Antonella sempre tratou a sobrinha com todo o amor do mundo, especialmente depois que sua irmã morreu. Mas a garota tem um problema de saúde grave que requer medições e uma cirurgia para a qual ela não tem dinheiro para pagar. Antonella então se envolve com o mundo das acompanhantes de luxo, mas logo no seu primeiro trabalho conhece Matt, o herdeiro bilionário de uma empresa de joias de luxo. Tocado pela história de Ella, Matt faz uma proposta: pagará por todos os custos da operação da Sophia e ainda dobrará o dinheiro. Mas em troca, Ella deverá fingir ser sua namorada por seis meses, a fim de impressionar seu pai e clientes. O que eles não poderiam imaginar é que a linha entre o fingimento e a realidade era tênue demais e que um amor verdadeiro poderia acabar surgindo entre duas pessoas de mundos completamente diferentes.
Ler mais- Eu não preciso transar com ele, não é?
Era estranho como o meu corpo reagia quando eu ficava nervosa. Ao mesmo tempo em que eu daria tudo para qualquer umidade na minha garganta extremamente seca, eu desejava não estar suando horrores pela palma das mãos. Humedeço os lábios com a língua ao mesmo tempo em que me contenho em enxugar as mãos no vestido. Não podia deixar manchas naquele vestido.
Vestido, aliás, que nem era meu. Eu não teria nada tão chique e sexy ao mesmo tempo como aquele vestidinho Gucci preto de alcinha que ao mesmo tempo em que não era revelador demais sustentava perfeitamente o decote dos meus seios e marcava sedutoramente as curvas da minha bunda. Eu nunca usaria isso em outra ocasião. Eu era a garota da calça jeans e camiseta de loja de departamento. Amanda, parada ao meu lado, era garota dos vestidos sensuais e caros.
- Só um minuto, Ella, deixa eu verificar com o meu agente se nada mudou desde os últimos dois minutos quando você me fez essa pergunta pela última vez... – Ela revirou os olhos. – Não, você precisa dormir com ele! Isso não está incluso no acordo. Mas você pode... caso ele ofereça uma grana extra e você tope.
- Não vou topar! – Digo com convicção.
- Assim você me ofende, sabia?
- Não! – Protesto, agarrando o braço da amiga ao meu lado e descansando brevemente minha cabeça em seu ombro. – Você sabe que não é isso. Eu queria ser como você, livre pra conseguir fazer o que quisesse. Mas você sabe que eu sou aquela mesma idiota que você conheceu na época da escola que não conseguia nem beijar um garoto na balada se meu coração não acelerasse.
- Tudo bem. Vou aceitar isso como desculpa, mas só porque você mesma disse que é uma idiota. Agora vamos, eles estão esperando...
Amanda adentrou confiante no prédio, quando o porteio abriu a porta para nós duas. Tentei imitar sua segurança ao segui-la, mas era difícil. Primeiro porque eu estava muito nervosa, o que deixava minhas pernas parecendo duas marias-moles. Segundo, porque eu tinha marias-moles em cima de saltos de dez centímetros. Esquecendo toda e qualquer confiança que eu pudesse querer transparecer, apenas me concentrei em não tropeçar. Isso sim seria um fiasco.
- Hey, bonitão! – Amanda se aproximou de dois homens de terno parados próximo ao bar do hotel.
Ele logo tratou de colar seus lábios nos lábios de um deles, mostrando quem era o cara com quem estava acostumada a sair.
- Essa é minha amiga, de quem falei. Alice.
Alice. Eu não deveria usar meu nome real, segundo Amanda. Ela também não usava, era Angie. Precisaria me lembrar disso: eu não era Antonella, ou Ella, eu era Alice.
- Alice, oi! – O homem em companhia de Amanda me cumprimentou com dois beijinhos no rosto. – Eu sou Thomas, e esse é meu primo, Matt.
- Oi – digo simplesmente, em direção a Matt. Estou nervosa e ele não parece que vai facilitar as coisas para mim.
