- Ella! O que f...? – Matt se interrompeu no meio da frase quando viu sua mãe e a loira saindo do banheiro.
- Oh, meu Deus, querida, você está bem? Você não caiu por estar bêbada, caiu?
Então, o barulho de outra coisa pesada caindo na água atraiu todos os olhares. Ainda completamente vestido e enxarcado, Matt nadava em minha direção.
- Ah, nós estamos bêbados, mamãe – ele respondeu, me agarrando pela cintura e encarando a mulher. – E se eu fosse você sairia daqui agora pois não me responsabilizo pelo trauma que as próximas cenas podem lhe causar. Ah, oi Yasmin. Sinto muito, mas você também não está convidada dessa vez.
- Vamos, vamos... – a mãe de Matt vai tocando Yasmim para fora da área da piscina, fingindo não estar extremamente constrangida. – É amor jovem, deixe que se divirtam.
A loira dá uma boa olhada em mim antes de se permitir ser levada e eu consigo ver o ódio flamejando em seus olhos claros.
- O que elas fizeram? – Matt logo me pergunta, assim que as mulheres passam pela porta.
- O quê? Não, elas...
- Eu conheço muito bem a minha mãe e a Yasmim, Ella – garante. - O que elas fizeram? – Repete.
- Elas não me viram... Elas só estavam falando... Falando o quanto eu sou desqualificada para estar com você. O que está tudo bem, já que eu sou mesmo. E eu nem estou com você, eu só...
Perco a fala quando Matt desliza o polegar pelo meu rosto e ajeita uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Sua mão então desce pelo meu pescoço, colocando minha cascata de cabelos negros para trás e permanecendo ali, deslizando seu mindinho para cima e para baixo, em pequenos toques suaves pela minha pele.
- Aposto que elas foram bem menos educadas que isso.
- Sim, elas foram – não consigo deixar de admitir.
- Não ligue para elas.
- E por que eu ligaria? Não é como se eu realmente, se eu realmente...
Eu perco minha linha de pensamento porque agora a mão de Matt está segurando firmemente a minha nuca e são seus lábios que vem em direção ao meu pescoço.
- Matt... Não... Eu achei, eu achei que estava claro que... Que eu não, que a gente...
- Você deixou bem claro, Ella – Ele se afasta, com um pequeno sorriso no rosto. – Desculpa, acho que é a bebida falando e... Porra! Você sabia que seu vestido tá um pouco transparente agora, né?
- Ah, merda! – exclamo, me dando conta do vestido. – Eu preciso tirar isso...
- É você quem está dizendo! – Agora seu sorriso é completamente aberto.
- Não, é sério... Amanda vai me matar se eu o estragar e eu não posso pagar por um novo... Angie! Não Amanda, Angie. Ah, merda!
- Está bom, calma, olha pra mim – eu obedeço, porque ele é aquele tipo de pessoa que tem um magnetismo quando dá uma ordem. – Eu tenho um quarto aqui no hotel, vamos para lá. Você toma um banho quente, porque você está tremendo, e eu mando lavar o seu vestido.
- Eu não posso, eu...
- E o que você pretende fazer, Ellla? Voltar para casa nesse estado?
Eu não podia voltar para casa também. Estava de carona com Amanda e sabia que o tempo dela com Thomas se estenderia porque ele sempre pagava para levá-la para cama. Eu teria que esperar. E agora, eu teria que esperar dentro de um vestido molhado e me tremando de frio.
- Tá bom, obrigada.
Em uma coisa a mãe de Matt não estava errada: eu não pertencia àquele mundo. Raras foram as vezes em que me hospedei em hotéis e nenhum deles tinha uma antessala com bar, quarto com comandos inteligentes ou mesmo uma banheira de hidromassagem. Eu poderia morar ali facilmente – exceto que não poderia pagar por isso, é claro.
- Vá tomar um banho, tem roupão e toalhas no banheiro. Vou pedir algo para a gente comer enquanto isso, alguma preferência?
