Ele se afastou um pouco. Os olhos ardiam. A respiração estava pesada.
— Eu soube… — ele disse, quase num sussurro. — Eu soube que tinha matado tudo que a gente era.
— E mesmo assim voltou. Pra quê?
— Pra ver se ainda havia cinzas.
— E o que achou?
Ele me olhou como se quisesse me devorar.
— Cinzas não. Fogo.
Não houve beijo. Não houve toque além do necessário. Mas quando ele se afastou, deixando só o silêncio e o cheiro dele comigo…Eu sabia.
Nós ainda éramos um incêndio. Só estávamos fingindo que não ardiam.
*
Acordei com o barulho do vento. Um assovio leve, constante, que batia nas janelas do quarto como se quisesse me lembrar de que as horas estavam passando — e que eu ainda não tinha ideia do que fazer com tudo o que estava sentindo.
O céu estava cinza. Uma névoa úmida cobria a varanda da casa, e as folhas das palmeiras dançavam sob a brisa fria. Abracei os próprios braços por reflexo, sentindo o contraste do clima com o calor da noite passada. Eu não tinha dormido direi