Helen e Fernando tinham um casamento perfeito e a notícia da gravidez só intensificou esse amor. Mas o castelo perfeito deles começa a desmoronar quando descobrem que o filho tem síndrome de Down. Fernando não quer mais o bebê e pede a ela que faça uma escolha, só não esperava que Helen fosse pedir o divórcio. Quando se vê diante da ideia de perder a mulher de sua vida ele vai precisar fazer uma escolha, superar seus preconceitos, ou perder a pessoa que mais ama.
Leer más— Você sabe que eu te amo, não sabe? — a voz de Fernando soava triste e pesarosa.
Estávamos sentados no sofá em nossa sala, havia dias que não tínhamos uma conversa decente.
— Claro que sei. E eu te amo do mesmo jeito. — aproveitei o momento de abertura daquela casca esquisita que se tinha criado entre nós nos últimos dias e o abracei, me aconchegando nele, sentindo a falta que fazia não ter o seu toque e calor sempre que eu quisesse.
Desde que tínhamos assumido nosso relacionamento nunca ficamos sem nos falar desse jeito, nem mesmo deixamos qualquer que fosse o problema ficar entre nós. Sempre procurávamos conversar depois de uma briga e acertar tudo.
Esse tinha sido o maior período desde que começamos a namorar que ficávamos sem nos falar e me doía ainda mais não saber o porque, o que tinha dado nele para se distanciar de mim daquela forma?
— Então você vai me entender, vai compreender o meu pedido. — o peito dele se expandiu com a respiração profunda, seus olhos estavam sérios e pareciam cansados. — Depois de pensar muito eu cheguei a conclusão de que o melhor a fazermos é um aborto, eu já procurei uma clínica e achei o lugar perfeito, vou estar do seu lado o tempo todo e depois se ainda quiser um filho podemos tentar de novo, talvez inseminação ou até adoção, não me importo de verdade.
Eu fiquei em choque por alguns minutos, desacreditando do que ele tinha acabado de dizer, só podia ser uma pegadinha de muito mau gosto, mas que ele se redimiria no minuto seguinte.
Mas a risada não veio, a frase que espantaria meu choque nunca apareceu. Fernando continuou ali me olhando sério em expectativa.
— Você está falando sério? — o questionei sentindo todo meu corpo se retesar quando processou cada palavra que ele disse. Fernando acenou afirmando o que eu temia. — Perdeu a cabeça? Eu não vou tirar meu filho, não vou fazer merda de aborto nenhum...
Sai dali me afastando dele e envolvendo as mãos na barriga, mesmo que mal desse para se notar, de forma protetora. Ele continuou sentado no sofá, sua expressão tentava me passar uma calma e confiança de que tudo daria certo, e com certeza se o assunto fosse qualquer outro eu teria confiado, como confiei tantas vezes antes, mas dessa vez não ia funcionar.
— É o melhor para todos você não vê? Uma criança assim requer cuidados especiais, é tudo bem mais complicado e... há tantas complicações Helen, tanta coisa pode acontecer com uma criança assim. — eu balançava a cabeça freneticamente negando todas as babaquices que ele estava dizendo. — É isso o que você quer? Trazer uma criança ao mundo para sofrer e para nos fazer sofrer? Tem ideia de com quantos problemas ele pode nascer? Pode nem mesmo chegar a viver por muitos anos!
Meus olhos estavam cheio de lágrimas a essa altura. Eu não podia acreditar que o homem doce e apaixonante, que sempre tinha tentado me mostrar o lado divertido e positivo da coisa, agora estava falando assim de seu próprio filho.
Mas não me permiti chorar, ele não merecia ver minhas lágrimas, se ele achava que podia me fazer desistir do bem mais precioso que eu havia ganhado ele estava muito enganado.
— Para o inferno você e suas ideias de merda!
— Eu não vou Helen... não vou conseguir ficar aqui e passar por tudo o que acabei de te falar. — Fernando respirou fundo e passou as mãos no cabelo de forma impaciente, estava claro o quanto aquilo o machucava, mas porque ele continuava a dizer? — Como te disse no começo da conversa, eu te amo de uma forma que você não pode imaginar, mas isso? — ele apontou com a mão em direção a minha barriga. — Isso eu não posso fazer com você! Não vou ficar aqui e assistir você se arrastar para esse sofrimento. Sou eu ou o bebê.
