Pierre sorrir, dirigindo-se a Rodrigo em português truncado: — Meus parabéns, monsieur Alcântara! Secretária bonita e inteligente! O elogio pintou as bochechas de Lua de rubor, enquanto Rodrigo a observava com uma expressão indecifrável. A tensão explodiu quando Pierre cruzou os braços: — Precisamos de uma abordagem mais colaborativa! Rodrigo ergueu a voz, impetuoso: — Não abriremos mão de nossas ideias para agradá-los! Lua, sentindo o abismo se abrir, interveio com audácia que surpreendeu até a si mesma: — Se me permitem... Talvez um meio-termo beneficie ambos os lados. O silêncio foi tão abrupto que se ouviu o zumbido do ar-condicionado. Todos os olhos — inclusive os gelados de Rodrigo — fixaram-se nela. — Senhor Alcântara — disse Lua, fazendo uma pausa calculada —, talvez você possa explicar sua visão de maneira mais pessoal. Isso ajudaria a criar conexão aqui. Rodrigo a olhou, surpreso, mas assentiu: — Você tem razão, senhorita Fernandes. Pierre — virou-se para o francês —, deixe-me compartilhar nossa história e o que nos levou a esta proposta. Após alguns minutos, Lua percebeu a atmosfera se aquecendo. Via agora um Rodrigo diferente: um homem apaixonado por sua visão, mas disposto a ouvir. Enquanto ele falava, sua voz grave e envolvente — carregada de convicção — deixou-a hipnotizada. Até Pierre inclinava-se à frente, receptivo. Terminada a reunião, Júlio abordou-a no corredor com um sorriso estampado: — Parabéns, linda! Você foi sensacional — exatamente como previra! Sabrina surgiu atrás deles, abraçando Lua pelos ombros: — Foi simplesmente incrível! Os franceses não paravam de elogiá-la. Lua sorriu, ruborizada: — Obrigada! Foi... desafiador. Principalmente quando o senhor Alcântara e Pierre quase entraram em choque. — Mas você mediou como uma diplomata nata — elogiou Sabrina, apertando-lhe o braço. Júlio encostou-se na parede, os olhos cintilando: — Tenho certeza de que o emprego é seu. Meu amigo pode ser teimoso, mas não quebra promessas. O sorriso de Lua ficou simplesmente iluminado. Por isso, Júlio continuou: — Sabia que você conseguiria! Você tem um jeito de sempre encontrar a maneira de alcançar o que deseja. — falou ele com olhar admirativo. — Obrigada, mas também tenho que agradecer a vocês, que me deram forças. Principalmente ao senhor... na verdade, nem sei como retribuir. Sorrindo, ele levantou o polegar em sinal positivo: — Comece aprendendo a não me chamar mais de "senhor". Assim me sinto um ancião! Sabrina concordou, rindo: — Isso! De hoje em diante, nada de "senhorita" também. Seremos colegas! Lua sorriu. Ao passar a chamá-los pelo nome, a conversa fluiu naturalmente — embora o modo penetrante como Júlio a olhava a deixasse sem jeito. — Você acha que os sócios aceitarão a proposta? — perguntou Lua, mudando de assunto, mas com um sorriso ainda dançando nos lábios. — Espero que sim. Mas independentemente do resultado, você brilhou hoje. — disse Júlio, fazendo-a sentir-se valorizada. Enquanto caminhavam, Lua percebeu que a reunião fora mais que um teste: uma chance de provar seu valor. Na Belle Famme, via agora um caminho de crescimento. — Vamos comemorar! Que tal um café? — sugeriu Júlio. Sabrina agarrou a ideia: — Perfeito, maninho! Estou morrendo por um! Ao passarem pela sala de Rodrigo, Lua hesitou: — Desculpem, preciso saber o veredito do senhor Alcântara sobre meu desempenho. Júlio tomou sua mão e beijou-a cerimoniosamente: — Como disse: ele não é mentiroso nem burro pra perder uma secretaria excelente como você. Esse emprego já é seu! Naquele instante, a porta do escritório abriu-se. Rodrigo, ao