- Oi – ele responde, enquanto seus olhos me avaliam de cima a baixo, demorando-se um segundo a mais do que o necessário no meu decote. – Tudo bem... – diz como quem aprova. – Vamos. – Ele coloca a mão na base das minhas costas e me guia em direção as portas duplas de vidro que levavam aos jardins.
Eu nunca tinha estado ali antes, e nunca achei que estaria. Era simplesmente, o clube mais chique da cidade, com hotel, restaurante, bares, jardins... tinha até um campo de golfe! Era lá onde os grandes empresários da cidade iam para fechar negócio e exibir mulheres bonitas. E era basicamente isso que eu estava fazendo lá, servindo de troféu.
- Sua amiga te explicou o acordo, certo? – A voz levemente rouca de Matt soou próxima demais do meu ouvido.
- Sim. Ficar quieta e sorrir, certo?
- Basicamente – ele confirmou. – Você está aqui para fingir que é minha namorada, então aja como uma e não como uma prostituta.
- Ei! – Me pego protestando e viro para encará-lo. – Um pouquinho de respeito seria bom! – Digo isso porque a forma como ele diz a palavra “prostituta” soa completamente depreciativa.
- Eu te ofendi? Desculpa. Eu só não estou acostumando com isso... É a primeira vez que preciso pagar por uma mulher e isso tá me parecendo cada vez mais uma ideia muito, muito ruim.
- Bom, é a primeira vez que sou paga para sair com um homem também, e acredite está sendo bem mais doloroso para mim.
- Só vamos acabar logo com isso... – ele volta a colocar a mão na minha cintura e me guia em direção a um grupo de homens de meia idade com suas esposas.
Amanda tinha me explicado do que aquilo se tratava. Basicamente se tratava de uma socialização envolvendo CEOs de grandes empresas e suas famílias. Era importante que todos ali aparentassem serem pessoas distintas e apresentáveis, coisas que Matt e Thomas claramente não eram. Os primos, que tinham ali por volta seus trinta e poucos anos, eram solteirões convictos que já tinham pegado metade da nossa cidade – a metade feminina – e não se envolviam emocionalmente com ninguém.
- E por que eles não levam simplesmente qualquer garota? – Me lembro de ter perguntado a Amanda. – Por que pagar por uma acompanhante?
- Você tá reclamando da nossa sorte? – Ela retrucou.
- Claro que não, mas...
- Thomas diz que isso evita sentimentalismo desnecessário. Que as coisas entre nós são claras o suficiente para que eu saiba que ele me levar em uma festa familiar não significa um próximo passo em um relacionamento. Coisa que talvez não fosse muito obvio para qualquer uma das peguetes dele.
- Hum... – Aquilo fazia um pouco de sentido, analisando friamente.
- Deve ser o mesmo caso desse tal de Matt.
E só podia ser mesmo. Porque, ali de pé, parando para analisá-lo enquanto conversava com os três homens tediosos, era difícil imaginar que ele não conseguisse um encontro com qualquer mulher que ele quisesse para aquele evento.
Matt era bonito, do tipo que atraia todos os olhares mesmo estando com uma garota do lado. Devia estar perto dos 1,85 de altura e possuía músculos que se salientavam mesmo através do terno. Seu rosto retangular era esculpido por uma barba por fazer não muito densa em um loiro escuro do mesmo tom de seus cabelos bagunçados pelo vento. Seus olhos, tão azuis que poderiam afogar qualquer mulher desprevenida.
- Ah, a juventude! – Disse uma das mulheres ao meu lado. – É tão bonito o jeito com que você olha para ele, tão apaixonada...
- Ah... er... eu... – Meu Deus, eu precisava ser capaz de formular uma frase completa!
- Não a pressione, mãe – Matt me puxa pela cintura para mais perto do seu corpo e deposita um beijinho em minha têmpora. – Não vai querer espantá-la.
