Patrícia percebeu que havia um tipo específico de cansaço que não vinha do corpo.
Era um cansaço sutil, quase educado, que surgia quando o mundo começava, pouco a pouco, a pedir mais do que ela estava disposta a entregar. Não em forma de cobrança direta. Mas em sugestões. Convites. Expectativas disfarçadas de gentileza.
Ela reconheceu o sinal logo cedo.
Miguel dormia após a primeira mamada, e Patrícia estava sentada à mesa, com a casa ainda silenciosa, quando o celular vibrou duas vezes seguidas. Mensagens diferentes, pessoas diferentes, o mesmo tom implícito:
E agora?
Quando você volta?
Já pensou no próximo passo?
Ela leu sem pressa. Não respondeu de imediato.
Não porque estivesse confusa.
Mas porque já sabia a resposta.
Fez o café com calma, abriu a janela, deixou o ar da manhã entrar. O dia estava claro, comum, sem nenhum sinal de urgência. E isso lhe deu a medida exata do que precisava fazer.
Escolher-se. De novo.
Quando Miguel acordou, ela o pegou no colo e caminhou pela casa com