Dou de ombros.
- Eu como qualquer coisa.
Por mais que a banheira fosse extremamente convidativa, precisei reprimir a vontade de experimentá-la e optar por um banho quente de chuveiro. Não foi, exatamente, uma má ideia, uma vez que nunca tinha experimentado um chuveiro com uma pressão de água tão perfeita. Eu podia ficar lá durante horas apenas deixando a água quente massagear a minha pele, sem precisar me preocupar com uma gota gelada insistente e vários furinhos entupidos.
Ainda assim, apenas tomei um banho rápido e lavei os cabelos com algum produto de marca chique com nome em francês que eu mal saberia como pronunciar. Deixei o vestido dobrados sobre a bancada da pia e me enfiei em um roupão felpudo.
- A comida deve chegar em... uns... – Matt nem esconde o fato de estar percorrendo cada centímetro do meu corpo com o olhar. Por mais que o roupão ficasse cumprido em mim, era inevitável que a fenda deixasse boa parte das minhas pernas expostas. – O que eu estava falando?
- Comida.
- Quinze minutos. Vou tomar um banho rápido.
Aproveitei a ausência de Matt para revirar minha bolsa em busca do meu celular. Precisava mandar uma mensagem para minha mãe e conferir se estava tudo bem com Sophia. Frequentemente a sua doença lhe causava dores fortíssimas e ela precisava de remédios para contê-la. O problema é que o remédio não era nada barato. Assim que recebesse eu compraria uma nova cartela, mas era sempre assustador quando ela tomava o último e a gente tinha que torcer para que nada acontecesse naquele meio tempo.
- Merda! – exclamei, meu celular não queria ligar.
Eu nem tinha pensado nisso na hora, mas quando cai na piscina, minha bolsa estava comigo. Não só meu celular tomara um belo de um banho, como tudo de papel que eu carregava – incluindo documentos e algumas poucas notas de dinheiro – havia enxarcado. Corri até a penteadeira e sequei o melhor que consegui a minha identidade, passando logo em seguida para o celular. Eu sabia que colocar no arroz talvez ajudasse, mas onde eu ia conseguir arroz dentro desse quarto de hotel?
- Merda! – Exclamei novamente, o celular ainda não ligando mesmo depois da tentativa de secá-lo.
- Aconteceu alguma coisa?
Matt voltou ao quarto usando apenas uma calça Adidas preta, o peitoral completamente exposto. Foi minha vez de perder o ar por um segundo. Eu estava certa, ele era bem musculoso. Mas seus músculos eram perfeitamente desenhados, e não exagerados, um convite para a perdição.
- Meu celular... Caiu na piscina e eu não consigo ligar – tento manter o foco.
- Usa o meu... – ele tirou do bolso da calça e me estendeu. – Sabe o número? – Pergunta, enquanto vai até a cama e veste a camisa que tinha deixado separada.
Eu sabia, mas não queria ter outra conversa pessoal familiar na frente de Matt. Então apenas digito uma mensagem rápida para Amanda explicando que tinha tido um contratempo com meu celular, mas que eu a esperaria na recepção no horário combinado.
