Os olhos dele encontraram os meus. Tão perto agora.
E havia algo neles. Dor. Desejo. Raiva.
Uma fome que ele parecia tentar sufocar a cada segundo.
— Você quer me odiar — sussurrei.
— Eu odeio você — ele respondeu, sem piscar. — E é por isso que ainda quero tanto.
O mundo parou. O som do mar desapareceu.
Só havia nós dois. E o que restou de nós.
Ele não me tocou além da pele que precisava de proteção. Mas tudo em seu toque era perigoso. E eu sabia que não era só ele lutando ali. Era eu também. Era o passado. Era o amor, o medo, e todos os pecados que cometemos.
Quando ele terminou, se afastou sem dizer mais nada. Voltou a colocar os óculos, como se fosse uma armadura. E antes de se afastar, disse apenas:
— Cuidado com o sol, Catarina. Ele queima sem avisar. E então se foi.
Me deixando com o cheiro dele, o gosto do quase, e o corpo em chamas.
*
A casa ainda cheirava a vinho e verniz fresco.
A noite tinha sido um sucesso. A exposição foi íntima, mas intensa — artistas, cura