O amanhecer chega lento, como se o próprio sol hesitasse em iluminar o que está prestes a acontecer. O quarto onde Cassandra está é silencioso, exceto pelo som do seu próprio respirar pesado. Ela passou a noite inteira chorando sob o reflexo cruel do espelho, obrigada a encarar a si mesma. Cada vez que fechava o olho, a imagem do “antes” e “depois” no teto vinha como um golpe no estômago.
Não dormiu. Não conseguiu. Entre a dor das queimaduras abertas e o peso psicológico, cada minuto se arrastou como uma eternidade.
A maçaneta gira. A porta se abre devagar, e o homem que entra não precisa ser anunciado. O ar muda. A presença de David Lambertini preenche o espaço como se ele carregasse o peso de um mundo inteiro sobre os ombros e, naquele mundo, ele é o soberano absoluto.
Ele caminha até a beira da cama sem pressa, o olhar fixo nela. Cassandra sente seu único olho se encontrar com aqueles azuis intensos que, mesmo sem gritar, impõem obediência.
— Vejo que passou a noite se lembrando d