📓 Narrado por Miguel Satamini — Sexta-feira, 18h01 da tarde
O jatinho aguardava na pista, reluzindo sob o entardecer.
O sol se despedia atrás das nuvens, o céu tingido de laranja e chumbo.
Bonito demais pra um dia que eu só queria esquecer.
Clara subiu os degraus em silêncio. O salto dela ecoava no metal como batida de relógio lenta, precisa, irritante.
Nem um olhar pra trás.
Nem uma palavra.
Aquela calma dela era o tipo de provocação que me deixava à beira.
Entrei logo depois. O interior da aeronave cheirava a couro novo e whisky caro.
Ela já estava sentada, perto da janela, o cinto fechado e o olhar perdido lá fora, como se o mundo além do vidro fosse refúgio.
Silêncio.
Um silêncio que enchia o ar mais do que qualquer conversa.
O piloto anunciou a decolagem.
Eu só dei um aceno, e o motor rugiu grave, poderoso, como se obedecesse ao meu humor.
O avião começou a subir.
As turbinas engoliram o som das palavras que a gente não dizia.
E por alguns minutos, tudo que exi