Patrícia sempre soube que o golpe mais perigoso não viria dos tribunais.
Papel aceita tudo. Lei pode ser interpretada. Ataques jurídicos deixam rastro, criam defesa, permitem reação. O verdadeiro risco vinha de outro lugar. Do passado. Das pessoas que conheciam versões antigas dela. Daquilo que nunca tinha sido exposto porque nunca fora necessário.
Até agora.
Naquela manhã, Patrícia acordou com uma mensagem curta no celular. Número desconhecido.
“Seu nome não é tão limpo quanto você finge.”
Ela leu uma vez. Depois outra. Não sentiu pânico. Sentiu reconhecimento.
— Chegamos lá — murmurou.
Enzo estava no banho. Patrícia não o chamou. Ainda não. Caminhou até a cozinha, preparou o chá com movimentos precisos e sentou-se à mesa, o celular à frente, como se fosse apenas mais um item do dia.
Minutos depois, outra mensagem.
“Quer que eu conte quem você foi antes?”
Patrícia apoiou a mão na barriga, respirando fundo. O bebê se mexeu levemente. Não em alerta. Em presença.
— Eu sei quem eu fui —