ver a cena, franziu o cenho e pigarreou: — Senhorita Fernandes, poderíamos conversar? Ou tem compromisso mais importante? Ela ergueu o queixo, serena: — Não, senhor Alcântara. Podemos falar agora. — Ótimo. Entre. — ordenou ele, lançando um olhar gélido a Júlio, que permanecia alheio, absorto em Lua. Sabrina, percebendo a tensão, arrastou o irmão pelo braço: — Vamos, Júlio! Esse café não vai se fazer sozinho...Lua entrou na sala de Rodrigo, a ansiedade apertando-lhe o estômago. Ele a encarava com uma expressão incomum — uma ruga profunda na testa, como se reprovasse algo que ela sequer compreendia. Desviou o olhar para os papéis nas mãos, pigarreou e iniciou: — Senhorita Fernandes… — A voz grave ecoou calculista. — Você foi incrível. Trabalhou excepcionalmente bem hoje. — Obrigada, senhor Alcântara — sussurrou ela, os olhos fixos nas mãos largas dele, que organizavam documentos com precisão militar. — Sua mediação foi fundamental. Graças a você, os franceses darão resposta amanhã. — Que bom, senhor — respondeu, ela de forma contida, notando como seus próprios dedos tremiam disfarçadamente no colo. Ele alinhou os papéis na mesa com um gesto brusco. Quando ergueu o rosto, os olhos azuis-gelo perfuraram-na como adagas: — Prometi que o emprego seria seu, se saísse bem. — Uma pausa carregada. — E você… excedeu as expectativas. Lua sorriu, a euforia misturando-se ao medo do desconhe
Lua bateu na porta de Rodrigo e entrou após ele a mandar entrar, ela deu bom dia: — Bom dia doutor Alcântara! Já sentado na sua mesa, olhando para ela com uma expressão severa, Rodrigo falou: — Bom dia, senhorita Fernandes! Por favor sente-se. Após ela sentar-se, ele continuou: — Entendo que você esteja ansiosa, senhorita, mas não pense que vai ser fácil, você terá que provar seu valor aqui. — Entendo senhor Alcântara, mas acredite estou pronta para o desafio! —Respondeu Lua, confiante, Rodrigo deu um sorriso frio, então respondeu: — Isso é o que vamos ver! E naquele dia, ele atribuiu à Lua uma tarefa complexa, com prazo curto. Ela, porém, trabalhou incansavelmente, e lhe entregou antes da hora marcada, mas Rodrigo continuou a questionar sua capacidade. — Isso não é bom o suficiente. — disse ele, analisando seu trabalho. — Você precisa melhorar. Porém, ao lembrar-se das palavras de Sabrina sobre Rodrigo só empregar os melhores, Lua sentiu sua determinação crescer, por is
— Não precisa agradecer — respondeu Sabrina. — Somos colegas e amigos e estamos sempre aqui pra ajudar.E assim que Sabrina terminou de falar Rodrigo entrou na sala, e estranhou ao ver os seus amigos lá, porém nada falou apenas direcionou o seu olhar para Lua e falou:— Senhorita Fernandes, precisamos falar!— Sim, senhor — respondeu Lua.Ele olhou para Júlio e Sabrina. — Vocês podem nos deixar a sós? Eles saíram, mas não antes do seu amigo Júlio lhe lançar um olhar duro, porém ele nem se abalou, e esperou eles fecharem a porta, então encarando Lua falou:— Senhorita Fernandes, você está fazendo progresso!— Obrigada, senhor — respondeu Lua.— No entanto, ainda há muito a melhorar — acrescentou ele.Lua sentiu-se frustrada, porém respondeu de forma profissional:— Sim, senhor! Ela sabia que o que ele falaria a seguir seria muito importante, por isso se preparou e o encarou de forma a
