Cena: A carta no blazer
Ambiente: Quarto antigo, silencioso. Final de tarde. Clarice está sozinha.
O armário ainda tinha o cheiro dele.
Mesmo depois de tanto tempo.
Clarice parou diante das portas escuras, sentindo o ar pesado de memórias. Durante meses, evitou aquele cômodo — evitou tudo que ainda gritava o nome dele. Mas agora estava ali, na véspera de uma partida que a levaria para longe de tudo o que conhecia. Uma última visita, uma última dose daquela presença que teimava em não ir embora.
As mãos trêmulas deslizaram pelos cabides de ternos impecavelmente alinhados. Cada peça um fantasma, tudo ainda no mesmo lugar, como se ele pudesse voltar a qualquer momento. Um véu de poeira fina cobria a superfície dos sapatos, intocados, esquecidos.
Um blazer cinza-grafite, o favorito dele, chamou sua atenção. Ela o tirou do cabide com delicadeza, como se tocasse algo vivo, um coração que ainda batia.
Levou o tecido ao rosto, involuntariamente, inalando fundo. E lá estava o perfume.
Aquele