Fernanda
O dia amanheceu cinza, abafado, como se o céu soubesse que alguma coisa ia mudar.
Levantei antes de Guilherme, vesti uma calça jeans, uma blusa neutra, e prendi o cabelo. Nada chamativo. Nada que levantasse suspeita. Ele ainda dormia quando saí do apartamento — e mesmo dormindo, sua presença era como uma sombra colada na minha pele.
Peguei um carro até o local que Miriam tinha mandado: um flat discreto no centro da cidade. Toquei o interfone, e a porta se abriu sem resposta. Um frio percorreu minha espinha. Mas fui mesmo assim.
O elevador era velho, lento, e subia gemendo como se também não quisesse chegar lá em cima.
No andar indicado, a porta já estava entreaberta. Dei dois toques leves antes de empurrar.
— Entra, Fernanda — a voz veio de dentro, firme, tranquila. Familiar e, ao mesmo tempo, completamente nova.
Anya estava sentada à mesa com uma xícara de chá nas mãos. Vestia um vestido bege de seda, sem alarde. O loiro platinado preso em um coque elegante. Sem maquiagem pe