No carro, Júlio e Lua conversavam animadamente sobre o projeto. Ao chegar ao apartamento dela, Júlio desceu para abrir a porta para ela.— Obrigada pela carona, e por sua boa companhia Júlio — disse Lua, sorrindo.Júlio pegou na mão dela encarando-a.— Você não precisa agradecer linda, faço tudo porque gosto muito de você, de uma forma que jamais pensei que iria gostar de alguém — disse ele, beijando-lhe a mão e olhando fundo nos olhos dela.Lua não entendeu o tom romântico por isso falou:— Eu também gosto muito de você e da Sabrina! — encarando-o disse-lhe — Vocês são grandes amigos.Júlio sorriu, porém em seu pensamento disse: “Não estava falando de amizade, minha princesa”.Depois que Lua entrou, Júlio voltou ao carro, sorrindo, e estava decidido que ele não desistiria de conquistá-la.Enquanto isso, Rodrigo estava aborrecido no estacionamento. Quando viu Lua sorrindo ao entrar no carro de Júlio, sem entender a s
Lua Fernandes era uma jovem de beleza delicada: cabelos castanhos, olhos verdes, estatura mediana e silhueta esbelta. Contudo, a aparência pouco importava para ela; o que realmente a movia eram os sonhos que desejava realizar com ardor, pois sempre nutrira ambições próprias. Naquele dia, uma agitação contagiante a invadia. Enquanto agradecia a Deus, sussurrou para si mesma: — Ai, meu Deus, finalmente vou realizar meu sonho! Não consigo acreditar... Obrigada! Era o dia de sua mudança para a capital, onde buscava uma oportunidade como assistente de negócios. A alegria a envolvia, especialmente por ver seus esforços sendo recompensados. Desde jovem, Lua sempre fora incansável e estudiosa. Embora tivesse o apoio incondicional de sua tia Graça e do falecido tio Jorge — que partira três anos antes —, sentia que o amor deles era um presente, e jamais quisera abusar dessa dádiva. Ao completar a maioridade, após a perda do tio, assumira a pequena floricultura herdada dos pais, aliviando um
Ao pisar na cidade, Lua sentiu uma mistura de expectativa e nervosismo pulsando em seu peito. Como havia prometido à sua tia Graça, dirigiu-se à casa de Dona Sônia, uma mulher de sorriso acolhedor. Dona Sônia a levou até a mulher que alugava os apartamentos, e ao entrar no espaço que seria seu novo lar, Lua ficou encantada quando observou atentamente o apartamento e viu que, embora pequeno, exalava conforto e charme, com móveis que pareciam acolhedores. Respirou fundo, absorvendo a energia vibrante do lugar, ciente de que, por seis meses, o aluguel não seria uma preocupação — pagara adiantado, afinal sempre economizara para esse momento. Seu foco agora estava na busca por emprego, e o primeiro alvo era a Belle Famme, a renomada empresa de cosméticos dos Alcântaras, conhecida por sua excelência.Depois de um dia de compras e arrumações, Lua se deitou cansada, mas satisfeita. Enquanto a noite envolvia a cidade, revisou mentalmente cada passo que daria no dia seguinte. A conversa recon
Lua notou que ficara por última na entrevista, embora houvesse chegado cedo. “Nossa, deve ter havido alguma desordem lá dentro... As moças que chegaram depois de mim já foram chamadas todas” — pensou, mordendo o lábio inferior. Tentando tranquilizar-se, murmurou: — Não vou me importar de ficar por último. Se isso me der mais chances de conseguir o trabalho... Enquanto esperava, recordou as palavras da tia Graça: "Os empecilhos não são sempre ruins. Às vezes servem para tornar a vitória maior". Além disso, a conversa com Sabrina lhe dera um fio de confiança. Mesmo sem experiência prática, sentia seu potencial pulsando. Após a última candidata sair, porém, ninguém a chamou. O silêncio prolongou-se por meia hora até que, decidida, Lua bateu na porta da sala de entrevistas. Sabia ser indelicado — afinal, não fora convocada —, mas precisava entender o ocorrido. Do interior, ouviu vozes masculinas em debate: — Quem pode ser? Uma resposta grave ecoou, impaciente: — Entre!