Uma risada histérica me escapou quando ouvi o ultimato. Aquilo não era real, Fernando não estava fazendo isso comigo. Ele achava mesmo que aquilo seria uma escolha? Fernando tinha realmente perdido o maldito juízo!
— Você pode pegar todas as suas coisas e ir se foder, vá para o mesmo lugar onde colocou a merda do seu juízo perfeito e o nosso casamento! — gritei deixando claro que não toleraria aquela loucura, não ia ouvir mais nada do que ele dissesse.
Fernando recuou assustado com minha reação, eu entendia já que ele nunca tinha me visto transtornada assim, não era do meu feitio falar palavrões ou gritar, não gostava de discussões já tinha tido o suficiente no meu primeiro casamento. Essa com certeza era a primeira vez que eu falava daquele jeito com ele, mas também era a primeira vez que ele agia como louco de pedra.
— Helen... — ele estendeu a mão encarando meu rosto e parecia querer dar um passo em minha direção, os olhos conturbados e cheios de lágrimas não derramadas me deram a certeza de que aquilo doía nele.
Como não doeria, ele tinha se apegado ao filho, depois de meses tentando engravidar finalmente conseguíamos, Fernando só falava no nosso bebê, na nossa vida juntos, fazia planos para o futuro da criança, e a notícia foi um baque que o fez se fechar em um casulo me deixando para fora, agora eu sei que foi por culpa dos pensamentos negativos, ele se encheu de coisas ruins e agora estava colocando elas para fora da pior forma. Eu nem conseguia imaginar que tipo de coisas estavam se passando na cabeça dele nesse momento, quantas coisas leu ou quais informações erradas ele engoliu durante esses dias.
O homem na minha frente sofria com sua decisão, mas seu orgulho o segurou de dar mais um passo e acabar com a nossa distância. Ao invés disso ele se virou e se trancou no nosso quarto.
Parte de mim queria acreditar que ele tinha ido para lá a fim de guardar suas coisas e sumir, mas eu sabia que era porque suas opções se resumiam ao nosso quarto ou o quarto do bebê e ver as coisas do nosso filho era a última coisa que ele queria.
Abri meus olhos sentindo a claridade do quarto de hospital quase me cegar, mas foi só olhar para o lado que eu o vi. Fernando estava ao lado da cama, com uma mão segurando a minha e a outra segurando o celular, ele parecia tão concentrado que nem notou que eu o olhava até que abri a boca.— Como ele está? — seus olhos se viraram imediatamente para mim e o sorriso largo e doce se abriu.Foi a primeira coisa com que me preocupei, meu filho, eu tinha apagado depois que o levavam, estava cansada de mais para manter os olhos abertos enquanto aguardava os exames.— Ele está bem, já fizeram todos os exames e o colocaram no berçário, Pedro não saiu de lá nenhum segundo. Aparentemente Angel vai ter que usar óculos bem cedo, mas fora isso não tem nenhum problema. — e ali eu consegui respirar mais aliviada, meu medo sempre foi que ele nascesse com problemas cardiológicos ou até pior. Fernando se abaixou dando beijos em meu rosto. — Você tem que vê-lo, vou pedir para a enfermeira trazer.Não demo
— Angel? Quem é... Helen que Angel? — a voz de Miguel parado nas minhas costas me fez trincar os dentes, não sabia se por raiva das duas crianças a minha frente ou pela dor que estava se tornando cada vez mais forte.— Vocês dois formam o par perfeito, a língua maior que a boca! — soltei o ar e inspirei devagar tentando controlar o que com certeza era uma contração. — Era pra ser surpresa o nome do bebê e eu ainda não tinha contado da casa pra Fernando. Idiotas!— Angel? Um nome bem diferente.— Isso não quer dizer Anjo em inglês? — Sara se divertia com a cena enquanto eu queria jogar um balde de água em cima dos dois crianções.— Sim e também é a junção mais bonita que achei com os nomes Ana e Miguel!— Helen filha! — os braços dele me envolveram no mesmo instante em um abraço caloroso, mas era a última coisa que eu precisava agora. — Quer matar esse velho do coração, não é mesmo? — ele já estava com os olhos úmidos.— Ana adoraria estar aqui, é uma forma de homenagear ela por todo o
O dia amanheceu com o sol característico, que eu estava começando a adorar, junto com a brisa suave e não deu outra, rapidamente combinamos o churrasco no jardim.Marcos e Emy tinham viajado em lua de mel, mas tínhamos arrumado outra pessoa para ficar na churrasqueira. Na verdade Miguel ia ajudar Fernando e garantir que nada saísse da cor de carvão, meu marido era bom na cozinha, já na grelha era um horror.— O bebê vai explodir sua barriga, tia Helen! — Fábio gritou paralisado encarando o movimento que Angel fazia na barriga deixando o pé marcado, o menino segurava a bola acima da cabeça com os olhinhos arregalados.— Ele está se espreguiçando. — Pedro chegou pegando o pequeno pelas pernas e o jogando sobre os ombros. — Como está hoje querida?— Bem. Não vejo a hora de ele nascer logo e ao mesmo tempo fico com medo quando penso. Faz sentido?— Amor, você deixou isso lá dentro. — Nando saiu de dentro de casa segurando nas mãos minha garrafa de água. — Viu minha bolsa de viagem preta?