Mãe? Ele tinha dito... mãe? Uma mulher nunca estava pronta o suficiente para conhecer sua sogra, ainda que fosse a mãe do seu namorado falso de um dia. Mas em um primeiro encontro e sem avisos? Esse Matt parecia louco de colocar qualquer uma nesse situação. Talvez fosse por isso que estivesse me pagando.
Enquanto os homens conversavam sobre negócios, as mulheres debatiam futilidades. Minha “sogra” fazia questão de falar sobre suas inúmeras viagens, sua coleção de bolsas de grife e o novo iate que estavam prestes a comprar. Claro que para isso, ela também me perguntava se eu conhecia cada um daqueles países que ela citava, o motivo de eu estar usando um Gucci “vintage” da estação passada e se eu gostava de velejar.
- Vamos marcar de velejar em Malta qualquer dia desses, então – Ela conclui. Mesmo eu tendo dito que nunca sai do Brasil ou pisei em um iate em toda a minha vida.
Matt parecia tão desconfortável quanto eu. O homem que eu julgava ser seu pai (visto que a mãe de Matt o havia chamado de “querido” algumas vezes) era totalmente irônico e agressivo. Frequentemente o desvalorizava quando Matt fazia algum comentário.
- Percebem o motivo de ainda não ter me aposentado? – Ele riu e os outros homens ecoaram a risada, por educação. – Não posso deixar a empresa nas mãos de qualquer incompetente.
Percebi a mão de Matt apertando ainda mais a minha cintura, de uma forma até um tanto dolorosa. Era como se ele estivesse precisando controlar cada parte do seu corpo para não responder o pai de maneira mal-educada.
- Dá para entender por que eu não podia trazer uma mulher de verdade? – Matt aproximou seus lábios de uma minha orelha e deixou um beijinho em meu pescoço enquanto falava.
- Eu sou uma mulher de verdade! – Retruquei em um murmuro.
- Eu sei! Mas você entendeu... – Seu próximo beijo foi um pouco mais sensual, me causando arrepios. Conscientemente eu sabia que ele estava fingindo, mas era difícil explicar isso para o meu corpo. Ainda mais para uma parte tão sensível dele.
- Por que não leva sua garota para dar uma volta por aí, Matt? – Seu pai sugeriu. – Deixe os homens de verdade trabalharem aqui – mais algumas risadas se seguiram.
- Claro! – Quando sua mão relaxou ao meu redor, eu quase pude prever ele perdendo o controle. – Vou estar fodendo com ela na sauna, caso precise de mim para mais alguma opinião inútil.
- Matt! – Sua mãe o advertiu.
Mas ele já havia saído, me puxando com ele para longe.
- Abre os olhos, Ella.- Por favor, Matt, só mais um pouquinho – insisto.- Olha para mim.Finalmente abro os olhos e o encaro, me perdendo nos seus olhos azuis da mesma forma como tinha acontecido da primeira vez em que nos vimos. Eu ainda era tão apaixonada por aquele homem. Talvez ainda mais e mais a cada dia.- É que às vezes, eu acho que tudo é perfeito demais para ser real. E eu não quero acordar.- Posso te beliscar para provar que não é um sonho... – ele desce a mão da minha cintura e aperta minha bunda.- Matt! – Brigo, dando um tapinha em seu ombro.- Ninguém está vendo! – Ele ri.E ninguém estava mesmo, nós é quem estávamos vendo todos, observando o animado salão principal da nossa casa em Londres do topo das escadarias de mármore.- Quando você imaginaria que nos
~MATT~- Eu ainda não acredito que você vai embora – Lilly choraminga.Minha família tinha feito um jantar de despedida na noite anterior, cheio dos seus altos e baixos, é claro. Muito bate-boca, poucos abraços e algumas lágrimas. Mas Lilly tinha insistido para me acompanhar até o aeroporto hoje.- Não faz drama, irmãzinha. A princípio serão apenas seis meses.- A princípio – ela revira os olhos, enquanto frisa as palavras. – Sem contar que seis meses é muito tempo, vou morrer de saudades.- Você sabe que pode pegar um avião para Londres a qualquer hora, não é? – Digo, puxando-a para um abraço.- Eu sei... Mas eu gostava de saber que você estava por perto. Sabe que é meu preferido, não é?- É claro que eu sei... – rio, enquanto ela se a
