Clarice estava no ateliê, o cheiro de aguarrás ainda no ar, mas agora misturado a uma leve fragrância de lavanda vinda do sabonete que usara. O pincel, antes abandonado, estava em sua mão, mas não tocava a tela. A promessa de Leonardo, a voz rouca no telefone, ainda ecoava em seus ouvidos: "Você me guia, não é?". Guiar. Que ironia. Por tanto tempo ela se sentiu perdida, e agora ele pedia para ser guiado.
A campainha tocou, um som discreto, quase um sussurro. O coração de Clarice deu um salto que ela pensou que ele pudesse ouvir do outro lado da porta. Respirou fundo, tentando controlar a aceleração. Era ele. Não um sonho, não uma mensagem, não uma lembrança. Ele estava ali.
Abriu a porta devagar, e o sorriso dele preencheu o espaço. Não era o sorriso malicioso da primeira vez, nem o sorriso caloroso da galeria. Era um sorriso que trazia uma mistura de nervosismo e uma alegria contida, quase um alívio. Os olhos, aqueles olhos de um tom de castanho que pareciam capturar a luz, fixaram-s