Como muitas das coisas que eu estava experimentando pela primeira vez naquele dia, aquele jantar tinha sido uma das coisas mais maravilhosas que já comi na vida. O único erro tinha sido deixar Matt combinar cada um dos pratos – entrada, principal e sobremesa – com o seu vinho preferido. O banho gelado de piscina, seguido do banho quente de chuveiro, tinham ajudado a amenizar o efeito do whisky em meu organismo. Mas as taças de vinho logo me deixaram alcoolizada além da conta novamente.- Acho que a última vez que eu bebi tanto, foi na faculdade... – Tento me levantar, mas o mundo está rodando ao meu redor. – Opa... – me atrapalho com as próprias pernas e me apoio na mesa.- Onde você acha que vai assim? – Matt permanece sentado, uma boa escolha, visto que ele também bebeu bastante.- Casa? – Digo. – Amanda... Angie... Ela já deve estar quase acabando.- Mandei uma mensagem para sua amiga... – ele exibiu o celular. – Disse para que não se preocupe porque eu vou te deixar em casa.- Não
- Duzentos e cinquenta mil, porra! Você só pode ter uma boceta de mel! - Shiiiu! – Eu levo o dedo aos lábios, pedindo que Amanda mantenha o tom de voz baixo. Corro até a porta do meu quarto e a fecho, com medo de que meus pais possam ouvir. - Ele tinha algum tipo de fetiche estranho? – A voz de Amanda está bem mais baixa agora. – Alguma coisa nojenta? – Faz uma careta. - Eu já disse que não transei com ele! - Meu amor, fica difícil de acreditar quando o cara te mandou um bônus de duzentos de cinquenta mil. - Ele realmente fez isso? Eu me lembro do nosso acordo, é claro. Mas depois de que saí daquele clube e o álcool foi progressivamente deixando o meu corpo, me pareceu extremamente improvável que Matt estivesse falando sério. Ainda mais que ele disse que faria o pagamento em duas partes, o que significava que... caceta! - Sim, já está na sua conta, você não viu? - Meu celular estragou, lembra? - É verdade, talvez isso justifique o presente... Ela remexe em sua bolsa Prada, qu
Minha família tinha um comércio que funcionava no andar de baixo da nossa casa. Começou como uma pequena mercearia, vendendo produtos alimentícios de primeira necessidade. Apenas uma vendinha de bairro mesmo, mas que sempre nos ajudou a manter as contas em dia. Depois de um tempo, Miguel, meu padrasto, expandiu o espaço e colocou algumas mesinhas. Passamos a vender também bebidas e petiscos rápidos. Tinha sido uma boa ideia, visto que sempre tinham alguns homens conversando aleatoriedades e bebendo, ainda que fosse segunda-feira de manhã. Mas também tinha sido uma má ideia, visto que sempre tinham alguns homens conversando aleatoriedade e bebendo, ainda que fosse segunda-feira de manhã.Nossa venda não estava nem perto de ser um sucesso empresarial, ou mesmo de ser suficiente para sustentar uma família de oito pessoas. Mas como eu e meus dois irmãos estávamos desempregados, conseguíamos nos revezar para cuidar do estabelecimento. As manhãs eram minhas.Por isso, quando Matt me mandou
“- Eu mando o motorista, Ella” – desdenhei, enquanto contava a história toda para Amanda.Obviamente eu tinha ligado correndo para a minha amiga. Eu não tinha a menor intensão de aparecer no escritório de Matt usando calça jeans e camiseta do Harry Potter. Mas, dito isso, eu não fazia ideia do que usar. Não era exatamente como se eu tivesse muitas opções.- Ele é fofo – respondeu ela, mexendo no meu armário.- Ah, claro. Vai ser muito fofo também quando o Bruno ou outra pessoa me ver entrando em um carro de luxo.- Mete o foda-se, Ella! Você não está fazendo nada de errado.- Eu sei! Mas você sabe que as pessoas não pensam assim...- Você deveria se importar menos com o que as pessoas pensam! – Ela briga. – Ninguém tá pagando suas contas! Aliás, o Matt tá.- Você sabe que eu não consigo ser como você!Amanda revira os olhos e volta a se concentrar nas minhas roupas.- Posso te emprestar algo, se quiser.- Não posso ficar te pedindo roupas emprestadas toda vez que for sair com ele, Man
