O CEO E A PROFESSORA MALUCA
O CEO E A PROFESSORA MALUCA
Por: Cat Freitas
Prólogo

Caine

— Serão só três semanas, Caine! — Nathan diz, do outro lado do telefone.

Três semanas. Como se falar desse jeito, rápido e despreocupado, fosse suficiente para transformar esse tempo em algo curto, insignificante, indolor. Três semanas para ele podem ser apenas mais uma missão fora do país, mas para mim… é uma eternidade de responsabilidades que não pedi.

Seguro o celular com mais força do que deveria, como se apertar o aparelho fosse aliviar a irritação. Claro que não alivia.

— Nathan, eu mal consigo cuidar de uma empresa que engole doze horas do meu dia, você realmente acha que vou dar conta de uma criança de seis anos? — minha voz sai mais dura do que planejei.

Do outro lado da linha, ele solta um riso curto, irritantemente confiante. — Como se você não fosse capaz de lidar com desafios, Caine.

Reviro os olhos, sozinho no meu escritório. — Desafios, eu resolvo. Planilhas, contratos, acionistas, fusões. Isso eu domino. Agora... crianças? Isso não é um desafio. É caos.

Me recosto na poltrona, olhando para a cidade através das janelas de vidro que tomam a parede inteira. São Paulo nunca dorme, e eu também não. Como poderia? A petroleira exige tudo de mim. E agora, além disso, querem que eu me torne… babá?

— Ele não pode ficar com a babá? — pergunto, forçando uma alternativa lógica, racional. — Ela vai cuidar muito melhor do que eu. Você sabe disso.

— Sim, mas Andreia tem família, sabe? — Nathan rebate, num tom quase repreensivo. — Nem todo mundo é sozinho igual a você, Caine.

A frase me pega de jeito, mas não demonstro. Ele continua, sem dar espaço:

— Ela pode passar o dia com ele, mas você busca na escola, participa das atividades, dá um pouco de atenção. Não acredito que vou perder o piquenique anual, as mulheres amam um pai viúvo, sabe…

— Começou a divagar, irmão. — corto, porque não suporto quando ele se perde nesses devaneios.

— Verdade! — ele admite, rindo de novo. — Mas você vai adorar. Não seja rabugento com ninguém, Cai, principalmente com a Miss Laura.

— Eu nem confirmei ainda, Nathan! — grunho, mas parece que ele nem me ouve.

— Vai confirmar. — Ele afirma, como se fosse uma ordem militar. — A mulher é um raio de sol ambulante. Então não seja grosso, nem faça cara feia. O Eli a ama, e ela é muito presente na vida dele.

— Vocês dois… — hesito, porque essas recomendações todas me deixam desconfortável. Quase íntimas demais. — Vocês dois têm alguma coisa?

— Não! — ele responde rápido, quase rindo da insinuação. — Ela só ajudou o Eli a lidar com a falta da Naomi, quando ele começou a perguntar da mãe.

O nome dela paira no ar entre nós. Naomi. Minha cunhada, minha amiga. Um buraco ainda aberto no peito de Nathan, e no de todos nós.

— A escola toda ajudou — ele continua, a voz mais séria —, mas as perguntas começaram quando nem eu entendia direito o que tinha acontecido. Miss Laura foi um anjo. Hoje a considero uma amiga.

Fecho os olhos por um instante. Naomi. Um dia estava bem, rindo, preparando bolo na cozinha, e no outro... não acordou. A autópsia deu uma doença rara, silenciosa, escondida. Nathan ficou devastado. Elijah tinha só dois anos. Eu vi meu irmão desmoronar, e por mais que eu tentasse, não consegui segurá-lo inteiro.

Abro os olhos de novo. Suspiro.

— Está bem. Eu cuido do Eli. — cedo, porque sei que não há escolha. Mas não sem antes colocar minha defesa: — A fase do astronauta já passou? Não quero meu carro embrulhado em papel alumínio de novo.

Do outro lado, Nathan explode em risada. — Foi só uma vez! E no meu carro também. O Eli já te explicou isso.

Apesar da irritação, um sorriso discreto me escapa. — Certo. Quando pego ele?

— Hoje. — A firmeza dele não dá espaço para fuga. — E não esquece, Caine: simpatia. Sem cara feia para as pessoas.

Reviro os olhos, exasperado. — Eu não sou grosseiro, Nathan. Sou educado e na minha. É diferente.

— Humrum. — Ele resmunga, claramente sem acreditar. — Só não esqueça que ali não são seus funcionários. Valeu, irmão. Elijah vai adorar passar esse tempo com você.

— Eu amo vocês, Nathan. Só espero não ter outra surpresa.

Conversamos mais alguns minutos. Ele insiste em advertir meu mau humor, fala mais da missão, e finalmente desliga.

O silêncio do meu escritório volta a me envolver, pesado, incômodo. Apoio o celular na mesa e passo a mão pelo rosto.

Três semanas.

Faço qualquer coisa pela felicidade de Nathan e Elijah. Sempre fiz. Mas, ainda assim, não posso evitar o pensamento: como vou sobreviver a isso?

Tenho uma empresa para administrar, contratos milionários em jogo, reuniões que decidem o futuro de centenas de funcionários. E agora, junto disso, vou ter que enfrentar um universo paralelo feito de cola, canetinhas coloridas, papéis coloridos, músicas irritantes e... glitter. Muito glitter.

Respiro fundo. Pego o celular de novo e digito uma mensagem curta para a acompanhante da noite: Planos cancelados. Família primeiro.

Não é mentira. Nunca foi. Eu gosto de diversão adulta, de noites sem compromisso, de desligar a mente por algumas horas. Mas família sempre vem em primeiro lugar. E se não for relacionado à empresa, pode esperar.

Assino mais alguns contratos, participo de outra reunião online e, quando o relógio finalmente marca o horário, levanto da cadeira. O peso do dia inteiro nos ombros, mas agora com um acréscimo: a responsabilidade de buscar uma criança.

Desço pelo elevador privativo até a garagem. O motorista já me espera, ao lado do carro perfeitamente polido, e o segurança está próximo, atento a tudo. Entro no banco de trás e olho para frente, sério.

— Vamos. — digo, seco.

Enquanto o carro se move pelas ruas, me pego imaginando o pior. Criança de seis anos. Energia inesgotável. Perguntas sem fim. Gosto por bagunça. E, principalmente, a mania de transformar qualquer objeto inofensivo em uma arma de destruição doméstica.

Meu estômago se contrai com a lembrança do carro embrulhado em papel alumínio. A paranoia não me deixa. E se dessa vez for pior? E se ele resolver transformar minha cobertura em cenário de algum experimento infantil?

— Só espero não me arrepender. — murmuro para mim mesmo, olhando a cidade passar pela janela. — Só espero não terminar com o carro cheio de papel alumínio... ou coisa pior.

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