Quase três meses. Eu estava na fase em que a dor parecia estar aliviando, por mais que eu ainda chorasse escondida no travesseiro algumas noites, mas a saudade só parecia aumentar. Me pegava pensando em Matt ainda com mais frequência e vez ou outra dava uma espiada em suas redes sociais. Não que ele atualizasse. Então, eu espiava as redes sociais da loja. E apesar disso me deixar informada sobre o sucesso que a coleção de Matt estava fazendo, não tinha quase nada sobre ele lá.Às vezes eu também me pegava olhando através da vitrine do spa por longos minutos enquanto devaneava. Eu desejava, tanto quanto não desejava, que ele passasse por ali e eu pudesse ao menos vê-lo de longe. Mas, obviamente, Matt não trabalhava diretamente na loja e nas raras ocasiões em que devia ter que ir lá, provavelmente evitava passar aqui em frente.Eu vinha conversando bastante
- Essa cidade tem uma média de três shoppings por habitante... – reviro os olhos. – Sério que ele tinha que abrir a primeira loja dele justo aqui no Midtown Mall?Confesso que eu me sentia um tanto quanto idiota escondida atrás de um quiosque fechado enquanto observava o movimento do coquetel de inauguração da Ella através da vitrine. E me sentia ainda mais idiota em chamar uma loja de “Ella”. Será que era assim que Matt se sentia quando as pessoas usavam “Lennox” para se referir a joalheria? Bom, provavelmente ele se acostumou em algum ponto. Eu não.- É o melhor shopping da cidade... – Bianca dá de ombros. – É perto da casa dele – ela começou a enumerar. – Tem uma Lennox bem de frente...- Tá, já entendi... – a interrompo.- O que eu não entendi, é o que estamos f
Dois meses. Dois meses desde que Matt e eu terminamos e eu ainda pensava nele frequentemente todos os dias, por mais que eu estivesse sabendo disfarçar muito melhor. Ou, ao menos, assim eu esperava. Cuidar de Sophie no pós-operatório e o spa tomavam bastante do meu tempo, o que era uma coisa excelente para tentar manter a mente ocupada.Sophia estava tendo uma recuperação excelente, por mais que ela reclamasse de precisar ficar muito tempo quietinha o tempo todo. Ela assistia as aulas pelo notebook e eu estava sempre presente para auxiliá-la. Depois normalmente a gente fazia alguma coisa para se divertir como assistir a um filme ou a um desenho.Na parte da tarde eu sempre ia para o spa. Eu precisava admitir que Bianca estava me surpreendendo ao tomar a frente em qualquer situação necessária e apenas me passava os relatórios, me poupando de qualquer estresse. Então, basicamente, eu gastava poucas horas do meu dia por lá, apenas conferindo tudo.- A propósito, aquele carinha bonitinho,
~ELLA~- A cirurgia foi um sucesso!Eu caio em um choro copioso quando ouço as palavras do médico de Sophie, vindo nos avisar na sala de espera. Não que eu tivesse feito alguma coisa nas últimas horas além de chorar e andar de um lado para o outro dentro daquela sala, mas, dessa vez, o choro era um sinal gigantesco de alívio.Alívio de pensar que tudo, absolutamente tudo pelo que Sophia passara desde que nascera tinha terminado. Tudo bem, ela ainda precisaria passar pelo processo de recuperação, mas essa, com certeza, seria a parte mais fácil. Em breve, nós estaríamos livre dos remédios, das dores, das limitações... Em breve ela poderia fazer tudo o que uma criança saudável da sua idade fazia.E naquele instante, mais do que nunca, eu tenho certeza de que tudo o que fiz por ela valeu absurdamente a pena.- O efeito da
Último capítulo