- Ele te deu o cartão dele e disse pra você usar à vontade? Amanda ainda não acreditava que eu tinha pagado nosso almoço em um dos restaurantes que sempre quisemos ir – e nunca pudemos pagar – do shopping mais chique da cidade. E que agora estávamos indo até uma loja super renomada pedir para que “renovassem o meu guarda-roupas”. - Dá para acreditar? E o cartão é feito de ouro! - Deixa eu ver! Cadê? - Dentro do meu sutiã! – Digo, como se fosse óbvio. – Eu não vou correr o risco de perder ou de alguém me roubar. Tá seguro. - Super seguro. Até porque ninguém coloca a mão aí a muito tempo, né amiga? - Cala a boca! – Respondo, mas estou rindo. Entrelaço meu braço no de Amanda enquanto caminhamos olhando as vitrines chiques. Se eu já tinha vindo nesse shopping antes uma vez, era muito. Não era um lugar para mim. Não tinha lojas de departamento. Se eu olhasse para a direita tinha uma Chanel, se eu olhasse para a esquerda tinha uma Prada e se eu olhasse para frente tinha uma Lennox. Na
- Eu nunca mais volto naquela loja! – Lilly dizia revoltada. – Elas foram tão preconceituosas! – Ela baixa a voz para quase um sussurro. – Nunca passei por isso.Nós estávamos sentados em uma cafeteria no shopping. Por mais que Amanda e eu não tivéssemos almoçado há muito tempo – e tivéssemos pedido sobremesa, minha amiga fez questão de pedir três tipos de doces diferentes. Eu pedi apenas um chocolate quente. Estava nervosa e chocolate quente era uma bebida de conforto. Mas preciso admitir que me arrependi um pouco. Se aquele era o melhor chocolate quente que já provei na vida, imagina o resto do menu!- Eu estava com o cartão de crédito de outra pessoa, então...- Não a defenda! – Matt me cortou. – Não tem defesa.- Não tem mesmo! – Amanda concorda. – Ela foi uma idiota.- Não se preocupe, Ella, vou te levar em uma outra loja aqui perto que é maravilhosa! Eu gosto ainda mais dela, na verdade.- Ótimo, vocês já têm planos para até a hora do jantar, então... – Ele se levanta. – Vou vol
Enquanto nos éramos seguidas por três funcionários da loja carregando as compras para mim até o estacionamento, eu pensava que nunca tinha saído de uma loja com tanta sacola junto, nunca! Talvez nem se eu somasse todas as sacolas dos últimos dez anos da minha vida em compras, daria aquela quantidade.Isso em uma loja de departamentos já seria um absurdo, mas em um a multimarcas de grife... Por mais que Lilly não tivesse deixado eu ver a conta, eu tinha certeza de que valia uma fortuna.- Isso é um exagero... – sussurro para Amanda em um momento em que Lilly se distrai com o celular. – Lilly deve ter feito Matt gastar mais do que ele tá me pagando!- Deve? – Amanda dá uma risadinha. – Meu amor, é claro que ela fez!- Eu não consigo me sentir confortável com isso.- Relaxa! – Ela diz. – Isso é troco de bala para gente como os Lennox. Lilly deve fazer uma compra dessas todo mês.- Ainda assim... Não paro de pensar que esse dinheiro poderia ser muito mais bem gasto com outras coisas. Como
Depois do jantar, o motorista de Matt me leva até em casa. Ou melhor, ele me leva até a casa de Amanda. Além de eu saber que não conseguiria entrar em casa com todas aquelas sacolas sem chamar atenção, também seria difícil explicar o fato de estar descendo de um carro chique. Então peço que ele estacione em frente a casa da minha melhor amiga, que fica há apenas cinco minutos de caminhada da minha casa, e aproveito para descarregar todas as compras lá. Fico apenas com a roupa que usarei na manhã seguinte, já que Matt queria me ver novamente, a qual camuflo dentro de sacolas de mercado. O restante das coisas, Amanda iria me levando aos pouquinhos, toda vez que fosse me visitar.Tento entrar em casa o mais sorrateiramente possível, por mais que pelo horário já fosse para todos estarem dormindo. O problema é que não estavam. Quando entro no meu qua