Emma caminhava pelos corredores do ateliê com os olhos perdidos em cada tela. As luzes estavam apagadas, exceto por um feixe suave vindo da claraboia, iluminando a obra que ela acabara de finalizar. Era a imagem de uma mulher de cabelos soltos ao vento, com os olhos fechados e os lábios entreabertos — como se estivesse prestes a gritar. Ao fundo, sombras indistintas, ameaçadoras.
Era Elisa.
Ou talvez fosse ela mesma.
Emma já não distinguia onde acabava sua dor e começava a dor da mãe. A conexão era tão intensa que pintar se tornara um processo de cura — e de denúncia.
— Está pronta? — perguntou Alexandre, entrando no ateliê.
— Não. Mas vai assim mesmo. O medo não pode me paralisar.
— Então vamos montar a exposição.
Ela assentiu. Decidiu chamá-la de "Herança Silenciosa". Uma mostra de telas inéditas, todas inspiradas nas memórias de sua mãe, nas descobertas que vinha fazendo e nas cicatrizes que ainda ardem.
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A divulgação da exposição causou burburinho no meio artístico. O nome de E