**Narrado por Clara**
Era 18h07. O andar começava a esvaziar lentamente. As mesas, antes repletas de documentos e equipamentos, agora pareciam nuas, quase desabitadas. O ritmo dos passos diminuía e o som do elevador se tornava mais audível, ecoando pelo corredor. Minha própria mesa já estava organizada: a caneta posicionada corretamente, os papéis dispostos em ordem e a bolsa repousando ao meu lado. Meu corpo clamava por descanso, por uma cama confortável, mas havia uma conversa urgente que não podia ser adiada.
Levantei-se e caminhei até a porta dele. Com dois toques secos, invoquei sua atenção.
— Entre.
As persianas estavam meio abertas, permitindo que uma luz cinza entrasse no ambiente. Miguel estava concentrado, escrevendo em seu caderno preto, como sempre fazia, demonstrando a calma de alguém que dita suas próprias regras ao mundo. Quando ergueu os olhos para mim, sabia que era meu momento de falar.
— Fale, Clara.
Parei a cerca de um metro de distância da mesa. Não fiz questão de