Eu disse que queria que Angel esperasse até o casamento e agora torcia para que ele saísse logo, minhas costas e pés estavam pedindo por isso, e nem ia mencionar minha bexiga.— Está na hora de sair garotão, já tem passe livre. — murmurei acariciando a barriga que mais parecia uma bola de praia.— A mamãe não é a única ansiosa com sua chegada. — Fernando me pegou de surpresa entrando no quarto com uma bandeja cheia de comida. Eu podia me acostumar com isso novamente. — Não sabia se era uma boa perguntar, mas que seja. Já escolheu um nome?— Já. — sorri com sua cara incerta mudar para expectativa, os olhinhos brilhando com aquele sorriso doce se esgueirando pelo canto. Ele colocou a bandeja ao meu lado esperando que eu continuasse. — Mas é surpresa. Vai saber junto com todo mundo.— Você é malvada, doutora. Adora me enlouquecer. — antes que eu percebesse meu pé já estava em suas mãos. O aperto no peito do pé vindo na medida certa fez meus ombros relaxarem instantaneamente e um gemido d
Acordei com a sensação de ter dito um sonho maravilhoso com Fernando na noite passada, mas acordei com a cama vazia.Me virei no colchão aproveitando o sol da manhã que entrava pelas cortinas, mesmo que não me lembrasse de tê-las fechado na noite passada. Queria continuar ali deitada até que a inquisição, conhecida como Sara, entrasse agitada com o casamento, mas Angel decidiu ser mais rápido que ela reclamando de fome.Arrastei minha bunda até o banheiro e já estava pronta para me vestir e descer para o café quando encarei as marcas avermelhadas no meu pescoço.Que merda era aquela?— Amor? Trouxe comida. — a voz vinda do quarto me trouxe de volta a realidade. Fernando? Abri a porta com brusquidão para tirar a dúvida e o encarei ali.— Então não foi um sonho. — murmurei para mim mesma ainda chocada com sua presença.Distraído ele abria as janelas deixando a brisa gostosa da manhã invadir o quarto.— Que sonho? Vem comer, deve estar morrendo de fome. — ele me puxou pela mão e antes qu
Se não aceitasse seria uma longa noite sabendo que ele estava no quarto ao lado e eu não podia tocá-lo.Fernando apenas concordou com a cabeça antes de me acompanhar para dentro do seu antigo quarto. Parecia que tínhamos voltado no tempo, dois estranhos ali, ainda sim aquela ligação que eu não sabia explicar nos atraia.Era palpável a tensão no ar, todos os problemas ali nos forçando a manter a distância, enquanto nossos corpos pareciam gritar por algum contato.Eu o deixei sozinho com a desculpa de usar o banheiro e respirei fundo diante do espelho, eu precisava me acalmar. Respirei fundo antes de sair do banheiro, mas perdi toda a concentração quando o avistei deitado na cama usando apenas uma boxer preta.Ele queria ferrar com meu psicológico? Porque se fosse isso estava conseguindo.— Esperei que aqui fosse estar cheio de coisas. — Fernando murmurou, mas eu não dei muita atenção, estava ocupada em controlar meu corpo e não pular em cima dele.Eu tinha saído do banheiro decidindo s
Último capítulo