Jonathan
Eu achei que nunca teria coragem.
Durante meses, talvez anos, me escondi desse momento, como se adiar a dor fosse a única forma de continuar respirando.
Mas hoje... hoje eu entrei naquele quarto, e alguma coisa dentro de mim desmoronou.
E, ao mesmo tempo, algo floresceu.
Eu vi você, Aira.
Tão viva na memória que doeu abrir os olhos.
Senti seu cheiro, ouvi seu riso baixinho enquanto arrumava as coisas para a chegada do nosso bebê.
Nosso filho...
Eu nem cheguei a tocá-lo.
Nunca o embalei nos braços, nunca senti o seu peso contra meu peito.
Mas eu o amei.
Desde o instante em que vi aquele pontinho na ecografia, eu o amei como só um pai pode amar.
E é por isso que doeu tanto perder vocês.
Mas não foi minha culpa.
Foi um acidente.
E eu repeti isso tantas vezes... tentando acreditar.
Mas, no fundo, me castiguei todos os dias, como se eu devesse pagar com sofrimento o preço de ainda estar aqui.
Só que hoje eu entendi.
Eu não preciso me punir para continuar te amando.
Eu não preciso